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sexta-feira, 9 de dezembro de 2011

E QUE RIAM AS HIENAS

Quando eu for, morrer, quando chegar minha vez, que seja de repente para que meus conhecidos algozes não tenham tempo de fazer conjecturas sobre a causa mortis. Sim, que seja tão ligeiro o corte da foice que tudo o que possam dizer seja apenas: Foi-se! Assim, rápido e sem explicação. Conversei com ele a pouco, dirão alguns; parecia tão bem, lamentarão alguns poucos lá no Bom Dia Brasil.
Quando tocar a derradeira badalada... Eu queria que fosse sem dor e que já se estivessem grandes os meus filhos e cansada a companheira de guerra, mas como todo bom canalha, não quero descansar em batalha. Queria que fosse após as dez da manhã, hora chique para acordar, queria que fosse sozinho em meu recanto, sentado ao sofá, portando importante livro, livrando-me a goles de vinho, assim, sozinho, com meus botões.
Quando enfim, me encontrar com a última donzela, aquela que espero bela, que não divulguem, não contem tal piada em horário impróprio sob pena de processo. Deixem que meu regresso seja na entoca. Uma brilhante fuga em plena luz do dia, um drible em quem sempre torceu contra, com direito a gol de placa, mas sem entrevistas no final. Não me queiram tanto mal.
Não depositem sobre o meu féretro nenhuma bandeira ou insígnia, também não quero o mau uso das flores em meu derradeiro jardim. Guarde-as para defunto mais ilustre e amostrado... Conheço gente que passou a vida esperando os louros e louvores post mortem, mas eu não. Não espero nada, apenas que tenham para comigo o respeito que me faltou em vida. Não peço muito, apenas que haja silêncio nos primeiros quinze minutos da descoberta de minha partida (silêncio é bom e eu gosto), e passado o quarto de hora, podem desatar nas fofocas e frases feitas: era tão bom o moço, descasou, encontrou o que tanto buscou na vida, agora está com Deus... Com Deus? Já foi tarde!
Fui, sou um vivo maçante e malquisto, fora de moda e idealista, mas prometo aos meus compatriotas que não haverá nesta alta aldeia cadáver mais quieto e dentro dos padrões da estética oficial. Faço, no entanto, um último pedido: Não me enterrem. Sofro de claustrofobia e a frieza da terra decerto me fará algum mal, principalmente à minha desafinada garganta. Já pensou que coisa mais feia um defunto sufocando e sem voz? Dispensem os sete palmos de terra. Contrariem a vigilância sanitária e deixem-me inerte no coreto da praça, próximo ao elefante. Quero, graveolante, perfumar a cidade, incomodar os sensatos narizes, e dali, quase ao fim do espetáculo, serei o alimento aos vira-latas que cuidarão de me espalhar todinho pelas ladeiras destas serras sem calor.
Postado por Lucivaldo Ferreira
 Bastante interessante e um pouco cômico. 

Extraído do blog:"BOOM", do amigo André Vasconcelos

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