Por Manoel Severo
Gabriel
Barbosa
Vez por outra
abrimos o baú da memória e do coração e nos deparamos com momentos
inesquecíveis. Um desses me trazer dois personagens extremamente especiais com
profundas ligações comigo; um por laços de sangue e outro por laços de coração:
Gabriel Henrique Barbosa, meu filho mais velho e Alcino Alves Costa o
inesquecível Caipira de Poço Redondo... Mas vamos aos fatos, abrindo o baú do
Cariri Cangaço.
Era janeiro de
2010 e mais uma vez nos aventurávamos por terras do baixo São
Francisco, nem sei bem o número de incursões até os recantos de Piranhas,
Poço Redondo, Canindé do São Francisco, enfim. Naquela oportunidade faziam
parte da Caravana Cariri Cangaço, além de muitos outros ilustres companheiros
os dois em questão: Gabriel e Alcino. Mas antes de prosseguir vou recorrer ao
relato de Gabriel Barbosa sobre aquele dia...
"A magia
que envolve Angico é algo sobrenatural"
"Tive
a incumbência de relatar minhas impressões e sentimentos ao pisar
pela primeira vez em Angico. Em outras oportunidades em que minha família fez a
mesma viagem eu não estava junto e para mim era imperioso, desta
vez acompanhá-los por essa viagem de "férias e de
trabalho". O mais legal foi que tudo isso aconteceu após o primeiro
Cariri Cangaço que foi em setembro do ano passado (2009). Desde pequeno que me
acostumei com o interesse de meu pai pelo tema. Os livros e matérias de todas
as naturezas se espalhavam pelos quatro cantos da casa, daí, eu já me sentia
inteiramente familiarizado com cangaceiros, volantes, combates, enfim. Veio o
primeiro Cariri Cangaço e eu com Sawanna recebemos a missão de fazer o
Cerimonial. Que desafio! Não só o cerimonial em si, mas está ali, diante dos
tantos que eu me acostumei a ver apenas nas capas dos livros.
Sawanna e
Gabriel Barbosa, Mestres de Cerimonia do primeiro Cariri Cangaço
As palestras se sucediam, as conversas durante o dia, as visitas, e cada vez mais me surpreendia com tamanha energia e o gigantesco acervo em torno do assunto. A cada momento me deliciava ao ouvir essa ou aquela história, que inclusive já tinha ouvido uma vez ou outra meu pai comentar. Segredo:Quando viajamos ele nos obriga a ouvir histórias do cangaço, sempre leva de dois a tres livros e um é sorteado para ler; nessa viagem estávamos com "Entre a Espada e a Lei", "Lampião Além da Versão" e "Cariri-Cangaço,Coiteiros e Adjacências", nem que não queira, agente aprende!!! rsrsrs.
Voltando a
Angico; no penúltimo dia do Cariri Cangaço 2009, tivemos em Juazeiro a palestra
sobre Angico, com o Dr. Amaury, Dr. Leandro e ainda com o Aderbal, Paulo
Gastão, Alcino e Paulo Britto. E aquela noite em especial me trouxe muita
curiosidade a cerca de Angico e agora estou aqui a escrever minhas impressões
sobre o lugar.
Gabriel
Barbosa e Aderbal Nogueira, abaixo ao lado de Ivanildo Silveira
Simplesmente
fantástico. A magia que envolve Angico é algo sobrenatural, não sei se por ter
tanta história ligada ao lugar; na verdade me pareceu um leito seco de
rio, talvez igual a outros muitos do sertão; mas ali estava as cruzes que
marcaram a morte de Lampião, foi ali que ele deu o último suspiro, ali
conversou ou planejou alguma coisa pela última vez, isso tudo me deixou pasmo,
e eu estava ali; no lugar do qual me acostumei a ouvir tanta história. Obrigado
ao Jairo e ao Alcino pela aula, com certeza tenho que voltar outras
vezes." Confessa Gabriel Barbosa.
Em tempo; pedi
para Gabriel escrever essa nota pequena sobre o que achou da Trilha de Angico e
ele acabou me apresentando esse artigo que com o tempo ganhou para mim um forte
significado, pois naquele dia veio a acontecer algo que nos marcaria por muito
tempo e que hoje estou tendo a permissão de revelar.
Naquele final
de manha de janeiro de 2010, eram por volta das 13 horas
e conversávamos como em muitas outras oportunidades, eu, Alcino,
Jairo e Gabriel, sobre os famosos "Mistérios" do Angico, quando de
repente o velho Caipira parou, fixou o olhar em um ponto ermo e
"caiu", literalmente caiu, imediatamente Gabriel avançou sobre seu
corpo e evitou que o Decano querido chegasse ao solo. Uma queda de pressão, um
mal passageiro, o que houve ? De sorte, logo depois Alcino foi recobrando os
sentidos e passo a passo se recuperou do passamento. O retorno ao restaurante
Angico, a 800 metros da grota, foi penoso e cheio de cuidados, enfim chegamos
todos bem, apenas com a preocupação com a saúde do estimado amigo... Mas antes
de continuar vamos recorrer ao Caipira que nos enviou um pequeno artigo sobre
aquele dia:
Alcino Alves
Costa em janeiro de 2010 no Angico
"Minha
gente querida, Severo e Gabriel. Deus escreve certo por linhas tortas. É
um velho ditado. O que me aconteceu naquele dia em Angico foi um sinal
superior para ainda mais ficarmos unidos e gratos. A atuação de Gabriel em
relação ao cuidado com a minha pessoa não foi comum para os dias atuais,
desse mundo sem amor. Fiquei com a impressão de que ele estava seguindo os
ditames e a vontade dos bons espíritos que acompanham-no dia e noite.
O meu espírito
se alegra e fica feliz quando está perto dos espíritos de vocês e isto me
traz uma grande felicidade. Não tenho dúvidas, o Cariri Cangaço fará mais
um retumbante sucesso. Seus espíritos são os responsáveis por este
grande êxito que vocês irão alcançar e são merecedores. Use essa
força espiritual que você carrega e faças com que as diferenças tolas
entre muitos de nossos amigos possam acabar, e eles voltem a ser os irmãos
que eram antigamente. Tenho lido o que você tem escrito sobre coisas de
minha vida. Muito obrigado, obrigado mesmo! Abraços e beijos em todos
vocês." Alcino, Caipira de Poço Redondo.
Alcino,
Severo, Jairo Luiz e Gabriel Barbosa em Angico
Daquele dia em
diante, sempre que nos encontrávamos e
ou conversávamos Alcino sempre me perguntava: "Cadê Gabriel
? Como vai Gabriel ?" percebemos juntos que aquele dia havia tornado
sólida e descortinada uma forte ligação entre nossas famílias e nossas
existências. Gabriel que esteve com Alcino tão poucas vezes acabou entrando em
seu coração para sempre e vice- versa.
Depois de muito tempo, já próximo de sua ultima partida para as caatingas do eterno, Alcino me procurou e falou : "Severo, lembra daquele dia no Angico, de meu passamento, de Gabriel ? Você conseguiu ver o que vi ? " Confesso que uma tremenda vibração tomou conta de meu corpo, nunca havíamos falado sobre isso e de repente Alcino me trazia um fenômeno que pensei ninguém ter percebido na ocasião e logo antes do acontecido na Grota. Vi e ali havia tido a confirmação também de Alcino, que não estávamos sós naquela manha. Por entre os arbustos do final de janeiro algo mais nos observava...
Dias que ficarão maracados para sempre...
Manoel Severo
Curador do
Cariri Cangaço
http://cariricangaco.blogspot.com
http://blogdomendesemendes.blogspot.com
Caro amigo Mendes, fiquei impressionado com o expressivo relato do jovem Gabriel - o filho do nobre pesquisador Severo. São palavras de firmeza e de alguém que ama a História. Tenho certeza que ele vai continuar ao lado do pai em busca das informações da verdadeira História do Cangaço. Parabéns jovem Gabriel Barbosa; você está no caminho certo.
ResponderExcluirAbraços,
Antonio Oliveira - Serrinha