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domingo, 24 de maio de 2020

A EFICÁCIA DO MÉTODO DO ESTILISTA


Por Verluce Ferraz

Para não ser apanhado pelas Volantes, Lampião criava seus próprios métodos, ora sendo caçador era incansável senhor do sertão, empreendendo longas viagens no lombo dos cavalos; enganava a todos que por suas pegadas procuravam nas pedras, nos matos quebrados e até nas fisionomias dos coiteiros. 


Por onde passava ia deixando nuvens de fumaça, removendo restos de comidas, atravessava um pau nas bocas dos cachorros para os mesmos não latirem, tudo com bons resultados. Outras, não relutava, e no mesmo atropelo, se desfazia dos problemas ou sentimentos continuando o seu passeio, aproveitando as oportunidades para dar expansão aos seus instintos sádicos. Seus dons de estilista eram mostrados nas roupas, nas alpargatas, nas armas e no chapéu de abas quebradas para cima, moedas e estrelas eram pregadas. Exibia nos dedos, os anéis; no pescoço os trancelins de ouro, tudo roubado. 


Os lenços usados no pescoço, em substituição as gravatas presas com argolas; as vestes e bornais eram bordados com sutache e sianinhas. O sonho do cangaceiro era ser Governador do Sertão, para comandar o seu Estado, depois de dividir o Nordeste. A farda de capitão, que recebera de Floro Bartolomeu, era oficial das Forças Volantes, com todas insígnias dos militares de carreira, afinal, provocar era ‘uma singularidade no cangaceiro, que se intitulara de Capitão do Sertão’. Recuperava facilmente objetos perdidos, confeccionava ele mesmo, os seus adornos, se fazia hóspede de comerciantes e fazendeiros, sem oferecer rosas nem amabilidade, apenas expondo suas armas e o seu silêncio, quem explodia eram as armas. Todos os seus cangaceiros tinham a marca dele, do visual até as atitudes, compartilhavam todos dos sentimentos anti-sociais que regulavam o cangaço lampiônico. 


Lampião refugiava-se ao reino do próprio delírio, como alguém já disse ‘hei de vingar’ ele nunca interrompeu o desejo de matar; impossível aplacar seu desejo e assim usa o nome do pai, insistindo que todos os por ele assassinados eram era a representação do pai; acabando por matar inúmeras pessoas, como se isso lhe restituísse a dignidade. 


Verificamos que isso desce a um nível mais profundo, ao constatarmos que tudo vem de uma relação infantil, só explicada pelo desejo de matar o próprio pai, seu único rival. Considera-se que o seu modo pessoal renasce de sua física aparência e estereótipo compartilhados com o desejo esquecido na infância de fazer renda. 


Está na infância a fonte de suas fantasias, por isso é que usará tempos depois, todo seu acervo de impressões infantis. O desenvolvimento de seus desejos será revelado subsequentemente, pelo uso de apetrechos e nos crimes perpretados pelo cangaceiro, porque jamais morreu a sua relação infantil e ainda continuará nele atuantes.



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