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quarta-feira, 14 de setembro de 2011

A HISTÓRIA DE ROSINHA - Por: Manoel Belarmino

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(A cangaceira de Poço Redondo)

Autor: Manoel Belarmino

No tempo que Lampião

Por este sertão andou,

No chão de Poço Redondo
Ele aqui também chegou.
A moçada sertaneja
No cangaço ingressou.

Lampião e seus cangaceiros
Encantaram Rosinha.
Na região do Maranduba
Era a mais bela mocinha,
Todo mundo admirava
A beleza que ela tinha.

No Sítio e no Maranduba
As mocinhas se criaram.
Rosinha e Adelaide,

As filhas de Lé Soares,

Sob as lides das caatingas,
Lindas moças se formaram.

As filhas de Lé Soares,
Adelaide e também Rosinha,
Deixaram Poço Redondo,
Deixando tudo o que tinha
Pra viverem no Cangaço.
Mudou a vida da mocinha.
    
Lé Soares, o vaqueiro,
Caboclo das caatingueiras,
Perito e rastejador
Nunca perdeu as carreiras
Luis e Josias Soares,
Mestres das vidas vaqueiras.

Os dois irmãos de Lé,
Peritos e bons vaqueiros,
Formavam um belo trio,
Nos rincões caatingueiros.
Nunca viram a violência
Até chegar cangaceiros.

Adelaide e Rosinha
Entraram para o Cangaço
Enchendo a vida de Lé
De problema e embaraço
Via toda a sua família
Sem chão e sem espaço.

Nas mocinhas do sertão
O cangaço despertou
Admiração e confiança
Ou nova moda que chegou.
A moçada das caatingas
No cangaço se integrou.

O cangaceiro Mariano,
Rosinha acompanhou
E a outra filha de Lé
Com Criança se casou.
Na familia de Lé Soares
Nenhuma moca ficou.

“Seu” Lé fica triste, triste,
Vai morar nas Capoeiras,
Lugar na beira do rio.
Vivendo noutras ribeiras
Tinha medo das volantes...
Tinha filhas cangaceiras.

Adelaide ficou gravida
E de parto foi morrer,
Deixando a família Soares
Num grande e triste sofrer.
Seu Lé e sua família
Não sabia como viver.

Os dias passam, se vão...
E continua a tristeza
Na família dos Soares.
Castigo da natureza?
Nunca se viu tanta dor
Pra quem só teve grandeza.

“Não há mais sossego aqui
Não há mais sossego, não...”
Volantes e cangaceiros
Tiram a paz deste chão.
O terror, o medo, a dor...
Se espalham no sertão.

A noticia se espalhou.
O Mariano morreu
Num combate c’a volante...
Mas o que aconteceu...
Com a filha dos Soares?
Será que também morreu?

No tiroteio merreram
Mariano e seu Pavão,
O cangaceiro Pai Veio
E o coiteiro João do Pão.
Mariano foi baleado
Na perna e também na mão.

Rosinha estava presente
Na hora do tiroteio.
Rosinha estava grávida
Nos tiros tava no meio,
Vendo o marido ferido
Pois o desespero veio.
  
Aí Rosinha fica viúva
E o cangaço quer deixar
Mas como em toda guerrilha
Não é fácil se afastar.
Mas Rosinha resolveu
A família visitar.

Foi pedir a Lampião
Por uns dias a saída
Para ir nas Capoeiras
E ver como estava a vida
De seus irmãos e parentes
E de sua mãe querida.

Depois de tanto pedir,
Lampião autorizou
Que Rosinha viajasse.
E logo ela viajou.
Foi logo pras Capoeiras
Pra onde a família mudou.

A viuva de Mariano
Já queria desistir
Da vida de cangaceira,
E outra vida seguir.
Queria ficar em sua casa
Pra melhor se sentir.
  
Mas a vida no cangaço
Não era tão fácil, não.
Para sair ou desertar – se
Não tinha autorização.

O castigo seria a morte

Por que era traição.

Rosinha chegou em casa,
Não queria mais voltar,
No aconchego de seus pais
Todo mundo a lhe agradar,
Mas o bando de Lampião
Ansioso a lhe esperar.

Lampião já desconfia
Que Rosinha, a cangaceira,
Já não mais quer retornar
Para a vida bandoleira
E ficar com os seus pais
Na fazenda Capoeira.

Era um risco para o bando.

Rosinha poderia ser

Forçada pelos soldados.
E o pior: poder dizer
Onde estava Lampião
E o pior acontecer.
  
Lampião se aborreceu

Não quis mais esperar

A vinda da cangaceira
Tinha que mandar buscar
A cangaceira Rosinha
Para o bando se juntar.

Lampião tava nos Caibreiros
Já há dias acoitado,
Mas por causa de Rosinha
Foi preciso ter cuidado.
Foi para o Poço dos Porcos
Sem muito ter avisado.

A decisão foi tomada,
E a todo o bando informada.
Que a cangaceira Rosinha
Tinha que ser condenada.
Pois não era mais possível
Manter ela desertada.

O Messias de Caduda
Foi quem teve a tal missão

De chamar a cangaceira

A mando de Lampião

Pra retornar para bando
Nas caatigas do sertão.
  
A mocinha dos Soares
Saiu muito angustiada
Seguindo Messias Caduda
Pra onde tava a cabroada
Deixando a sua família
Muito triste e preocupada.

Quando chegou na barraca
Havia uma certa tensão

Os cangaceiros já tinham

Tomado uma decisão.
Rosinha seria morta
Por ordem de Lampião.

Rosinha não esperava
Que morta poderia ser
Pois sonhava e queria
Noutra vida ir viver
E jamais imaginava
Que poderia morrer.

Zé Sereno e Juriti,
O Vila Nova e Balão,
São escolhidos pra o feito,
A tão macabra missão,
Executar a Rosinha
Por ordem de Lampião.
  
Por uma estrada deserta
Rosinha assim foi levada,
Conduzida para a morte,
E já estava condenada,
Nas estrada dos Paus Pretos
Ali foi assassinada.

Com um tiro de mauser
Rosinha caiu no chão,
Já estava ali morta
Por ordem de Lampião,
Zé Sereno cruelmente
Cumpre a sua missão.

Morreu ali nas caatingas
Seu corpo ficou jogado
Lá nas Pias das Panelas
Onde foi, então, encontrado.
Pelos seus familiares
Seu corpo foi sepultado.

Meus leitores, eu aqui,
Aqui eu quis registrar,
Nas rimas de um cordel,
O que sempre ouvi contar,
Em versos metrificados
Levemente eu quis rimar.


EXTRAÍDO DO BLOG "UM POÇO DE NOTÍCIAS"


Um comentário:

  1. Manoel Belarmino09:40:00

    Obrigado por divulgar o cordel deste humilde poeta das caatingas de Poço Redondo. Obrigado mesmo, de coração.

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