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terça-feira, 6 de setembro de 2016

CANÇÃO À MINHA TERRA

*Rangel Alves da Costa

Já não sou poeta, não ouso cantar, as linhas da escrita estremecem ante uma tristeza grande. Momentos há que não somos mais nada senão o peso da saudade e da recordação. E leio na mente a antiga poesia: “Oh! que saudades que tenho da aurora da minha vida, da minha infância querida que os anos trazem mais!...”.

O que dizer, o que cantar, o que escrever em teu nome, oh terra minha? O que é ser e viver longe de ti? E ainda na memória, leio Florbela Espanca falando a mim como se eu falasse a ti: “Longe de ti são ermos os caminhos, longe de ti não há luar nem rosas, longe de ti há noites silenciosas, há dias sem calor beirais, sem ninho!...”.

Sei que é impossível, pois tudo muda, e o sertão está transformado demais, mas tão bom seria se ainda tivesse validade a velha canção: “Se algum dia à minha terra eu voltar quero encontrar as mesmas coisas que deixei. Quando o trem parar na estação eu sentirei no coração a alegria de chegar, de rever a terra em que nasci, e correr como em criança nos verdes campos do lugar...”.

Ou talvez, quem dera meu Deus, quem dera, no entardecer sertanejo ainda poder ligar o radinho de pilha para ouvir: “No Nordeste brasileiro uma onda se espalhou/ Na voz da Rádio Xingó, com seu apresentador/ Foi uma benção divina a um povo sofredor/ O violeiro cantando sertão, viola e amor/ O cavaquinho do samba num canto se encostou/ O tamborim fez silêncio, pra longe se retirou/ A natureza sorriu ouvindo seu trovador/ No rádio leu-se a mensagem: sertão, viola e amor/ Cantigas e mais cantigas de um tempo que já passou/ As trovas apaixonadas do poeta cantador/ Histórias de vaquejadas, maravilhas, sim senhor/ Me alegra quando ouço sertão, viola e amor/ No Nordeste, leste, oeste, o povo se admirou ouvindo a Rádio Xingó e seus poemas de amor/ Canta, canta minha gente, pois violeiro também sou/ O Brasil todo conhece: sertão, viola e amor”.


Meu pai tinha razão, agora tanto sei como Seu Alcino tinha razão. Seu amor ao sertão estava enraizado no coração. E qual raiz eu carrego em mim senão a do mandacaru, do xiquexique, da catingueira, da aroeira, da craibeira em flor? E qual retrato eu tenho na parede do meu coração senão o do velho amigo sertanejo, o do caboclo de beira de estrada, o daquele cujo suor cheira à própria terra?

Meu pai Alcino tinha razão, pois: “De que me adianta viver na cidade/ Se a felicidade não me acompanhar/ Adeus paulistinha do meu coração/ Lá pro meu sertão eu quero voltar/ Ver a madrugada quando a passarada/ Fazendo alvorada começa a cantar/ Com satisfação arreio o burrão/ Cortando o estradão saio a galopar/ E vou escutando o gado berrando/ O sabiá cantando o jequitibá/ Por nossa senhora, meu sertão querido/ Vivo arrependido por ter deixado/ Esta nova vida aqui na cidade/ De tanta saudade eu tenho chorado/ Aqui tem alguém, diz que me quer bem/ Mas não me convém, eu tenho pensado/ Eu digo com pena, mas esta morena/ Não sabe o sistema que eu fui criado/ Tô aqui cantando, de longe escutando/ Alguém está chorando com o rádio ligado...”.

De vez em quando, quando a saudade aperta mais e é como se eu sentisse necessidade de estar caminhando pelos seus caminhos, então sozinho eu falo e sozinho pergunto em silenciosa canção: “Como vai você? Eu preciso saber de sua vida...”. E lá fincando moradia para não mais partir, talvez alguém que gostasse de mim de fazer cafuné, cantarolasse: “Se eu soubesse que chorando empato a sua viagem meus olhos eram dois rios que não lhe davam passagem...”.

Poço Redondo, Poço Redondo, o que mais dizer? Deixo que Roberto Carlos diga por mim: “Eu tenho tanto pra lhe falar, mas com palavras não sei dizer, como é grande o meu amor por você. E não ha nada pra comparar, para poder lhe explicar, como é grande o meu amor por você...”.

Como é imenso o meu amor por você!

Escritor
blograngel-sertao.blogspot.com

http://blogdomendesemendes.blogspot.com

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