Autor: José Di Rosa Maria
1
Sem ajuda essencial
Padeci como ninguém;
Pra vocês comerem bem,
De recompensa me vem
O que me deixa infeliz,
Confesso que nunca quis
Ser visto como um encosto,
Sendo pago com desgosto
Por tudo de bom que fiz.
2
Magoado e indefeso
Recebo como prelúdio,
De cada filho, desprezo,
De toda nora repúdio;
Sentindo a dor do tripúdio
Desferir meu coração,
Percebo a ingratidão
Desfazer o que foi feito
Pela falta de respeito,
Amor e compreensão.
3
Não me botem no abrigo
Com vocês quero ficar;
Eu não mereço o castigo
De ser expulso do lar,
Sofri para sustentar
Vocês, encarando a lida,
De reputação ferida
Vejo-me sem alegrias,
Quero terminar meus dias
Com quem convivi na vida.
4
A velhice cobra caro
Os erros da juventude,
Sonegação de amparo
É falta de atitude;
Eu quando jovem não pude
Me divertir como tantos,
Nas garras dos desencantos
Narro meu próprio dilema,
Na extensão do poema
Feito da dor dos meus prantos.
5
Lamento ser um decano
Sem o cuidado devido,
Apesar de ser humano
Ser pelos meus, esquecido;
Com o meu peito ferido
Pelo desprezo mesquinho,
Padeço por ser velhinho,
Sem um beijo ou um abraço,
Despejado num espaço
Para quem se vê sozinho.
6
O homem que se abdica
Pela família que ama,
Depois que idoso fica
Sua vida vira um drama;
Quando doente se acama
Sente o prestígio fugir,
O desespero surgir,
A decepção doer
E o receio bater...
De que vai ter que partir.
7
Enquanto meus passos beiram
O abismo do meu fim,
Suponho que vocês queiram
Ficarem livres de mim,
Não era pra ser assim
O que presencio agora;
Triste de quem ignora
O valor dos meus esforços,
Vocês sentirão remorsos,
Depois que eu for embora.
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