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domingo, 25 de dezembro de 2016

LAMPIÃO EM QUEIMADAS - LAMPIÃO EM SANTO ANTONIO DAS QUEIMADAS (A CHACINA DE QUEIMADAS)

Por: João de Souza Lima

Em agosto de 2012 segui de Paulo Afonso com o amigo Josué Santana até a cidade de Queimadas para conhecer o local da chacina realizada por Lampião quando ele matou 7 soldados.

Em Queimadas pegamos algumas informações com os jovens Floriano Esteves e Robson Ribeiro que nos indicaram o senhor José Ferreira de Santana, advogado conhecido por Zezito. Seu Zezito é filho de Umbelino Joaquim de Santana, um dos comerciantes que teve seu comércio saqueado pelos cangaceiros.

Também entrevistamos o Padre Carlos Gabbanelli e por fim entrevistamos a quase centenária Zulmira Lima Farias com seus 99 anos de idade, sendo ela uma das primeiras pessoas a ver Lampião entrando na cidade.

Lampião e seu bando vieram oriundos de Cansanção e chegaram nas proximidade da cidade em um carro do IFOCS (Inspetoria Federal de Obras Contra a Seca). Antes de chegarem a Queimadas houve uma discussão entre Zé Baiano e Virginio. Lampião tomou a pistola de Zé Baiano e jogou nas águas do rio. Zé baiano inconformado afastou-se se separando do grupo sendo acompanhado por Antonio de Naro.

Na margem esquerda do rio Itapicuru Lampião pegou os irmãos Marques (Hilário, Carlos E Irênio) e ordenou que eles conseguissem canoas para atravessarem os 16 cangaceiros.

As 15 horas do dia 22 de dezembro de 1929 os cangaceiros se desembarcaram no local chamado “Passagem”. Aproximaram-se do chalé do Coletor Federal Francisco Lantyer e em uma oficina que ficava na frente do casarão encontraram João Lantyer e o mecânico José de Patápio que consertava o radiador do automóvel.

Lampião perguntou:

- Esse carro tá funcionando?

- Estamos tentando colocar ele em funcionamento!

- É pena, se ele tivesse funcionando a gente ia entrar em Queimadas montado nele!

O grupo entrou em Queimadas dividido em duas alas, sendo uma comandada por Lampião e outra por Mariano. A população confundiu os cangaceiros com uma volante pernambucana.

A professora de teatro Zulmira Lima conheceu que era Lampião e por mais que alertasse sobre o perigo não lhe deram atenção.

A Estação Ferroviária foi invadida sendo o telegrafista Joaquim Cavalcante e o Agente Manuel Evangelista tornaram-se prisioneiros dos cangaceiros. A bilheteria foi saqueada, o telégrafo foi destruído a coronhadas de mosquetão. O telegrafista foi obrigado a arrumar uma alta quantia em dinheiro para não ser morto. O agente foi obrigado a mostrar as casas dos comerciantes que seriam extorquidos.

No momento da entrada dos cangaceiros o Juiz Manoel Hilário do Nascimento conversava com alguns amigos, dentre eles o Tabelião José Francisco, quando chegou preso pelo cós da calça o Oficial de Justiça Alvarino que disse:

- Doutor, o Capitão Lampião!

Lampião a notar que o Juiz, o Escrivão, o Oficial de Justiça e o Tabelião eram negros, disse:

- Que terra desgraçada, toda justiça é negra!

O cangaceiro Mariano e seu grupo se dirigiram ao comércio do senhor Umbelino Joaquim de Santana que tinha farmácia e um depósito com produtos da região, tais como: Mamona, Ouricuri, Tecido, Bebidas, Peles e Gêneros Alimentícios. Os cangaceiros comeram, beberam e saquearam vários produtos. Os cangaceiros mostraram uma relação com nomes dos comerciantes que iriam ajudá-los dando dinheiro e o nome de Umbelino vinha em primeiro plano na lista. Umbelino saiu e foi procurar Lampião e quando o encontrou disse que já tinha aberto as portas do seu comércio para os cangaceiros e queria que Lampião tirasse seu nome dessa relação de contribuição, sendo de pronto atendido pelo cangaceiro.

Lampião se dirigiu ao quartel e lá chegando pegou os soldados e o sargento desprevenidos dando-lhes ordem de prisão. O cangaceiro soltou os presos das celas e prendeu os soldados.

Sargento Evaristo Carlos

Os cangaceiros foram à casa do Juiz Manoel Hilário e o Juiz foi quem fez a relação de pessoas que poderiam contribuir com dinheiro. A arrecadação ficou a cargo do coronel Elias Marques.

O cantor e violonista Antonio Rosa dos Santos sabendo da invasão dos cangaceiros saiu às ruas para conhecer Lampião. Antonio foi reconhecido pelo cangaceiro e acabou cantando várias músicas que muito agradou a Lampião e seus comandados. Lampião deixou Antonio cantando e foi para o quartel onde foi executar os soldados. Dos 8 policiais presos só escapou o comandante do destacamento, o sargento Evaristo Carlos da costa. O sargento acompanhou os cangaceiros no espaço de tempo que eles permaneceram na cidade, portando um fuzil sem balas no ombro.

Quando lampião invadiu a casa do escrivão da Coletoria Federal o senhor Amphilóphio Teixeira, observou que sua esposa Austrialina Teixeira, conhecida pela alcunha de dona Santinha, usava um belíssimo trancelim de ouro no pescoço. Dona Santinha vendo o interesse de Lampião pela jóia retirou-a do pescoço e a ofereceu ao cangaceiro que diante da cordialidade da senhora falou:

- A senhora tem direito de me fazer um pedido, dizem que bandido não tem palavra mais eu quero mostrar a senhora que tem!

Santinha pediu para que não matassem o sargento Evaristo, pois tratava-se de um cidadão correto, bom pai de família, religioso e de caráter.

O sargento escapou, porém os soldados foram executados barbaramente. Os soldados mortos foram: Olímpio de Oliveira, Aristides Gabriel de Souza, José Antonio Nascimento, Inácio Oliveira, Antonio José da Silva, Pedro Antonio da Silva e Justino Nonato da Silva.

O sargento teve que carregar nas costas a culpa de ter sido traidor e responsável pelo fato acontecido sendo relapso na segurança dos seus comandados e da cidade. Depois do ocorrido o sargento teve que responder um longo processo por negligencia. O processo foi concluído em 1931 e Evaristo foi absolvido por unanimidade. O sargento morreu em Santaluz em 1978, com 86 anos de idade.

Santo Antonio das queimadas que viu os moribundos sobreviventes de Canudos, o exército que trafegava na velha Maria fumaça que cruzava a cidade, viu também as marcas geradas e deixadas pelo cangaço quando diante da população aflita e indefesa presenciou o assassinato de 7 soldados da polícia baiana. As marcas permanecem feitas feridas que não saram, as dores eclodem em cada triste lembrança daquele fatídico mês de dezembro de 1929 e hoje quando se comemora o Natal as luzes da cidade acendem velando as almas daqueles homens que foram impiedosamente exterminados pelas mãos que fizeram uma história manchada de sangue, capítulos que não se calam, feito ecos permanentes que se transfiguram nos sons que ecoam nas páginas tristes e sangrentas que permeiam capítulos vividos e que o tempo não apaga de nossas memórias.

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