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sexta-feira, 22 de agosto de 2014

O SUCESSOR DE LAMPIÃO

Por Clerisvaldo B. Chagas, 22 de agosto de 2014 - Nº 1.245

Dizem alguns escritores que Lampião havia reunido seus cabras na fazenda Angicos, em Sergipe, para anunciar o seu sucessor e deixar o Nordeste. O sucessor seria aquele que dormisse fora do coito de Angicos. Lampião, naquela semana de 1938, deveria contar em torno de 80 homens no total, um pouco mais, um pouco menos. Desde, aproximadamente, 1934, que o bando total fora fatiado em pequenos grupos. Cada grupo tinha um chefe que comandava entre seis e dez pessoas. Caso o amigo goste de histórias de cangaceiros e tenha lido o nosso livro “Lampião em Alagoas”, vamos rever um caso polêmico. No livro acima questionamos se Lampião iria mesmo deixar o Nordeste, no final do mês de julho de 1938. Não respondemos a pergunta que ninguém fez, se ele iria continuar no cangaço, implantando-o no estado em que deveria se refugiar.

Lampião em início da carreira.

Naquela noite/madrugada da hecatombe, na grota da fazenda Angicos, Corisco, cismado com o lugar, fora dormir em Alagoas com seu grupo. Labareda, também cismado, foi pernoitar longe com os seus. Português e seu grupo não estavam. Moreno e seu grupo também não estavam. Moita Brava retirou-se do coito (naturalmente com seus acompanhantes) alegando problema de saúde. Ninguém fala do grupo de Pancada, citado somente no dia18 de julho, quando tomou rumo deferente de Lampião, em Alagoas, isto é, estava com ele, mas não seguiu com o chefe para Angicos. Por quê? Não encontramos a resposta.

O cangaceiro Balão

No coito estava o grupo de Lampião, Balão e Zé Sereno.

Grupo de cangaceiros comandado por Zé Sereno

Quem iria substituir Lampião? Analisemos os chefetes de fora do coito. Poderia ser qualquer um no bater de asas do bandido, mas prorrogar o cangaço, quem teria tutano?

O segundo casal de cangaceiros mais famoso Corisco e Dadá

Corisco seria o mais indicado, certo, todos concordam. Mas Corisco não tinha experiência em comandar 80 homens. Sempre fora arredio e preferia atuar separadamente de Lampião com seu grupo em torno de dez comparsas. Além, disso não possuía os molejos com os grandes da sociedade civil, o traquejo, a diplomacia, a malícia, a astúcia que lucravam em armas, avisos, dinheiro, comida, paz, munição e trânsito. Somente a força bruta, valentia, perversidade e estratégia de ataque, não seriam bastante para a prorrogação do cangaço.

Ângelo Roque - o cangaceiro Labareda

Labareda era um cangaceiro mais humano e bastante corajoso, até mesmo pela sua história, contada por ele próprio, contudo, nos parece que não teria também condições de levar adiante o total de cangaceiros. Em nossa avaliação, tinha bastante confiança no chefe e, caso o perdesse, não se adaptaria a mais ninguém no comando e terminaria nas entregas. Foi o seu caminho.

O cangaceiro Português 

Português, perverso como Corisco e falastrão. Nós o temos apenas como um “cobrador de impostos”. Não reunia às condições de grande chefe. Ninguém fala onde ele se encontrava no caso Angicos.

O 3º casal de cangaceiros mais famosos - Moreno e Durvalina

Moreno, com seu reduzidíssimo grupo, não estava presente no dia. Sofrera vários reveses ultimamente e estava mais para fugir de que comandar alguma coisa.

Grupo de cangaceiros do Moita Brava

Moita Brava, pouco se sabe a seu respeito. Apenas atuação própria de cangaceiro. Como foi dito, deixara o coito antes do ataque das volantes e ninguém fala sobre o seu rumo.

O casal de cangaceiros Pancada e Maria Juvina (Jovina)

Pancada, também apenas um chefete a mais.

E se isso serve de consolo aos adoradores de VIRGOLINO, achamos que ninguém tinha quengo o suficiente para ser O SUCESSOR DE LAMPIÃO.

CLERISVALDO B. CHAGAS
Romancista – Historiador – Poeta – Cronista.
Autobiografia

Clerisvaldo Braga das Chagas nasceu no dia 2 de dezembro de 1946, à Rua Benedito Melo (Rua Nova) s/n, em Santana do Ipanema, Alagoas. Logo cedo se mudou para a Rua do Sebo (depois Cleto Campelo) e atual Antônio Tavares, nº 238, onde passou toda a sua vida de solteiro. Filho do comerciante Manoel Celestino das Chagas e da professora Helena Braga das Chagas, foi o segundo de uma plêiade de mais nove irmãos (eram cinco homens e cinco mulheres). Clerisvaldo fez o Fundamental menor (antigo Primário), no Grupo Escolar Padre Francisco Correia e, o Fundamental maior (antigo Ginasial), no Ginásio Santana, encerrando essa fase em 1966. Prosseguindo seus estudos, Chagas mudou-se para Maceió onde estudou o Curso Médio, então, Científico, no Colégio Guido de Fontgalland, terminando os dois últimos anos no Colégio Moreira e Silva, ambos no Farol. Concluído o Curso Médio, Clerisvaldo retornou a Santana do Ipanema e foi tentar a vida na capital paulista. Regressou novamente a sua terra onde foi pesquisador do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística ─ IBGE. Casou em 30 de março de 1974 com a professora Irene Ferreira da Costa, tendo nascido dessa união, duas filhas: Clerine e Clerise. Chagas iniciou o curso de Geografia na Faculdade de Formação de Professores de Arapiraca e concluiu sua Licenciatura Plena na Faculdade de Formação de Professores de Arcoverde ─ AESA, em Pernambuco (1991). Fez Especialização em Geo-História pelo Centro de Estudos Superiores de Maceió ─ CESMAC, (2003).
         
Nesse período de estudos, além do IBGE, lecionou Ciências e Geografia no Ginásio Santana, Colégio Santo Tomaz de Aquino e Colégio Instituto Sagrada Família. Aprovado em 1º lugar em concurso público, deixou o IBGE e passou a lecionar no, então, Colégio Estadual Deraldo Campos (atual Escola Estadual Prof. Mileno Ferreira da Silva). Clerisvaldo ainda voltou a ser aprovado também em mais dois concursos públicos em 1º e 2º lugares. Lecionou em várias escolas tendo a Geografia como base. Também ensinou História, Sociologia, Filosofia, Biologia, Arte e Ciências. Contribuiu com o seu saber em vários outros estabelecimentos de ensino, além dos mencionados acima como as escolas estaduais: Ormindo Barros, Lions, Aloísio Ernande Brandão, Helena Braga das Chagas e, nas escolas municipais: São Cristóvão e Ismael Fernandes de Oliveira. Na cidade de Ouro Branco lecionou na Escola Rui Palmeira — onde foi vice-diretor e membro fundador — e ainda na cidade de Olho d’Água das Flores, no Colégio Mestre e Rei.

Sua vida social tem sido intensa e fecunda. Foi membro fundador do 4º teatro de Santana (Teatro de Amadores Augusto Almeida); membro fundador de escolas em Santana, Carneiros, Dois Riachos e Ouro Branco. Foi cronista da Rádio Correio do Sertão (Crônica do Meio-Dia); Venerável por duas vezes da Loja Maçônica Amor à Verdade; 1º presidente regional do SINTEAL (antiga APAL), núcleo da região de Santana; membro fundador da ACALA - Academia Arapiraquense de Letras e Artes; criador do programa na Rádio Cidade: Santana, Terra da Gente; redator do diário Jornal do Sertão (encarte do Jornal de Alagoas); 1º diretor eleito da Escola Estadual Prof. Mileno Ferreira da Silva; membro fundador da Academia Interiorana de Letras de Alagoas – ACILAL. Membro fundador da Associação Guardiões do Rio Ipanema (atual vice-presidente).
         
Em sua trajetória literária, Clerisvaldo Braga das Chagas, escreveu seu primeiro livro, o romance Ribeira do Panema (1977). Daí em diante adotou o nome artístico Clerisvaldo B. Chagas, em homenagem ao escritor de Palmeira dos Índios, Alagoas, Luís B. Torres, o primeiro escritor a reconhecer o seu trabalho. Pela ordem, são obras do autor que se caracteriza como romancista: Ribeira do Panema (romance -1977); Geografia de Santana do Ipanema (didático – 1978); Carnaval do Lobisomem (conto – 1979); Defunto Perfumado (romance – 1982); O Coice do Bode (humor maçônico – 1983); Floro Novais, Herói ou Bandido? (documentário romanceado – 1985); A Igrejinha das Tocaias (episódio histórico em versos – 1992); Sertão Brabo CD (10 poemas engraçados); Santana do Ipanema, conhecimentos gerais do município (didático – 2011); Ipanema, um rio macho (paradidático – 2011); Sebo nas canelas, Lampião vem aí (peça teatral – 2011); Negros em Santana (paradidático – 2012); Lampião em Alagoas (história nordestina brasileira – 2012).
      
Em breve: O boi a bota e a batina, história completa de Santana do Ipanema (história); 227 (história iconográfica de Santana do Ipanema); Fazenda Lajeado (romance); Deuses de Mandacaru (romance); Colibris do Camoxinga (poesia selvagem); 100 milagres do padre Cícero (história e fé). 



Ilustrado por José Mendes Pereira
http://blogdomendesemendes.blogspot.com

Um comentário:

  1. Anônimo15:35:00

    Nobre escritor Clerisvaldo, até hoje (pelo menos eu), não sabemos qual o objetivo principal daquela reunião de Angico. Uns falam que a reunião era para Lampião receber no grupo seu sobrinho José Ferreira. Não acredito que apenas para receber mais um componente de bando, Lampião tivesse que convocar OS GRUPOS para uma reunião. Outros afirmam que ele avisaria aos companheiros que partiria para Minas (não sei se levando adiante a luta, ou sem luta). Ainda falam que ele queria ter um "encontro" com o Tenente Zé Rufino, pois ele estava "passando de pato para ganso". Assim, acredito que hoje só temos Dona Dulce, ainda viva que poderá falar algo sobre o assunto, pois os demais ex-cangaceiros não mais existem. A palavra fica com os senhores, experientes pesquisadores. NÃO É ISSO COMPANHEIRO MENDES?
    Antonio Oliveira - Serrinha

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