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quarta-feira, 1 de abril de 2020

UM SAGUI CONDENADO À MORTE POR PURA PERVERSIDADE.

Por José Mendes Pereira 

Não existe na terra um vivente mais perverso do que o bicho homem. Os animais matam os outros animais para se alimentarem porque a natureza os fez carnívoros. Já o bicho homem mata por pura perversidade.

Na floresta o homem corta as árvores. Na fauna ele mata os animais e pássaros. Nos rios e açudes ele mata os peixes. No mar ele mata as baleias com arpões como troféus. Mata os golfinhos, os botos rosas como se ele servissem para simpatias. Mata os peixes-bois, e para completar, polui o mar com óleo e petróleo, que estes líquidos deveriam estar lá em baixo do solo, nos seus devidos lugares de origem.

Não o prenda! Deixa eles em liberdade.

Quando eu ainda tinha 12 anos de idade e sempre que saía de casa para alguns afazeres da pequena propriedade do meu pai levava comigo uma baladeira (estilingue que para os mossoroenses ela é mais conhecida como baladeira), um embornal e uma porção de pedras miúdas, para ver se eu matava algumas rolinhas ou até mesmo preás, mortes que meus irmãos e eu fazíamos escondidos do nosso pai, porque ele não queria de forma alguma que nós matássemos os pássaros e preás, aliás, nenhum animal. Mas nós o desobedecia sem ele saber, teimosos e malvados, assim como são quase todas as crianças do mundo, principalmente os meninos, que quando estão armados com estilingues não resistem ver pássaros ou animais de pequenos portes em sua frente, e a partir dali, começam a perseguição até matá-los.

Não os prendam!

Nesse dia, eu parei de guerrear, isto é, de matar qualquer tipo de vivente, só porque o que eu fiz com um saguí (soinho) me deixou com a mente frustrada, arreada e me sentindo culpado, caso aquele pobre animal morresse.

A minha intenção era apenas feri-lo e assim que ele caísse no chão eu iria capturá-lo para criá-lo acorrentado, mesmo escondido do meu pai, lá na casa do meu avô que era ao lado.

Assim que entrei no mato vi um grupo de saguí e no meio de alguns velhos e filhotes eu mirei um velho, e de pressa atirei sem puxar muito as ligas da baladeira, derrubando o pobrezinho que nenhum mal tinha me feito.

Veja o desejo que ele tem de ganhar a liberdade.

A maior dor que eu sentir talvez maior do que a dor do soinho foi quando ele caiu no chão e os seus familiares ficaram alvoroçados pulando de galhos para galhos, com uma alarida baixinha, mas muito triste, como se toda família estivesse chorando. E quando eu vi o soinho atingido pela pedra, passando a sua minúscula mãozinha sobre o local que a pedra havia pegado, bem ao lado das costelas, e a levava à altura dos seus olhinhos redondinhos e pequeninos e ficava olhando, como se estivesse querendo ver se estava sangrando muito, e eu vendo esta cena triste minha mente arreou de vez, e ali, junto com eles eu chorei e chorei muito. O soinho repetiu várias vezes esta cena triste, sentadinho no chão. Aquilo me doeu tanto, tanto que a partir dali eu não mais queria de forma alguma um animalzinho em minha casa preso por uma corrente.

Os outros tentavam descer dos galhos para socorrê-lo, mas temiam, porque o perverso (eu) ainda estava ali. Após vê-lo passando a mãozinha na possível enfermidade nem tentei mais capturá-lo, e o que eu queria por último, era vê-lo subir nos galhos da árvore e que fosse embora viver a sua vida.

Pai, mãe e filho

Eu permaneci ali, esperando que ele se recuperasse da pedrada e na árvore subisse. Com alguns minutos depois ele foi se equilibrando, recuperando-se, e em seguida, com muita dificuldade, subiu na árvore, e num ganchinho ele se amparou, e por sentir dores, ficou lá caladinho e bem quetinho.

Que perversidade minha! Um animalzinho minúsculo que nem serve para alimentar ninguém, apenas para qualquer um de nós seres humanos admirá-lo. Meu Deus! Ainda hoje quando me lembro desta cena triste sinto como se estivesse acontecendo agora, e que eu deveria pagar pela tamanha perversidade que fiz contra o animalzinho.

Estes estão presos. Que malvadeza!

Não me lembro mais quantos deles faziam parte da sua família, mas no dia seguinte eu sair de casa bem cedinho e um pouco distante do lugar do dia anterior, vi toda família. Todos estavam ali, não faltava ninguém. Ele tinha se recuperado.

Se você pensar bem jamais matará um animal por perversidade. Deixa ele viver assim como nós, feliz no meio da sua família. Que tristeza um animal sente quando uma ovelhinha da sua família morre ou perde para mãos perversa só na intenção de criá-lo acorrentado!

http://blogdomendesemendes.blogspot.com

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