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terça-feira, 19 de setembro de 2023

MANOEL VITÓRIO E O FILHO BENJAMIM FORAM CASTIGADOS PELOS CANGACEIROS ZÉ FORTALEZA, SUSPEITA, MEDALHA E LIMOEIRO

 Por José Mendes Pereira - (Crônica 46)


O escritor Alcino Alves Costa escreveu em seu livro “Lampião Além da Versão Mentiras e Mistérios de Angico” que Manoel Vitório dos Santos era proprietário da Fazenda Cassussu, e era casado com uma moça do ribeirinho do Bom Sucesso. O casal construiu numerosa prole, Temistocles (popularmente chamado de Temisto das Queimadas), sendo este famoso coiteiro de Lampião, Benjamim, Geminiano, Alice, Porcina, Bela, Júlia e mais dois filhos, uma menina e um menino. Os dois últimos eram filhos de Manoel Vitório com Maria das Virgens, que era a esposa de um senhor chamado Cante e, sendo esta, mãe do cangaceiro Canário.

Em fins de 1934, o cangaceiro Zé Fortaleza que já era chefe de um bando de cangaceiros, ficou arranchado juntamente com os seus comandados aos arredores da fazenda Cassussu, e lá, uma rês foi morta. Como precisavam cozinhar a carne, alguns cangaceiros foram até a pequena fazenda pedir uma panela emprestada. Com desejos de agradar aqueles delinquentes, o próprio Manoel Vitório foi até ao coito deixar a panela. Mas o catingueiro não sabia que aquele gesto de humildade, iria trazer problemas terríveis e cruéis, tanto para ele, como para sua generosa e amada família.

Ao chegar, entregou a panela e animadamente conversou com os bandoleiros sem temer nada. Recebeu um agrado (gorjeta), e por Zé Fortaleza, foi advertido que, não espalhasse na região que eles estavam ali, arranchados.

Elesbão que era filho de Maria das Virgens com o seu pai Manoel Vitório, estava passando uns dias com os seus irmãos, filhos da moça de Ribeirinho de Bom Sucesso, vendo os cangaceiros na casa do pai, ao retornar para Poço Redondo, contou o que viu, isto é, a presença dos cangaceiros na fazenda Cassussu do seu pai. E logo, a notícia se espalhou, e a partir daí, a desgraça estava preste a acontecer.

Os desocupados fuxiqueiros que não faltam em uma comunidade qualquer, correram e foram contar a Zé Fortaleza o que estava se passando. Raivoso, o facínora põe toda culpa em cima do fazendeiro Manoel Vitório, e com desejo de vingança, disse que o Manoel Vitório iria ter o seu castigo, pela sua fraqueza de ter espalhado a sua presença com os seus comandados aos arredores da sua fazenda.

Como o sertão nordestino estava em dificuldade, devido à grande seca que assolava aquelas regiões, Geminiano foi morar no Estado de Alagoas, e lá, arrumou um pequeno trabalho numa fazenda chamada de “Soledade”, de um senhor chamado Neco Brito. E como as dificuldades continuam lá na Fazenda Cassussu, Geminiano levou o seu irmão Benjamim para sua companhia, e arranjou um trabalho para ele, numa fazenda de nome “Horizonte”, que ficava perto de onde ele morava. Benjamim havia se casado com uma moça de nome Mila, uma das filhas do renomado alagoano Joãozinho Correia.

No ano de 1935, o inferno foi muito bom em toda região nordestina, farturas e mais farturas estavam nas mesas dos camponeses. O mês de junho, o mês das festividades juninas, e Geminiano convidou o seu pai Manoel Vitório para passear pelas aquelas belas terras alagoanas, que tão bem havia o acolhido e o seu irmão Benjamim.

Uns quinze dias das festas de São João, seu Vitório chegou à fazenda “Soledade”, O baile, as fogueiras e os fogos foram na Fazenda “Mata Grande”, de um senhor chamado Pedro Cadeira, um dos seus parentes alagoanos. Os dias se aproximavam para os festejos, e seu Vitório nem se lembrava, que os festejos seriam no dia seguinte.

Geminiano conversava com o pai e o avisou que as festividades juninas seriam no dia seguinte:

- Papai, amanhã nós vamos para a Mata Comprida. Vamos para o São João de lá.

O velho põe-se a pensar nas festividades de Poço Redondo, e sem querer ir para as festividades de Mata Comprida, de imediato disse para o filho Geminiano:

- Vá, meu filho, vá! Pode ir! Meu filho, que eu cuido dos afazeres da fazenda. - Garantiu ele ao filho.

O velho ficou sozinho. Bem perto da Fazenda em que ele estava, trabalhava o seu filho Benjamim, na Fazenda “Horizonte”. A sua esposa tinha ido às festividades, mas ele permaneceu em casa, na propriedade, junto com um dos seus amigos, um senhor de nome Pedro Serafim.

Nesse dia, era um domingo. Na “Soledade”, Manoel Vitório foi cuidar de apartar os bezerros. A noite chegou e o velho foi para o telhado cuidar de lavar os pés. Depois, cuidou de um café, assou carne de bode, e ali mesmo comeu misturada com farinha, e de costume, procurou dormir.

Por volta da meia noite, deste domingo, o visitante da Fazenda “Soledade”, o seu Manoel Vitório, foi convidado para abrir a porta. Mesmo não sendo daquelas terras, abriu-a sem nenhum receio, e viu de cara os velhos cangaceiros Zé Fortaleza, Limoeiro, Suspeita e Medalha.

O chefe do grupo, o Zé Fortaleza, que não tinha a mínima ideia aonde estava morando Manoel Vitório, e o reconhecendo, mas mesmo assim, lhe faz uma pergunta:

- O senhor é o Manoel Vitório, lá da Fazenda Cassussu?

Manoel Vitório não temendo nada, respondeu-lhe:

- Sim senhor, sou eu mesmo o Manoel Vitório!

- Que bom! Fazia um bom tempo que nós estávamos a sua procura. No seu rasto. Você sabe aonde fica o Caboclo?

- Não num sei não. Eu sou lá das terras de Sergipe, e por aqui eu não conheço nada não senhor!

Zé Fortaleza que estava querendo vingar aquele boato que saiu, que eles estavam acoitados próximo à sua Fazenda Cassussu, perguntou-lhe:

- Você está lembrado quando nós fizemos coito perto da sua fazenda, e lhe pedimos uma panela emprestada, e você espalhou a notícia onde a gente es, e se esqueceu que eu lhe pedi que não dissesse nada a ninguém?

- Seu Zé Fortaleza, o senhor pode acreditar que eu não falei nada a ninguém! – Respondeu o Manoel Vitório.

- E quem contou?

- Deve ter sido o meu filho Elesbão. Eu me recordo que naquele mesmo dia ele foi pra Poço Redondo. – Responde o sertanejo com desespero.

O Manoel Vitório mais ou menos já estava sabendo o que iria acontecer com ele, vez que marginal, principalmente cangaceiro, não perdoa nada a ninguém.

Apoderado de ódio, o Zé Fortaleza perde o seu controle emocional, dizendo-lhe:

-Está  conversando, velho safado! Só porque se complicou, agora está querendo colocar o rabo de fora, e com isso, acusa o seu filho, hein?!

E em seguida, ordena a um dos seus comandados:

- Medalha, amarre esse miserável traidor!

Agora o velho sertanejo está amarrado, e irá passar por coisas que, até o momento, não tinha acontecido com ele.

Os facínoras o levaram até a fazenda onde o seu filho Beijo (Benjamim) trabalhava. Beijo é um rapaz fortíssimo e destemido. Como a sua esposa Mila tinha ido para as festas juninas, e ele estava acompanhado do amigo Pedro Serafim, Beijo está dormindo na sala, sobre um banco, apoderado de um travesseiro, o chapéu e uma faca peixeira, esta, iria ser o instrumento de sua desventura.

Os bandidos estão ali, e logo um bate em sua porta, fazendo acordar os moradores. O primeiro a atender é o Pedro Serafim, e sem ter como reagir, o alagoano ficou totalmente dominado por dois cangaceiros, Limoeiro e Suspeita. Os outros dois, o Zé Fortaleza e Medalha tomaram de conta da casa, invadindo-a.

Despreocupadamente, ou possivelmente ainda não havia percebido o que ganhara naquele momento, Beijo continuava deitado sobre o banco. Medalha vai e por uma das pernas o fez cair do banco. Os facínoras não esperavam a reação do Beijo, que era dono de muita força física, sem medo, o enfrentou, e o Medalha é dominado.

O cangaceiro Zé Fortaleza que acompanhava a luta do Beijo e do Medalha, resolveu ajudar o seu companheiro. Vendo a faca do Beijo no chão, apanhou-a, e aproximou-se dos dois lutadores, e cortou os órgãos genitais do pobre Beijo. Feito esta castração, Beijo deu um enorme grito, e em seguida, ficou totalmente desacordado.

O pai o Manoel Vitório continuou amarrado, e nada pode fazer em favor do filho. E acreditava que ele está sendo judiado, sangrado pelas mãos dos perversos, mas sem nunca imaginar, que o filho tinha sido castrado.
Desesperado, fez pedido aos que se diziam justiceiros:

- Pelo amor de Deus, num mate meu minino! Eli é um inocente! Num fez nada! Deixi meu minino viver!...

O companheiro de Beijo o Pedro Serafim que estava na sua companhia não sofreu nada, e o Beijo estava estirado como morto. O Manoel Vitório estava enlouquecido, urrando como uma rês. A dor que sentia o Manoel Vitório era maior do que a dor que sentia o seu filho.

O Manoel Vitório iria pagar pelo o que não fez. Os cangaceiros acreditavam que foi ele quem espalhou o boato, que eles estavam acoitados lá nas terras de Cassussu.

Zé Fortaleza estava escalado para eliminá-lo deste planeta, e sem nenhuma piedade, misericórdia ou outra coisa semelhante, com a mesma faca que castrara Beijo desferiu 13 facadas, e um tiro no infeliz sertanejo das terras de Poço Redondo. Feito a vingança, a malta saiu da fazenda “Soledade”, e foi embora, feliz por ter justiçado um homem injustamente.

Pela manhã, a triste notícia tomou rumo a todos os lugares do sertão alagoano. Geminiano levou os amigos e transportaram o Beijo para cidade de Pão de Açúcar, para os devidos procedimentos médicos.

Infelizmente, Beijo ficou sexualmente inutilizado, mas tinha em casa, a Mila, uma senhora honrada, e que nunca desrespeitou o seu nome e nem manchou o nome do marido; cuidava dele com carinho e muito amor. Beijo e Mila só se separaram quando a morte os levou para seu mundo desconhecido.

Depois das perversidades feitas pelos 4 cangaceiros, Zé Fortaleza, Limoeiro, Medalha e Suspeita não sabiam que o destino iria lhes cobrar o que fizera com aqueles pobres inocentes. Ao chegarem ao município de Mata Grande, encontraram a morte juntamente com o civil Félix Alves.


Fonte de Pesquisas

Livro: "Lampião Além da Versão Mentiras e Mistérios de Angico
Páginas: 205, 206, 207 e 208
Edição: 3ª.

Autor: Alcino Alves Costa - O Caipira de Poço Redondo

http://blogdomendesemendes.blogspot.com

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