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terça-feira, 27 de maio de 2014

O Primeiro Angico a gente nunca esquece

Por Manoel Severo
Gabriel Barbosa

Vez por outra abrimos o baú da memória e do coração e nos deparamos com momentos inesquecíveis. Um desses me trazer dois personagens extremamente especiais com profundas ligações comigo; um por laços de sangue e outro por laços de coração: Gabriel Henrique Barbosa, meu filho mais velho e Alcino Alves Costa o inesquecível Caipira de Poço Redondo... Mas vamos aos fatos, abrindo o baú do Cariri Cangaço.

Era janeiro de 2010 e mais uma vez nos aventurávamos por terras do baixo São Francisco, nem sei bem o número de incursões até os recantos de Piranhas, Poço Redondo, Canindé do São Francisco, enfim. Naquela oportunidade faziam parte da Caravana Cariri Cangaço, além de muitos outros ilustres companheiros os dois em questão: Gabriel e Alcino. Mas antes de prosseguir vou recorrer ao relato de Gabriel Barbosa sobre aquele dia...

"A magia que envolve Angico é algo sobrenatural"

"Tive a incumbência de relatar minhas impressões e sentimentos ao pisar pela primeira vez em Angico. Em outras oportunidades em que minha família fez a mesma viagem eu não estava junto e para mim era imperioso, desta vez acompanhá-los por essa viagem de "férias e de trabalho". O mais legal foi que tudo isso aconteceu após o primeiro Cariri Cangaço que foi em setembro do ano passado (2009). Desde pequeno que me acostumei com o interesse de meu pai pelo tema. Os livros e matérias de todas as naturezas se espalhavam pelos quatro cantos da casa, daí, eu já me sentia inteiramente familiarizado com cangaceiros, volantes, combates, enfim. Veio o primeiro Cariri Cangaço e eu com Sawanna recebemos a missão de fazer o Cerimonial. Que desafio! Não só o cerimonial em si, mas está ali, diante dos tantos que eu me acostumei a ver apenas nas capas dos livros.

Sawanna e Gabriel Barbosa, Mestres de Cerimonia do primeiro Cariri Cangaço

As palestras se sucediam, as conversas durante o dia, as visitas, e cada vez mais me surpreendia com tamanha energia e o gigantesco acervo em torno do assunto. A cada momento me deliciava ao ouvir essa ou aquela história, que inclusive já tinha ouvido uma vez ou outra meu pai comentar. Segredo:Quando viajamos ele nos obriga a ouvir histórias do cangaço, sempre leva de dois a tres livros e um é sorteado para ler; nessa viagem estávamos com "Entre a Espada e a Lei", "Lampião Além da Versão" e "Cariri-Cangaço,Coiteiros e Adjacências", nem que não queira, agente aprende!!! rsrsrs.

Voltando a Angico; no penúltimo dia do Cariri Cangaço 2009, tivemos em Juazeiro a palestra sobre Angico, com o Dr. Amaury, Dr. Leandro e ainda com o Aderbal, Paulo Gastão, Alcino e Paulo Britto. E aquela noite em especial me trouxe muita curiosidade a cerca de Angico e agora estou aqui a escrever minhas impressões sobre o lugar.

 Gabriel Barbosa e Aderbal Nogueira, abaixo ao lado de Ivanildo Silveira


Simplesmente fantástico. A magia que envolve Angico é algo sobrenatural, não sei se por ter tanta história ligada ao lugar; na verdade me pareceu um  leito seco de rio, talvez igual a outros muitos do sertão; mas ali estava as cruzes que marcaram a morte de Lampião, foi ali que ele deu o último suspiro, ali conversou ou planejou alguma coisa pela última vez, isso tudo me deixou pasmo, e eu estava ali; no lugar do qual me acostumei a ouvir tanta história. Obrigado ao Jairo e ao Alcino pela aula, com certeza tenho que voltar outras vezes." Confessa Gabriel Barbosa.

Em tempo; pedi para Gabriel escrever essa nota pequena sobre o que achou da Trilha de Angico e ele acabou me apresentando esse artigo que com o tempo ganhou para mim um forte significado, pois naquele dia veio a acontecer algo que nos marcaria por muito tempo e que hoje estou tendo a permissão de revelar.

Naquele final de manha de janeiro de 2010, eram por volta das 13 horas e conversávamos como em muitas outras oportunidades, eu, Alcino, Jairo e Gabriel, sobre os famosos "Mistérios" do Angico, quando de repente o velho Caipira parou, fixou o olhar em um ponto ermo e "caiu", literalmente caiu, imediatamente Gabriel avançou sobre seu corpo e evitou que o Decano querido chegasse ao solo. Uma queda de pressão, um mal passageiro, o que houve ? De sorte, logo depois Alcino foi recobrando os sentidos e passo a passo se recuperou do passamento. O retorno ao restaurante Angico, a 800 metros da grota, foi penoso e cheio de cuidados, enfim chegamos todos bem, apenas com a preocupação com a saúde do estimado amigo... Mas antes de continuar vamos recorrer ao Caipira que nos enviou um pequeno artigo sobre aquele dia:

Alcino Alves Costa em janeiro de 2010 no Angico

"Minha gente querida, Severo e Gabriel. Deus escreve certo por linhas tortas. É um velho ditado. O que me aconteceu naquele dia em Angico foi um sinal superior para ainda mais ficarmos unidos e gratos. A atuação de Gabriel em relação ao cuidado com a minha pessoa não foi comum para os dias atuais, desse mundo sem amor. Fiquei com a impressão de que ele estava seguindo os ditames e a vontade dos bons espíritos que acompanham-no dia e noite.

O meu espírito se alegra e fica feliz quando está perto dos espíritos de vocês e isto me traz uma grande felicidade. Não tenho dúvidas, o Cariri Cangaço fará mais um retumbante sucesso. Seus espíritos são  os responsáveis por este grande êxito que vocês irão alcançar e são merecedores. Use essa força espiritual que você carrega e faças com que as diferenças tolas entre muitos de nossos amigos possam acabar, e eles voltem a ser os irmãos que eram antigamente. Tenho lido o que você tem escrito sobre coisas de minha vida. Muito obrigado, obrigado mesmo! Abraços e beijos em todos vocês." Alcino, Caipira de Poço Redondo.

  Alcino, Severo, Jairo Luiz e Gabriel Barbosa em Angico



Daquele dia em diante, sempre que nos encontrávamos e ou conversávamos Alcino sempre me perguntava: "Cadê Gabriel ? Como vai Gabriel ?" percebemos juntos que aquele dia havia tornado sólida e descortinada uma forte ligação entre nossas famílias e nossas existências. Gabriel que esteve com Alcino tão poucas vezes acabou entrando em seu coração para sempre e vice- versa. 

Depois de muito tempo, já próximo de sua ultima partida para as caatingas do eterno, Alcino me procurou e falou : "Severo, lembra daquele dia no Angico, de meu passamento, de Gabriel ? Você conseguiu ver o que vi ? " Confesso que uma tremenda vibração tomou conta de meu corpo, nunca havíamos falado sobre isso e de repente Alcino me trazia um fenômeno que pensei ninguém ter percebido na ocasião e logo antes do acontecido na Grota. Vi e ali havia tido a confirmação também de Alcino, que não estávamos sós naquela manha. Por entre os arbustos do final de janeiro algo mais nos observava...

Dias que ficarão maracados para sempre...

Manoel Severo
Curador do Cariri Cangaço

http://cariricangaco.blogspot.com
http://blogdomendesemendes.blogspot.com

Um comentário:

  1. Anônimo10:57:00

    Caro amigo Mendes, fiquei impressionado com o expressivo relato do jovem Gabriel - o filho do nobre pesquisador Severo. São palavras de firmeza e de alguém que ama a História. Tenho certeza que ele vai continuar ao lado do pai em busca das informações da verdadeira História do Cangaço. Parabéns jovem Gabriel Barbosa; você está no caminho certo.
    Abraços,
    Antonio Oliveira - Serrinha

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