Créditos: Rostand Medeiros
Fonte:
http://www.jb.com.br/ciencia-etecnologia/noticias/2012/12/22/de-novo-o-mundo-nao-acabou-mas-ate-quando/
O dia 21 de
dezembro passou, e você está sentado na cadeira lendo este texto. Ou seja, o
mundo não acabou. Mesmo os mais céticos, que não acreditavam que o planeta
seria destruído nessa data, provavelmente passaram a fatídica sexta-feira com
os olhos e ouvidos mais apurados. Em segredo, ficaram atentos a ruídos que
poderiam anunciar uma chuva de meteoros, um planeta em rota de colisão com a
Terra ou um tsunami. Prestaram atenção aos mínimos tremores: “Não, não é um
terremoto – apenas o celular vibrando”. Olhavam furtivamente para o céu. Claro
que nada além do normal aconteceu, como especialistas já previam.
Pirâmide
Kukulkan, em Chichen Itza, no México
De qualquer
maneira, o alarde provocado por interpretações apocalípticas do calendário maia
causaram angústia em muita gente que não gostaria de ver encerrada tão
repentinamente a vida terrestre. Por ora, você pode ficar mais tranquilo. Mas
até quando?
Apocalípticos
O médico e
astrólogo erudito Michel de Nostradamus nasceu em 1503, na França. Porém a forma
latina de seu nome, Nostradamus, ficou conhecida por uma outra ocupação: suas
profecias. Ele escreveu inúmeras previsões sobre o futuro, algumas vezes até
especificando quando os fatos iriam acontecer. Codificadas, as profecias eram
escritas em quatro versos, ou seja, com pouco aprofundamento e descrição. Com
isso, seus escritos foram e são interpretados de formas diversas.
Nostradamus
Alguns
intérpretes garantem que o francês adivinhou o surgimento de Napoleão Bonaparte
e Adolf Hitler. Em uma de suas profecias, Nostradamus fazia menção ao ano de
1999, quando surgiria o rei do terror, que o planeta conheceria no continente
asiático. Além disso, escreveu que o “grande fogo”, ou seja, o Sol, tombaria do
céu e deixaria a Terra em trevas durante alguns dias. A Terra tremeria logo a
seguir. O rebuliço todo, naquele ano, aconteceu devido a um eclipse total do
Sol no dia 11 de agosto, o último do milênio. Muito se falou, então, que os
escritos de Nostradamus previam o fim do mundo naquela data.
Nada
aconteceu. Os mais assustados, contudo, mal tiveram tempo para comemorar, pois
uma nova neurose apocalíptica surgia com muito mais força: o bug do milênio.
Com a virada de 1999 para 2000, a preocupação era com computadores que
utilizavam softwares mais antigos, nos quais os dígitos referentes ao ano nas
datas passaria de 99 para 00 e a máquina consideraria
como 1900. O temor racional é que isso geraria uma grande confusão em alguns
sistemas, principalmente do setor bancário – boletos emitidos com 100 anos de
atraso, bagunça na lista de credores e devedores, caos nos radares de
aeroportos, etc. A insegurança se disseminou e gerou um certo pânico a uma
parte da população, que de alguma maneira ligou tudo ao fim do mundo.
Maias
Nada
aconteceu. Apesar dos dois temores recentes de um possível fim da vida na Terra
– e a consequente invalidação dessas teorias -, nunca se falou tanto no assunto
quanto em 2012. E novamente, por interpretações equivocadas. A Estela 6 é um
tipo de totem, provavelmente do século 7, encontrado no antigo assentamento de
Tortuguero, no México. Nesse e em outros monumentos, há gravações do calendário
maia, no qual o último dia seria 21 de dezembro de 2012.
Fonte
– http://1.bp.blogspot.com/-XsvfJ1fgEQo/TdcSgOJqxkI/AAAAAAAAAUE/DMi9ArFoSLA/s1600/calendario-maia1.jpg
Entretanto,
afirmam os especialistas, isso não quer dizer que o mundo acaba aí, mas apenas
que se encerra o baktun 13, uma marcação de tempo equivalente a milhares de
anos. Para justificar essa ideia, houve teorias sobre uma desordem
gravitacional provocada pelo alinhamento dos planetas, tempestades solares,
astros em rota de colisão com a Terra.
Novamente nada
aconteceu. Mas muitas pessoas continuam preparadas, se preparando e prestes a
se preparar. Já teve até gente afirmando que, em 2013, o movimento de rotação
do planeta cessará, e quem tiver o azar de permanecer no lado escuro não terá
boa sorte. O professor Hernán Mostajo, diretor do Museu Internacional de
Ufologia, História e Ciência de Santa Maria, Rio Grande do Sul, está acostumado
a ouvir relatos não muito racionais.
“O dia 21 de
dezembro é só um ciclo no calendário maia, uma divisão de tempo de longa
duração”, diz. Para ele, acreditar em catástrofes naturais sem nenhum
embasamento científico tem a ver com o desejo de presenciar algo muito
inusitado. “Sempre foi assim. As pessoas se entregam a uma falsa realidade. É
uma vontade tão fantástica de ver isso que acabam transformando o imaginário em
realidade aparente”, afirma.
O fim
E pelo lado da
ciência? Algum dia a Terra deve, sim, acabar – isso é consenso. Entretanto, de
acordo com o professor Adolfo Stotz Neto, presidente do Grupo de Estudos de Astronomia
do Planetário da Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC), o fim vai
demorar muito tempo. “As distâncias e eventos no universo são absolutamente
lentos”, afirma.
Segundo ele, o
fim do mundo vai acontecer em decorrência de uma expansão do sol, antes de sua
morte. “Daqui a cinco bilhões de anos, antes que ele arrefeça, perderá força de
sustentação e se expandirá. Obviamente a Terra fará parte do sol”, revela. “O
fim natural da Terra vai acontecer, quando o sol se transformar em um gigante
vermelho e seu raio crescer”, explica o professor Wagner Marcolino, do
Observatório do Valongo, da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ),
ressaltando, assim como Adolfo, que isso só deve acontecer daqui a bilhões de
anos.
Outro perigo
são as quedas de asteroides. “Existem crateras que comprovam que já caíram
asteroides muito grandes”, conta Marcolino. “Garanto que não tem como acontecer
um grande choque em 50 ou 100 anos. E os cometas são mais perigosos do que
asteroides, mas são feitos de água e gelo, então se desmancham antes de cair”,
pontua Stotz Neto. Conforme o pesquisador, Júpiter, o maior planeta, é o
“escudo” do sistema solar, pois absorve a maioria dos cometas. “Os asteroides
perigosos são os de níquel e ferro, mas apenas uma vez foi registrado que um
atingiu uma pessoa. Noventa e nove por cento cai na água”, conclui.
A
probabilidade de você acompanhar a destruição da Terra, portanto, é irrisória.
Mas, até a hora final, pode ter certeza: muita gente vai se preparar para o
apocalipse. E nada vai acontecer. Então vão se preparar para o próximo. E para
o próximo.
Extraído do blog do historiógrafo Rostand Medeiros
http://tokdehistoria.wordpress.com/2012/12/22/de-novo-o-mundo-nao-se-acabou-mas-ate-quando
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