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segunda-feira, 29 de outubro de 2012

A cobertura do jornal O Mossoroense durante a invasão do bando de Lampião à cidade de Mossoró

Jornal "O Mossoroense" - Especial - 17 de Outubro de 2012
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“A nossa pena de jornalista treme, ao fazermos divulgar na presente notícia, os dias de horror, infortúnio e apreensões de que foi teatro Mossoró, por ocasião da incursão do famigerado grupo sinistro capitaneado pela mais audaz e miserável de todos os bandidos que tem infestado o Nordeste brasileiro e o pacato território do Rio Grande do Norte, Virgulino Lampião, esta majestade do crime  e do terror, alma diabólica de pervertido tarado cujo rastilho de misérias vem desassombradamente espalhando em todos os recantos onde passa com o seu cortejo macabro e facinoroso.  

Assim, logo às primeiras horas de domingo último, 12 de Junho, correu célebre por toda a nossa cidade, a notícia alarmante de que o grupo famanaz desses hunos da nova espécie tentara atacar e saquear a vizinha cidade do Apodi, tendo sido obrigado a recuar em vista da resistência heroica que encontroaram por parte dos habitantes da pequena cidade, e que desesperado por este fracasso, rumara o mesmo para a povoação de São Sebastião, deste município, e dali viria a Mossoró com o intento  de locupletar as algibeiras do sinistro chefe – Lampião, em seguida incendiado a cidade, prosseguindo, então, vitorioso, a trajetória infame do seu traçado hediondo  de toda a sorte de crimes” Foram essas  as primeiras palavras publicadas pelo jornal O Mossoroense após a invasão do bando do cangaceiro Lampião a Mossoró, em 13 de Junho de 1927.

A edição de 19 de de Junho, documento histórico que comprova o fato até hoje questionado por parte da população, relata com riqueza de detalhes  todas as etapas do ataque, caracterizado como a única derrota do bando, repercutido nacionalmente naquele período, e lembrado até hoje como um dos principais feitos do povo mossoroense.

As primeiras notícias relacionadas ao ataque de cangaceiros à região datam de 15 de maio de 1927. Nessa data, o jornal publicou que da noite do dia 10 para o dia 11 de maio, a cidade de Apodi havia sido assaltada, por um grupo de aproximadamente 17 cangaceiros. Na edição seguinte, em 22 de Maio, na seção “Telegramas”, é destaque que o bandido Lampião estava internado com o seu grupo no Estado do Ceará.

O ataque

Em um dos trechos da edição de 19 de Junho, o jornal noticia como o combate ocorreu. 

Leia a seguir a transcrição da notícia:

“O famigerado bando não nos encontrou desprevenidos... Sabendo dos nossos hábitos pacíficos, desse vagarosamente e ao meio dia de 13 começa a ser avistado. A uma légua desta cidade, manda uma intimativa ao Cel. Rodolfo Fernandes, para que lhe envie 400 contos de réis, sob pena de nos invadir. 

Cel Rodolfo Fernandes - Prefeito de Mossoró na época da invasão de Lampião

A tal ultimatum, respondido negativamente, segue-se outro que não teve melhor sorte, e o celerado e seus adeptos entram em contato conosco, pouco antes das 16h. Divididos, aparecem em diversos pontos. O sino da matriz repica, alertando o posto da torre que se prepara para a luta. Ao troar dos fuzis, casa-se ribombo do trovão, pois que pouco antes começara a chover. Se o céu nos mandava lágrimas, também saudava, abafando o som dos disparos. Era comovente o espetáculo. Investem os bandidos as primeiras trincheiras, ladeiam, cortam caminho, surgem ao lado da 

http://telescope.zip.net

Estação da Estrada de Ferro, onde entram no prédio da União de Artistas e se entrincheiram; aparecem a margem direita do rio, defendida pela trincheira da barragem; o Telegrafo Nacional, ao lado da matriz., acha-se também defendido. Onde chegam, aí está o fogo.

Catedral de Santa Luzia e o Zepelim sobrevoando Mossoró-RN

...As torres da Matriz e da capela de São Vicente, as trincheiras atacadas diretamente, as de retaguarda, mantém nutrido tiroteio. 

Igreja de São Vicente em Mossoró-RN

Os bandidos recuam, voltam a carga e repelidos novamente se retiram para o seu acampamento, deixando o bandido Colchete e vários feridos. De nossa parte, nenhuma morte nem ferimento se verificou.”

Matéria extraída do jornal "O Mossoroense" - do acervo de Kydelmir Dantas

http://blogdomendesemendes.blogspot.com

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