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sábado, 22 de setembro de 2012

LINDA? (Crônica)

Por: Rangel Alves da Costa (*)
Rangel Alves da Costa

Reconhecimento de beleza em mulher não é tarefa que seja fácil, não é novelo que se desenrole jogando ao chão. A maioria se contenta com a beleza física, com o rosto e o corpo bonitos, com o tamanho da bunda ou a grossura das coxas. Ledo engano, pois vai muito além.

Também não vou enveredar no senso comum para dizer que a beleza de uma pessoa está muito mais no seu interior, ou beleza espiritual, do que simplesmente naquilo que ela apresenta como atração do lado de fora, no que aparenta fisicamente.


Nem tanto dentro nem tanto fora, pois a beleza é fruto de uma junção do visível e do que somente se percebe a partir do relacionamento com a pessoa. Neste sentido, não conhecendo nada além da aparência física, o jeito é, equivocadamente, se contentar afirmando que nunca viu nada mais belo na vida.

O problema é que, estrutural e aparentemente, casas também são bonitas, carros são perfeitos, equipamentos são irretocáveis. Mas por dentro podem ser verdadeiras aberrações, umas imprestabilidades. E pessoas não são objetos para receber selo de qualidade apenas pelo rosto dengoso, o olhar de oceano nem o corpo de geografia.

Mas por outro lado, não deixo de dar alguma razão aos que se contentam com as aparências. Ora, se gostam e se contentam em apenas ver, olhar, admirar, então tudo bem. Mulheres passam que são verdadeiras deusas, encantam igualmente sereias. Os castelos de areia também são bonitos, mas não suportam o sopro do vento ou a água macia.

Verdade é que na maioria das vezes não passam de castelos de areias as deusas das ruas, as embonecadas dos corredores, as chiques sustentadas nos brilhos das maquiagens. E a outra realidade, vinda do interior e que mais tarde se sobressairá em tudo, será revelada na palavra, no pensamento, na concepção de vida, no jeito de ser. É aí que o aparentemente belo pode tomar outra feição.

Creio não resistir por muito tempo a boniteza física que não conhece nada da vida além do corpo que ostenta e tanto se orgulha; creio não continuar prevalecendo a beleza física carregada de ignorância de mundo, de desconhecimento da realidade, de distanciamento de qualquer cultura educacional; creio não ir além do que fragilmente aparente a diva inimiga do saber, do estudo, da busca de uma consciência crítica sobre o contexto social.

Mas não digo que para ser bela a mulher tem de ser inteligente. Nada disso. Afirmo apenas que a burrice arraigada espanta qualquer beleza. A não ser que o outro seja do mesmo nível. Quer dizer, que também cultive todas as formas de analfabetismo. Se este for capaz de julgar além da aparência, logicamente que repensará o conceito de formosura perante aquela que da boca não sai qualquer serventia, que não expressa nada que tenha proveito, que seja o próprio conceito da mediocridade.

Entretanto, se a rudeza contumaz tem o dom de transformar o dissimuladamente belo em algo abominável, o mesmo pode ocorrer na situação inversa. Muitas pessoas tidas aparentemente como despossuídas de qualquer atração física ou mesmo avistadas como feias, de repente passam a ser vistas através dos olhos da inteligência e se transformam em verdadeiramente belas, lindas.

E por quê? Ora, o espírito afável, terno, lúcido, companheiro, tomado de luz e felicidade; a mente possuidora de julgamentos, de valores, noções, ideias, visão de mundo, conhecimento da realidade, inteligência; a boca que sabe se abrir, sabe falar, sabe quando deve se expressar; a palavra bonita, generosa, confiável, carinhosa, sempre com o dom de agradar; o ser humano sensível, agradável, cortês, honrado, que transmite confiança e segurança.


Por isso mesmo a mais bela, a mais linda do mundo, não é nem será aquela cuja beleza seja apenas exterior. O beija-flor não se contenta apenas com a cor da flor, mas com o seu néctar; o passarinho não pousa apenas no umbral da janela bonita, mas naquela que lhe dá acolhida; a moringa só tem importância pelo que guarda lá dentro.

Seja negra, pobre, moradora dos escondidos do mundo, um ser que ninguém acredita ou valoriza, mas será tão bela quanto a flor, linda feita a manhã, ao ser avistada e nela reconhecer-se não apenas o corpinho sexualmente admirável ou o rosto rosado de maquiagem, mas a mulher espiritualmente forte, consciente de si, que conhece a sua realidade e mais além, e perto dela o outro ouvirá a palavra bonita, o gesto de conforto, tudo que possa alegrar coração.

(*)Poeta e cronista
e-mail: rac3478@hotmail.com



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