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sexta-feira, 23 de novembro de 2018

...NA ESTRADA TORTUOSA DO CANGAÇO! EM BUSCA DA VERDADE, SEMPRE.


Por Sálvio Siqueira

A história do Fenômeno Social Cangaço, do cangaço brasileiro, por incrível que pareça é muito complexa e polêmica devido, desde seu início, não haverem tido a preocupação de um arquivamento da “passagem” da mesma. O período mais estudado é o lampiônico, que sendo o último, encontrou-se ‘provas vivas’, remanescentes de todos os lados participativos: cangaceiros, volantes, coiteiros e etc.. Mesmo assim, há um desencontro no encontro das narrativas dos fatos, tanto relatados por ex-cangaceiros quanto por ex-volantes e ex-coiteiros. Não batem as narrativas devido aos mesmos puxarem a ‘sardinha para sua brasa’ todas as vezes que relatavam o mesmo passado.

Ou seja, a mesma personagem histórica conta de variadas formas um ato ocorrido em que esteve presente. De todos os fatos polêmicos, o que chamou, sempre, mais atenção foram à maneira, modos, da morte do seu maior símbolo, Lampião. 


Virgolino Ferreira, o chefe cangaceiro Lampião, destaca-se na historiografia devido a sua longevidade atuante, 20 anos de cangaço, sendo o maior tempo em que um chefe cangaceiro comandou um bando de bandoleiros em toda a história do Fenômeno Social que se inicia por volta de 1756, com o cangaceiro “Cabeleira”, até seu fim no primeiro meado de 1940, com a morte do cangaceiro “Corisco”.

Lampião, em seu reinado sangrento, usou de estratégias de Guerra de Movimentos, Guerrilha, como ninguém jamais as havia usado, usou de táticas de espionagem e contra espionagem, cativou peregrinos, roceiros, vaqueiros e outros com doações formando assim uma imensa malha de proteção e colaboradores. Essa malha é enriquecida com a participação direta de grandes latifundiários da época, ‘coronéis’, políticos, militares e comerciantes, os quais cuidavam do abastecimento das necessidades do bando tais como equipamento bélico, roupas, alimentação e etc.. A principal fonte de colaboração eram as informações recebidas e a contra informação repassada, dando tempo de uma retirada estratégica sem sofrer baixas. Claro que ocorreram ocasiões em que a coisa não saiu como o planejado e o ‘caldo’ engrossou, tendo de haver um embate não programado.

Nos combates contra a Força Pública planejados, programados, Lampião sempre se saiu vitorioso. Sendo destacados três desses confrontos como os maiores, respectivamente, temos “O Combate da Serra Grande”, “O Fogo da Maranduba” e o “O Fogo do Serrote Preto”. O primeiro é considerado como a maior derrota da PMPE em todos os tempos. O segundo, segundo participantes, onde se deu o maior volume de tiros e o terceiro, uma das maiores emboscadas aonde o próprio Lampião se colocou como ‘isca’. 


Pois bem, Lampião, na manhã do dia 28 de julho de 1938, estando com seu bando acampado no leito do Riacho Angico, e arredores, margens, na fazenda Forquilha, hoje Poço Redondo, SE, é atacado por uma volante alagoana comandada pelo Tenente João Bezerra da Silva, natural de Carnaíba, PE. O tenente dividiu sua tropa em três frentes, uma ficou com ele, outra com o sargento Aniceto e outra com o Aspirante Ferreira de Mello. De onde estavam, Alto das Perdidas, em relação ao acampamento, citaremos aqui com exclusividade a tolda de Lampião, distanciava uns 200 metros, O comandante teria que percorrer o menor percurso, seguiria diretamente para o alvo. O sargento Aniceto faria o maior, pois teria que segui em linha reta e, mais adiante, fazer uma conversão para a esquerda, atravessa o leito do riacho e desce no sentido das águas tentando barra uma via de fuga. O Aspirante Ferreira de Mello divido seu grupo em dois.

Sendo ao todo cerca de 15 homens, ele e mais quatro entram no leito do riacho e seguem em direção contrária a descida das águas. O restante dos seus homens, sob o comando do cabo Bertoldo, senguem no mesmo sentido só que por cima da barreira direita dando cobertura aos homens embaixo.


Na sequência, Aniceto topa com o subgrupo de Zé Sereno que, estando há uns 70 metros do leito do riacho, na margem esquerda, entram em combate. O comandante, nesse momento está entre dois fogos, dos cangaceiros que estavam acampados na margem direita do riacho, Alto das Umburanas, e os próprios que estavam no leito junto ao chefe mor, ainda teriam que se preocuparem com os cabras de Zé Sereno que estavam mais a direta da sua posição respondendo aos tiros da tropa de Aniceto. Por fim, o Aspirante com seus homens, tomam o caminho mais adequado para se pegar à ‘presa’. As vezes estavam na margem direita e as vezes no próprio leito do riacho, eles vão subindo o morro com cautela e dedos nos gatilhos.


A maior aproximação de todos os três grupos foi do Aspirante Ferreira de Mello que na ocasião portava uma metralhadora Bergmann que havia tomado emprestado ao comandante de volante Odilon Flor no dia anterior em Pedra de Delmiro, AL. 


Nós, em pesquisa de campo, fizemos duas expedições, em 2016 e em 2018, na Grota do Riacho Angico, onde passamos de um dia para o outro. A primeira expedição foi devido os dias serem os mesmo, as datas se coincidirem, o dia 27 ser numa quarta-feira e, evidentemente, a quinta-feira cair no dia 28 de julho. A última foi devido à comemoração dos 80 anos da morte do “Rei dos Cangaceiros”. Encontramos vestígios, cápsulas, bolotas e estilhaços de chumbo no leito do riacho e em suas margens, direita e esquerda. O detalhe maior vem a ser a prova do uso da metralhadora Bergmann no leito do riacho.
O tempo de combate, entre o primeiro e último tiro não pode ter sido de vinte minutos, pois teria feito mais vítimas, inclusive da Força Pública, onde só ocorreram três militares feridos, dentre esses um soldado morto, o soldado Adrião e, entre os cangaceiros, pereceram 11 baixas fatais.


Nos objetos recolhidos de Lampião existem provas contundentes de que ele foi atingido no tórax e abdome com projéteis de calibre menor do que o usado no mosquetão. Porém, em sua fonte direita aparecem resquícios de um tiro desse fuzil. Nas cartucheiras, de ombro da cintura, aparecem perfuração que não levam a crer que sejam de um projétil de grosso calibre, pelo contrário. Na bainha de seu punhal, e lâmina, aparecem em vários registros fotográficos e que era usado única e exclusivamente para sangrar, uma marca provável de uma bolota de chumbo. Se prestarmos atenção nos estragos feitos pela bala, notaremos que não pode ter sido da bala de um fuzil e sim de um calibre menor. Em um dos ‘pentes’, carregadores, do mosquetão Mauser 1922, usado por Lampião, também encontramos ‘rastros’ de projéteis que atingiram o mesmo. Das cinco cápsulas, existentes no pente, todas são atingidas causando marcas, porém, de projéteis de menor calibre. 


Quando se dispara uma metralhadora não se tem a mira plena, segura, no alvo. A rajada sequencial leva as balas para a direita, para a esquerda, para cima e para baixo sem deixar o atirador ter os disparos num único sentido.


O pesquisador, escritor, sociólogo Frederico Pernambucano de Mello, em uma entrevista num programa televisivo relatou sobre saber quem teria sido o ‘verdadeiro matador de Lampião’. A narrativa do pesquisador não se encaixa com os fatos apresentados nas provas contundentes apresentadas sobre os ferimentos balísticos em que sofreu o corpo de Lampião naquele ataque. Não há razão, tão pouco sustentação alguma, para crer-se que o soldado Santo tenha atirado primeiro e em Lampião, tão pouco está com o coiteiro Pedro de Cândido amarrado a si. O soldado Santo se destacou na degola dos cangaceiros, ou seja, na separação das cabeças dos cangaceiros mortos de seus corpos.


Depois tem a prova maio do tiro no crânio de Lampião, que foi “a queima roupa”, bem próximo. A distância quanto maior mais o estrago da bala de um fuzil é maior. Prova disso, a maneira como ficou o crânio da cangaceira Enedina. O pesquisado Geraldo Antônio De Souza Júnior refere em matéria do seu grupo de estudos “Cangaçologia”: “Na cabeça “mumificada” de Lampião, que na ocasião do registro fotográfico, encontrava-se exposta no Museu do Instituto Médico-Legal doutor Nina Rodrigues em Salvador/BA, podemos ver claramente duas marcas, sendo uma na face direita (Mandíbula) provocada por um tiro disparado à queima-roupa pelo soldado Volante José Panta de Godoy, durante o ataque da Força Policial Volante alagoana ao coito de Angico no dia 28 de julho de 1938 e uma segunda marca na região temporal que foi provavelmente provocada por coronhadas ou por algum objeto contundente (Laudo) utilizado pela soldadesca movida pela cólera.”


As balas na altura do coração e no abdômen do bandoleiro líder, assim como no pente das balas do mosquetão, provão o contrário do que narrou o pesquisador citando serem as palavras do soldado Santo. Santo, com certeza, depois de não haver mais ninguém para contestar suas palavras, ‘resolveu’ falar. Mas, o que ele falou não é a verdade, tão pouco próximo a ela. Pelo simples motivo do soldado pertencer ao grupo que ficou com o tenente comandante da ação. Sendo que esse só consegue aproximar-se depois de vários cangaceiros já encontrarem-se abatidos no vão da grota do riacho, inclusive Lampião. Quem abateu a maioria dos cangaceiros foi à tropa comandada pelo Aspirante Ferreira de Mello, que ao avançarem pelo leito do mesmo, chegaram encima daqueles que estavam com suas toldas junto a tolda de Lampião. A nosso ver, o pesquisador, escritor e sociólogo, já em seu final de carreira, não deveria afirmar, confirmando, o que disse o soldado Santo, pois, acreditamos que o mesmo saiba das inúmeras versões do acontecido. Afirmar tal citação é muita responsabilidade histórica, se é que a história vale de alguma coisa para alguns pesquisadores/escritores.

Fotos
http://xn--lampioaceso-d8a.com/
Cangaçologia
Revista o Cruzeiro
Revista A Noite
As demais citam a quem o acervo pertence.

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