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domingo, 2 de outubro de 2016

A PRESENÇA DA EMA NO BRASÃO E NA BANDEIRA DO MUNICÍPIO DE MOSSORÓ (ESTADO DO RIO GRANDE DO NORTE)

Por José Romero Araújo Cardoso

Tempos atrás era bastante comum encontrar bandos de emas (Rhea americana, Linnaeus, 1758) percorrendo os mais diversos quadrantes da chapada do Apodi, tanto em território cearense como potiguar.
          
Além dessas aves, cujo habitat restringe-se à América do Sul, também destacava-se a presença de imensas varas de porcos-do-mato perlustrando a imensidão ressequida do domínio cretáceo localizado na divisa desses Estados Nordestinos, assinalando-se, ainda, ocorrência dessas espécies animais em outras unidades que integram a região. 

Bandeira do Município de Mossoró - Estado do Rio Grande do Norte

O município paraibano de Emas, localizado na microrregião de Piancó, integrante da Região Metropolitana de Patos,  deve seu topônimo à presença pretérita bastante enfática dessas aves de grandes asas, mas que não voam. Usam-nas para se equilibrar e mudar de direção enquanto correm.
          
A Ema também é chamada de nandu, nhandu,  guaripé e xuri, sendo considerada a maior ave brasileira, razão pela qual a caça predatória e indiscriminada vem responsabilizando-se pela inserção da espécie na lista de animais ameaçados de extinção no Brasil.
          
A Ema encontra-se praticamente desaparecida de seu habitat natural nos Estados do Rio Grande do Norte e do Ceará. Experiências de criatório em cativeiro não tem se revelado de forma satisfatória como era esperado, pois os desafios são múltiplos e variados no que tange a reprodução.

Bandeira do Município de Mossoró - Estado do Rio Grande do Norte


O Brasão Holandês do Rio Grande do Norte, quando das invasões da Companhia das Índias Ocidentais ao Nordeste Brasileiro, constava uma Ema figurando em alto relevo, talvez  como forma de vislumbrar destaque faunístico de maior proeminência no território conquistado.
          
A Ema integrava a cadeia alimentar da ecologia regional antes da chegada do colonizador, atraindo, junto com porcos-do-mato, ferozes onças pintadas. Koster, quando chegou em Mossoró às 10 horas da manhã do dia sete de dezembro de 1810, encontrou um sertanejo curtindo o couro de um felino de grande porte que havia incorporado aos hábitos alimentares o rebanho miúdo criado a duras penas pelos heroicos filhos das caatingas que habitavam o arraial de Santa Luzia e suas imediações.
          
As crenças e tradições nordestinas não deixaram de fomentar a presença da Ema, pois, conforme João do Vale, em belíssima pérola do cancioneiro regional, por título O Canto da Ema, essa ave traz em sua sonoridade azar que pode resultar em romance terminado.
          
Devido a presença intensa em solo potiguar, Mossoró encimou em suas bandeira e brasão a presença discreta de uma Ema, ao lado de uma carnaubeira e em tangencia com raio solar, tendo acima destaque ao 30 de setembro de 1883 e do lado oposto salinas conhecidas desde a presença dos holandeses quando do domínio batavo no nordeste brasileiro.

Brasão de Armas do Rio Grande do Norte no período Colonial Brasileiro

A consciência ambiental dos ditos homens primitivos, cujo sentido pejorativo revela mesquinhez do civilizado, revelou-se mais salutar que a do moderno homo sapiens que ocupa o território potiguar, bem como nordestino, pois, ao contrário de eras passadas, quando encontravam-se Emas em grande quantidade, atualmente é quase impossível encontrarmos algum remanescente da altiva espécie que sobreviveu a duras penas, cuja permanência por tanto tempo talvez tenha sido por representar reserva alimentar para tempos de secas que castigaram notavelmente a região.
          
O desrespeito do homem para com a natureza pode ser indicada como responsável direta pelo extermínio de uma das mais belas aves do planeta, cuja presença na região nordeste marcou indelevelmente o imaginário de estrangeiros e nativos conscientes do valor da vida.

José Romero Araújo Cardoso. Geógrafo e Escritor. Professor-Adjunto IV do Departamento de Geografia da Faculdade de Filosofia e Ciências Sociais da Universidade do Estado do Rio Grande do Norte. Mestre em Desenvolvimento e Meio Ambiente. Sócio da SBEC (Sociedade Brasileira de Estudos do Cangaço), do ICOP (Instituto Cultural do Oeste Potiguar) e da ASCRIM (Associação de Escritores Mossoroenses). E-mail: romero.cardoso@gmail.com

Enviado pelo o autor.

http://blogdomendesemendes.blogspot.com


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