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quarta-feira, 8 de abril de 2020

MARIA BONITA


Segundo o livro 1909/15 da paróquia de São João Batista de Jeremoabo, Maria Gomes de Oliveira, mais conhecida como Maria Bonita, nasceu no dia 17 de janeiro de 1910, no município hoje conhecido como Paulo Afonso, na Bahia. Mas, a partir da década de 1990, Maria Bonita passaria a ser lembrada todo dia 8 de março, quando se comemora o Dia Internacional da Mulher.
Ainda jovem, Maria se casou com o sapateiro Zé de Neném, mas ele era infiel, e Maria queria uma outra vida para ela. Quando Lampião ganhou fama, ela ansiava por encontrá-lo, o que realmente aconteceu, e eles começaram a namorar. Um ano após, aos 18 anos, ela foi embora com ele na garupa de um cavalo, e isso quebrou a tradição do cangaço e iniciou a fase em que os cangaceiros podiam levar suas mulheres junto.
A presença de mulheres tornou os bandos menos violentos, as ações passaram a ser mais seletivas e centradas na coleta de dinheiro. Nenhuma mulher podia entrar no bando sem já estar casada com um cangaceiro. Não era permitida traição, e se houvesse, a mulher era executada. Se o marido morresse, algumas viúvas foram mortas para não se tornarem um fardo para o grupo ou presas pela polícia. MARIA BONITA: SEXO, VIOLÊNCIA E MULHERES NO CANGAÇO é um compilado sobre como era a vida dos bandos, com destaque para dois casais: Maria Bonita e Lampião; Dadá e Corisco.
Os jornais de 1930, época maior das crueldades e ações espetaculares de Lampião, deram pouca importância para a esposa do cangaceiro. Maria Bonita começou a ganhar ares de mito depois de sua morte. Ao contrário de Dadá, esposa do cangaceiro Corisco, que morreria em 1994 e deixaria sua vida registrada em livros, filmes e entrevistas, a história de Maria Bonita é contada apenas pela palavra falada e passada.
Lampião abandonou os estudos aos 12 anos de idade para ser vaqueiro. Tornou-se conhecido por ser “amansador de cavalos e burros bravios” e pela familiaridade com os caminhos da região. Embora de pouco estudo, era exímio estrategista. Segundo ele próprio, entrou no cangaço em 1917 para vingar o pai, José, Ferreira, assassinado na cidade de Água Branca, Alagoas. O crime tinha sido encomendado pelas famílias Nogueira e Saturnino, do município pernambucano de Vila Bela, sua terra natal. Mas há contradições nessa versão, uma vez que seu pai faleceu em 1921 em decorrência de atividade criminosa. Ele estava escondido em uma fazenda, quando a esposa, dona Maria, faleceu vítima de infarto. Logo em seguida, José foi cercado pela polícia e fuzilado a queima-roupa.
As mulheres da época eram tratadas com violência, vítimas de estupro e mortes bárbaras. Entretanto, Maria era tratada com carinho e respeito por Lampião. Dadá, a esposa de Corisco, e Maria Bonita, não se davam.Dadá dizia que Maria era uma mulher muito chata. Considerava-a abusada, ranzinza, orgulhosa, metida a besta e barulhenta. Maria estava sempre ornada com algumas das melhores jóias que já tinham circulado pelo sertão. Ao contrário de Maria, Dadá não morreu quando o bando foi capturado, mas presa. Após cumprir sua pena, ela ficou conhecida por algumas músicas que gravou, além dos livros e filmes.
A obra relata de forma direta e sem qualquer censura, o que essas pessoas passavam, como elas deviam pensar, e os atos que praticavam. Principalmente como era a vida das mulheres e como a valentia destas mudou o cangaço. Algumas partes são terríveis, reviram o estômago. Como o fato de que elas ficavam grávidas com frequência, porque não usavam métodos contraceptivos e precisavam ficar disponíveis para seus homens. Assim que os filhos nasciam, eles eram dados a fazendeiros ou casais em cidades por onde os bandos passavam.
Em vida, Maria nunca foi conhecida como Maria Bonita, mas apenas como Maria de Déa, uma jovem de 28 anos que teve a cabeça decepada em 28 de julho de 1938 e que morreu sem saber que seria tão famosa como é hoje. Quando Maria Gomes de Oliveira morreu, nasceu Maria Bonita.
MARIA BONITA: SEXO, VIOLÊNCIA E MULHERES NO CANGAÇO é uma obra importante para se compreender, sem qualquer romantismo, a selvageria do ser humano quando em um ambiente tão cruel quanto ele próprio. Não há limites, apenas o instinto animal de sobrevivência e liderança. A edição traz algumas fotos da época, o que a torna ainda mais interessante.
AVALIAÇÃO: 
AUTORA: Adriana NEGREIROS
EDITORA: Objetiva
PUBLICAÇÃO: 2018
PÁGINAS: 296

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