Por
Verluce Ferraz Ferraz
Seria uma
coincidência, mas, mesmo assim, podemos analisar no plano da estrutura que a
Maria não era tão igual as demais mulheres de sociedade familiar e parental.
Era algo inédito e isolado, o fato da mesma separar-se do marido,com uma
simples explicação que o Zé de Neném, seu esposo, gostava de deixá-la em casa e
ir vadiar nos forrós; ambos fingiam e fugiam aos deveres impostos pelo
matrimônio. Ele jamais se mostrou marido amoroso, tampouco ela.
Tomarei por
base três livros de escritores renomados para comparação e prosseguir com os
meus estudos. Não me distanciarei até que apareça outra razão para conseguir
meu intento: descobrir se houve alguma passagem para separar o fruto de dentro
da casca; ou se mudou por efeito de algum caso incidente. Maria de Déia, esposa
de Zé de Neném; Maria, do Capitão; Maria, de Virgulino; Maria, de Lampião.
Afinal, todo um grupo de estudiosos tentam compreender os comportamentos de
cangaceiras, e encontrar um método que aproxime da verdade. O caso já fez com
que muitos empreendessem longas caminhadas, longas viagens, para entenderem o
que se passava na cabeça e pensamentos da Maria. Teria jogado seu lado feminino
ou percebido o que entendemos hoje por desejos iridescentes no cangaceiro
Virgulino? Não nos antecipemos. Antônio Amaury Corrêa de Araújo, escritor
paulista que dedicou a maior parte de seu tempo a literatura cangaceira, em sua
obra ‘Lampião, As Mulheres e o Cangaço’, foi lá em Tróia, no Egito, na Grécia,
na Germânia, América e Brasil, lembrando vários nomes de mulheres que uniram-se
aqueles que participaram de guerras, movimentos místicos, combates, auxiliando
e vivendo dramas e tragédias, até chegar nas mulheres cangaceiras que se
tornaram errantes nos Sertões do Nordeste brasileiro. Descreve até algumas que,
elas mesmas, foram causadoras ou pacificadoras de guerras. Algumas crianças,
meninas e moças, encontradas de clavinote em punho em meio das refregas,
fuzilando ou fugindo em meio às balas. Outro escritor, João de Souza Lima, em
seu livro ‘A trajetória guerreira de Maria Bonita, a rainha do cangaço’, fala
na frequência de Virgulino no Sítio do Torá, residência do Senhor Antônio
Felipe Oliveira, coiteiro de Virgulino, tio de Maria de Déia. Na época a Maria
vivia se separando do marido, e sempre escolhia os conselhos e a companhia da
prima Maria Rodrigues, para a seguir. A jornalista e escritora Adriana
Negreiros, autora do livro Maria Bonita, sexo, violência e mulheres no cangaço,
escreve ‘A impetuosidade de Maria de Déa dava margem a comentários maliciosos
nos arredores de Malhada de Caiçara. Dizia-se à boca miúda que, embora
indignada com as puladas de cerca de Zé de Neném, Maria não era a mais devotada
das esposas. Segundo um dos boatos que corriam em Santa Brígida, na ausência de
uma atuação mais vigorosa de Zé de Neném, cabia ao comerciante João Maria de
Carvalho a tarefa de tentar apagar o fogo da mulher.’. Se assim o dizem,
acabamos de desacreditar numa vulgar história de amor entre a Maria de Déia e
Virgulino, o Lampião. Em três obras de renome, tentamos encontrar aproximações
para incluir no meu trabalho arqueológico (Psicologia do Cangaço) que busca o
momento ideal que aproximou a Maria do Virgulino; ou a Maria do Capitão; Maria
Bonita, de Lampião. Estariam ambos, ociosos na caminhada, na busca de uma
parceria para os complementar em suas necessidades libidinais? As
características amorosas se diluíam nos tempos, até chegarem à descoberta de um
pano bordado que tanto atraíam Virgulino. Ele pergunta para a mulher Maria, se
ela sabe bordar; a mesma confirma que sim; aceitando os desenhos e agradando o
cangaceiro. Provável ressurgem daí a mais plena satisfação de Virgulino que,
tinha na mente a irisdescência de seu estilo exótico. Maria jogou o laço de
seus bordados, conseguindo excelentes resultados. Na época, difícil se
compreender o propósito de Lampião permitir o ingresso de uma mulher em seus
grupos; as mulheres eram excluídas pelos tabus que Virgulino levara para dentro
do cangaço, ao repetir que mulher amolecia homem; que mulher deixava-os feito
melancia onde faca entra fácil.
No estudo
levei em consideração os bordados da Maria de Déia, ou Maria do Capitão; ou
Maria Bonita e Lampião - neles encontrei o penhor e razão de um retorno ao
inconsciente de ambos - fetiches e inversão, razões ocultas da aproximação de:
Virgulino, o Lampião com Maria de Déia, ou Maria Bonita.
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