Por José Mendes Pereira
- Compadre
Galdino, a sua novilha já pariu? – perguntou seu Leodoro sentado sobre uma
cocheira no estábulo, enquanto fabricava um cigarro de fumo bravo.
- Ainda não,
compadre. Ainda não. E eu não estou querendo soltá-la no pasto, quero acompanhar o seu parto de perto. E eu tenho medo que as onças comam o
bezerro quando nascer. Ela está com um úbere que faz gosto de ver. E me parece
que vai ser uma boa vaca leiteira.
- Foi à caça
hoje, compadre Galdino?
- Fui. Mas não
foi totalmente uma caça. Apenas eu sabia onde tinha uma colmeia de abelhas
italianas, e como aqui em casa já estava quase sem mel, eu fui obrigado a ir
tirá-la.
- Onde foi que
o senhor encontrou esta colmeia?
- No Riacho do
Pai Antonio – dizia seu Galdino apontando a direção.
- A colmeia
estava gorda, compadre Galdino?
- Não tão
gorda assim, pois eu esperava mais... Mas ainda me rendeu uma lata de mel,
aliás, mel e cera.
- É, compadre,
nesse período elas não estão tão gordas. Só quando chegar a primavera, período
das flores e dos frutos.
- Mas compadre
Leodoro, eu acho que Deus sempre me acompanha em minhas andanças.
- Sim senhor!
– fez seu Leodoro.
- Assim que
terminei o trabalho, isto é, da tirada do mel, eu não quis mais demorar pelas
caatingas. Lá no Riacho do Pai Antonio, o senhor conhece muito bem aquele
baixio..., eu estava na barreira, na parte alta, pelo lado de lá, tentando
adquirir fôlego para enfrentar a viagem para casa. Fiz um cigarro, e quando o
levei à boca para acendê-lo, fui surpreendido por uma onça vermelha.
- Uma onça
vermelha, compadre, nessa mata?! – atalhou seu Leodoro se admirando.
- Sim senhor!
Ela estava trepada em uma árvore, e se eu não tivesse levantado a vista, ela
tinha me pegado e me estraçalhado de uma só abocanhada. Ela estava bem pertinho
de mim, com os olhos aboticados me observando. De arma, eu só tinha meu facão.
Tomei posição para enfrentá-la, mas tive medo, ela poderia tomar da
minha mão o facão só com uma tapa. Mas veja o que passou por cima de mim...
- O que,
compadre, passou diante do senhor? - interrompei Leodoro.
- Uma macaca,
compadre. Uma macaca prego com um filhote sobre às costas. Ela vinha
dependurada em um cipó. E quando se aproximou de mim, soltou o cipó, e com o
impulso do seu próprio corpo, caiu do outro lado do riacho. Mas antes de soltar
o cipó, eu ouvi uma voz que dizia assim: "- Salve-se, seu Galdino!
Salve-se! Dependura-se no cipó e passe para o outro lado do córrego, se não a
onça te come!"
- A macaca
falou, compadre? – Quis duvidar seu Leodoro.
- Se não foi
ela compadre, foi Deus! E eu que não sou besta, agarrei o cipó e me mandei
dependurado nele, e só o soltei quando eu já estava do lado de cá com os pés em
terra firme.
- Já vi,
compadre Galdino, o senhor tem razão em dizer que Deus lhe protege. Acontecer
desta macaca passar dependurada no cipó, e soltá-lo para o senhor se salvar das
garras da onça. Só pode ser milagre. Não é isso mesmo, compadre?
- E a pois,
compadre! – confirmou seu Galdino se gabando.
- Nesse
momento que o senhor passou pro outro lado do riacho, perdeu o mel, mas ganhou
a vida. - quis saber seu Leodoro,
- Quem lhe
disse que eu perdi o mel, compadre Leodoro?
- O senhor
voltou pro outro lado do riacho para apanhar o mel, diante da onça, que com
certeza, ainda estava lá?
- Não senhor!
O cipó que a macaca havia deixado para eu passar dependurado nele, pro outro
lado do córrego, tinha um gancho no final da ponta dele, e no momento em que eu
o agarrei, passei sobre a lata do mel, o gancho enganchou no arame da lata, e
se mandamos nós dois juntos, isto é, eu e a lata do mel.
- O senhor é
guiado por Deus mesmo! Ah, se eu tivesse essa mesma sorte que o senhor tem,
compadre Galdino!
- Graças ao
meu bom Deus, compadre Leodoro! Se não fosse aquela macaca de aparecer
naquele momento, hoje eu seria um finado naquelas matas do Pai Antonio! Sim,
senhor!!!
- Vou embora,
compadre Galdino. A Gertrudes é muito medrosa e está só..., até mais tarde,
compadre!
- Até,
compadre Leodoro! Vai-te corno! Dizia seu Galdino consigo mesmo. A Gertrudes não tem medo de onça. Ela tem medo é de você, sua peste. Um homem ignorante que
nem falar sabe direito!
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