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quinta-feira, 9 de novembro de 2017

CEL. MANÉ NETO ESGTº ZÉ SATURNINO X L A M P I Ã O NO TIROTEIO DA FAVELA.

Por Leonardo Gominho (Pesquisador/escritor)

Lampião foi ferido gravemente na fazenda Tigre, em Floresta, retirando-se para o município de Tacaratu para ali se tratar, restabelecendo-se por fim em uma das fazendas de Ângelo da Jia. Com força total, voltou três meses depois a espalhar o medo. Apareceu na região do riacho São Domingos, seguindo para os povoados de São Francisco e Santa Maria. Entrou no município de Floresta e passou pelas fazendas Campos Bons, Cachoeira, Exu e Arapuá, dormindo no dia 10 de novembro (1926) na fazenda Favela, a cerca de 12 quilômetros da cidade. Cerca de 90 homens sob o comando do sargento José Saturnino e anspeçada Manuel Neto seguiam-lhe a pista.

Diz Marilourdes Ferraz (O Canto do Acauã, 1 ed., p. 245) que a força “encontrou Emiliano Novais, certamente indo ao encontro de Virgulino Ferreira. Interrogado, não forneceu quaisquer informações; apenas por considerar seus parentes, Manuel Neto o libertou”. “Emiliano foi imediatamente ao encontro de Lampião avisar que Manuel Neto tomava aquele rumo.”

E quando, na madrugada do dia 11 (alguns autores, erradamente, dão esse fato como acontecido em agosto), a força chegou à Favela, já encontrou uma grande emboscada. Sem desconfiar, Manuel Neto bateu à porta da fazenda. Perguntaram quem era.

- É Manuel Neto.

Pediram para aguardar. De repente, a parte superior da porta se abriu e uma tremenda descarga foi dada para o lado de fora da casa, tombando mortos dois soldados, sendo outros feridos.

João Gomes de Lira (obra citada, p. 339) diz que, assim que os bandidos recolheram as armas, Manuel Neto, que se encostara ao pé da parede, ao lado da porta, “sem perda de tempo, botou a boca do mosquetão para o lado de dentro, fazendo fogo.”

De outra casa partiam tiros, levando pânico aos soldados em campo raso. Da parede do açude diversos cangaceiros alvejavam os homens de José Saturnino que recuou com vários feridos e mortos em seu grupo. Cerca de duzentas armas vomitavam fogo e “o mundo” encobriu-se de fumaça. Os bandidos viam Manuel Neto lutar como poucos. Provavelmente nesse combate o nazareno ganhou dos companheiros o apelido de Manuel Fumaça. Lampião preferia chamá-lo de Cachorro Azedo, face a sua disposição em persegui-lo.

A frágil posição das forças, com as violentas retaguardas dos cangaceiros, entretanto, não permitiram uma maior resistência. Depois de 3 a 4 horas de fogo, os soldados começaram a se retirar, resistindo bravamente Manuel Neto até o último momento. Vendo ao seu lado um punhado de combatentes e com inúmeras perdas, resolveu o anspeçada recuar, levando os feridos para Floresta.

Na cidade, somente depois que deixou de ouvir o tiroteio é que o capitão Muniz de Farias se dispôs a socorrer os companheiros, para ali seguindo com 70 a 80 praças. Segundo João Gomes de Lira (obra citada, p. 341), Muniz encontrou o anspeçada no caminho. Vinha “dando esturros de todo tamanho. Vinha mesmo faiscando de todo jeito por ter Lampião ficado na cava”. Pediu ao capitão a sua força, disposto a, no mesmo momento, perseguir os bandidos. O capitão negou.

“Indignado” - conta Lira -, “disse coisas pesadas ao superior.” Muniz ainda foi até à Favela, nada encontrando. Ainda segundo Lira, o capitão, “por não gostar da família Novaes, incendiou as casas da grande fazenda. Foi bem elevado o prejuízo que o proprietário, Sr. Antônio Novaes, sofreu.” Marilourdes Ferraz esclarece que o capitão mandou “atear fogo aos cercados da Favela.”

A 15 de novembro de 1926, o Comandante das Forças Volantes, major Theóphanes Ferraz Torres, passou ao Comandante Geral da Força Pública o seguinte telegrama:

“Sindicando sobre tiroteio fazenda Favela, tenho satisfação de dizer que tal acontecimento foi um dos feitos de maior valor praticado no interior do Estado, pela nossa heróica Força Pública. Bandidos em número superior sabiam que José Saturnino e Manuel Neto marchavam em perseguição, de modo que, ao chegarem em lugar apropriado e absolutamente favorável a eles, esperaram força em campo raso, de surpresa receberam as primeiras descargas, travando-se luta verdadeiramente encarniçada, durante algumas horas.

Após o tiroteio grupo foi encontrado rumando direção serra Umã conduzindo cinco bandidos feridos. Foi também encontrado um bandido morto no local do tiroteio, afora os que de certo o grupo pôde ocultar. Saudações.”

Em reconhecimento ao esforço de Manuel Neto, o capitão Muniz, chegando a Floresta, “pediu por ato de bravura a promoção de cabo para o anspeçada”, sendo imediatamente atendido.
Fotos: pescadas no Google



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