Por Honório de Medeiros
Honório de Medeiros,
ao lado de Carlos Santos, Vilela e Lívio Ferraz em noite de Cariri Cangaço
Ricardo Ramos ao
ouvir seu pai contar acerca de quando Palmeira dos Índios se armara para
enfrentar Lampião, ficara fascinado:“Passara a meninice acalentado pelas
estropolias dos cangaceiros, da polícia volante, duas pestes que nos
assolavam.” “E (lhe) contei de uma noite, após a ceia, em que, atraído por
foguetes, sai à calçada e vi os caminhões, as cabeças cortadas, espetadas em
estacas, de Lampião, Maria Bonita e mais dez outros, os soldados empunhando
archotes, gritando vitoriosos, um cortejo macabro pelas ruas de Maceió”.
Graciliano Ramos por william.com.br
Graciliano lhe
diz:- Eu escrevi sobre isso”.“Não havia lido, era pequeno e estava fora do Rio.
Bem depois, ao se reunirem as crônicas de Viventes das Alagoas (título
sugerido por Jorge Amado), afinal encontrei “Cabeças”. Ou reencontrei minha
antiga visão, bárbara, mas transporta no sarcástico perfil do tenente Bezerra,
que se reformou coronel, o falante matador de Lampião, versado em frases
feitas, sua retórica elementar de glorificado primário.”
“Havia mais,
bem mais. O Fator Econômico no cangaço, crônica da propriedade que se
mantém e cresce pela força, com pequenos exércitos de senhores rurais,
sedentários, enquanto os cangaceiros se distinguem dos outros facínoras apenas
por serem nômades, no regime de produção agrícola da caatinga.”
Honório de
Medeiros, ao lado de Carlos Santos, Vilela e Lívio Ferraz em noite de Cariri
Cangaço
"Corisco, uma
crônica do diabo louro, seu conterrâneo de Viçosa, filho de decadente família
de donos de engenho, forçado a decair, enlouquecido, o pequeno monstro baleado
e decapitado, morto quase inédito porque havia a guerra na Europa, tantos
crimes. Dois Cangaços, a crônica dos matutos indefesos diante de dois
poderes, a volante e o cangaceiro, a primeira muitas vezes obrigando-os à
segunda opção, ou o seu reverso, em todo o caso forçando-os a escolher, pela
imposição sócia, ou pior ainda, pela econômica.”“E Lampião e Virgulino,
que buscam o perfil. Necessariamente fincado no agreste.”
"Graciliano
nunca idealizou Lampião. Desde 1926, ao escrever do assédio a Palmeira dos
Índios, sem mencionar a sua participação pessoal. Chama-o ‘bicho montado’,
‘horrível’, ‘sanguinário’, diz dele o animal ‘cruel’, que ‘queima fazendas’,
capaz ‘de violar mulheres na presença de maridos amarrados’, e ‘se conservara
ruim, porque precisa conservar vivo o sentimento de terror que inspira’, enfim
‘vemos perfeitamente que o salteador cafuzo é um herói de arribação bastante
chinfrim".
"Por
outro lado, não desconhecem a sua projeção lendária. ‘Lampião nasceu há muitos
anos, em todos os estados do Nordeste’. E se refere à nossa tradição
bandoleira, do remoto Jesuíno Brilhante ao envelhecido Antônio Silvino, para
concluir: ‘Resta-nos Lampião, que viverá longos anos e provavelmente vai ficar
pior. De quando em quando, noticia-se a morte dele com espalhafato. Como se se
noticiasse a morte da seca e da mséria. Ingenuidade."
Obra citada:
“Graciliano RETRATO FRAGMENTADO”; RAMOS, Ricardo; Globo; 2ª edição; 2011; São
Paulo.
Honório de
Medeiros
Sócio da SBEC
- Conselheiro Cariri Cangaço
www.honoriodemedeiros.blogspot.com
http://blogdomendesemendes.blogspot.com
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