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terça-feira, 9 de agosto de 2016

CANÇÃO DA MINHA TERRA

*Rangel Alves da Costa

Minha terra não tem palmeira onde canta o sabiá, mas tem craibeira florida de o olho se admirar. Tem mandacaru e sua flor, tem paisagens de encantar.

Minha terra é no mundo o que chamam sertão, mas parece mais um santuário para o sertanejo de fé e devoção, no olhar a esperança e a fé no coração.

Minha terra é diferente de outras terras que há, pois quem pisa no seu chão ou fica ou quer retornar. E faz da vereda sua estrada e faz do sertão o seu lar.

Minha terra sente fome, tem gente que nem tem nome, e a tudo a dor consome. A pobreza é sobrenome da miséria que carcome e não há política que dome.

Minha terra é humilde, é pacata e singela. É como fogão e panela, se contentando somente no alimento que há nela, para fugir da fome que toda seca flagela.

Minha terra também chora a lágrima de todo sofrer, e sofre pelas mazelas que provocam padecer, muito mais se o sertanejo se curva à dor sem nada merecer.

Minha terra tem um riacho que tinha um poço redondo, e poço de matar a sede do gado se decompondo, na magreza da estiagem e sem do trovão o estrondo.

Minha terra tem um nome que assim nasceu desse poço, num tempo ainda moço, numa vida sem ter pressa, num viver sem alvoroço, como se a escrita matuta fosse fazendo um esboço.

Minha terra vem de longe, de um passado distante, quando tudo era caatinga e ainda sem retirante, sem casebre ou curral, sem o vaqueiro e o seu berrante, sem caminho ou estrada, apenas o rio adiante.

Minha terra é vastidão, sertão de fronteira com muito mais sertão, beirando rio e serra, cortando estradão, da Bahia a Alagoas, em Sergipe e região, do alto da Serra da Guia ao Angico de Lampião.


Minha terra tem um livro e nele a sua história, mas muito mais na vivência dos que fizeram sua glória, e dessa junção de vidas é que se faz a memória. Quem faz parte desse livro tem na luta a sua trajetória.

Minha terra é beiradeira, é quilombola, é vaqueira, é de cavalhada matuta e de luta cangaceira. É da cantiga de aboio, é da velha lavadeira, é da mão rude da fateira e da cuidadosa parteira.

Minha terra é abençoada pela mãe de todo sertão, que é mãe maior Senhora da Conceição, luz de toda Assunção, que do alto cuida do berço do seu filho em devoção, abençoando o sertanejo e velando por este chão.

Minha terra é Poço Redondo, também o chão ribeirinho, de onde tudo nasceu nas margens de Curralinho. Ao lado o Bonsucesso fazendo do rio caminho, seguindo por Jacaré e Cajueiro e cada pedaço vizinho.

Minha terra tem dois poços, um de baixo e um de cima, quem está na cidade pouco do alto imagina, sequer sabe que dali vem toda raiz e sina, que tudo ali do alto da história se aproxima, desde a capela ao cemitério ao passado e o que ele ensina.

Minha terra tem matriz e nela o seu vigário, um anjo e seu rosário, uma benção em Padre Mário. De Deus o missionário, no sertão seu templo e santuário, pregando a fé e esperança, a grandeza da vida como maior fadário.

Minha terra tem retrato que vive na parede. Toda saudade aflige como sede. E não há pensamento que não enverede na lágrima que logo sucede. Chorar os que partiram antes que o peito quede e em soluço e pranto ao sofrer se entregue.

Minha terra é minha. Todinha. Ou é toda sua, com o sol e a lua. Mas uma coisa digo e a ninguém escondo: meu chão, minha terra, é Poço Redondo!

Escritor
blograngel-sertao.blogspot.com

http://blogdomendesemendes.blogspot.com

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