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segunda-feira, 24 de dezembro de 2012

Lampião, o rei do cangaço


NASCE UM BANDIDO 

Apesar de ser o maior ícone do Cangaço, Lampião não foi o criador do movimento. Os relatos mais antigos de cangaceiros remontam a meados do século 18, quando José Gomes, conhecido como Cabeleira, aterrorizava os povoados do sertão. Lampião só nasceria quase 130 anos mais tarde, em 1898, no sítio Passagem das Pedras, em Serra Talhada, no Estado de Pernambuco. Após o assassinato do pai, em 1920, ele e mais dois irmãos resolveram entrar para o bando do cangaceiro Sinhô Pereira.

O cangaceiro Sinhô Pereira

Duramente perseguido pela polícia, Pereira decidiu sair do Nordeste e deixou o jovem Virgulino Ferreira, então com 24 anos, no comando do grupo. Era o início do lendário Lampião. Os dezoito anos no cangaço forjaram um homem de personalidade forte e temido entre todos, mas também trouxeram riqueza a Lampião. 

Frederico Pernambucano de Melo

No momento da sua morte, levava consigo 5 quilos de ouro e uma quantia em dinheiro equivalente a 600 mil reais. "Apenas no chapéu, ele ostentava 70 peças de ouro puro", ressalta Frederico de Mello. Foi também graças ao cangaço que conheceu seu grande amor: Maria Bonita.

Maria Bonita

Em 1927, após uma malograda tentativa de invadir a cidade de Mossoró, no Rio Grande do Norte, Lampião e seu bando fugiram para a região que fica entre os Estados de Sergipe, Alagoas, Pernambuco e Bahia. O objetivo era usar, a favor do grupo, a legislação da época, que proibia a polícia de um Estado de agir além de suas fronteiras. Assim, Lampião circulava pelos quatro Estados, de acordo com a aproximação das forças policiais.

Raso da Catarina 


Numa dessas fugas, foi para o Raso da Catarina, na Bahia, região onde a caatinga é uma das mais secas e inóspitas do Brasil. Em suas andanças, chegou ao povoado de Santa Brígida, onde vivia Maria Bonita, a primeira mulher a fazer parte de um grupo de cangaceiros. A novidade abriu espaço para que outras mulheres fossem aceitas no bando e outros casais surgiram, como 

Os cangaceiros Corisco e Dadá 

Corisco e Dadá e Zé Sereno e Sila. Mas nenhum tornou-se tão célebre quanto Lampião e Maria Bonita. Dessa união nasceu Expedita Ferreira, filha única do lendário casal.

Expedita Ferreira - Filha de Lampião e Maria Bonita - próxima aos 80 anos

Logo que nasceu, foi entregue pelo pai a um casal que já tinha onze filhos. Durante os cinco anos e nove meses que viveu até a morte dos pais, só foi visitada por Lampião e Maria Bonita três vezes. "Eu tinha muito medo das roupas e das armas", conta. "Mas meu pai era carinhoso e sempre me colocava sentada no colo pra conversar comigo", lembra dona Expedita, Vivendo em Aracaju, capital de Sergipe, Estado onde seus pais foram mortos.

CABEÇAS NA ESCADA

Em julho de 1938, após meses perambulando pelo Raso da Catarina, fugindo da polícia, Lampião refugiou-se na Grota do Angico, perto da cidade de Poço Redondo. 

Grota do Angico, em Sergipe

Ali, no meio da caatinga fechada, entre grandes rochas e cactos, o governador do sertão - como gostava de ser chamado - viveu as últimas horas dos seus 40 anos de vida. Na tentativa de intimidar outros bandos e humilhar o rei do cangaço, Lampião, Maria Bonita e os outros nove integrantes do grupo mortos naquela madrugada foram decapitados e tiveram as cabeças expostas na escadaria da Prefeitura de Piranhas, em Alagoas. 

Cabeças dos bandidos assassinados -inclusive Lampião e Maria Bonita

Os que conseguiram escapar se renderam mais tarde ou se juntaram a Corisco, o Diabo Loiro, numa tentativa insana de vingança que durou mais dois anos, até a morte deste em Brotas de Macaúbas, na Bahia. Estava decretado o fim do cangaço.

Não são poucas as lendas que nasceram com a morte de Lampião. Uma fala de um tesouro que ele teria deixado enterrado no meio do sertão. Outra conta que Lampião não morreu na madrugada de 28 de Julho de 1938, fugindo para o Estado de Minas Gerais (conversa mal contada). Mas a verdade é que, mesmo 75 anos depois da sua morte, Virgulino Ferreira da Silva, aquele menino do sertão nordestino que se transformou no temido Lampião, ainda não foi esquecido. E sua extraordinária história leva a crer que nunca o será.

*Matéria publicada na edição #135 da revista Os Caminhos da Terra.

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