Por João de Sousa Lima
Em mais
uma entrevista exclusiva, o escritor e pesquisador João de Sousa Lima,
encontrou o ex-volante e hoje sargento Gérson Pionório Freire, aposentado
da PM-BA, morador de Paulo Afonso e com 97 anos bem vividos e, tendo seu nome,
marcado nas páginas da história das refregas do Estado contra o Cangaço movido
a todo vapor por Virgolino, vulgo Lampião, principalmente nas décadas de 20 e
30 do século XX na Bahia e em Sergipe.
Sendo
este senhor nonagenário, volante integrante dos mais temidos comandantes que
farejavam a todo momento os rastros dos facínoras e, sendo que, os mesmos
militares também fizeram pousada em Paripiranga: José Osório de Farias(Zé
Rufino) e Odilon Nogueira Souza (Odilon Flor). Dois pernambucanos,
contratados a serviço do Governo da Bahia, no combate ao Cangaço, sendo os
mesmos temidos pelo próprio Virgolino.
Nesse
ínterim, veio à luz mais uma entre tantas informações sobre a presença de
volantes e cangaceiros em Paripiranga, além de que, dos 3 últimos integrantes
do grupo de Virgolino entre nós, um deles é natural de
Paripiranga(José Alves de matos-Vinte e Cinco), confirmou-se a
estadia no quartel local da musa do Cangaço, Sérgia Ribeiro da Silva (Dadá),
esposa de Cristino Gomes da Silva Cleto (Corisco), após este ser morto pela
volante de Zé Rufino em maio de 1940. Dadá morou por alguns anos na mesma
cidade do comandante Zé Rufino (seria coincidência?), após ser levada de Paripiranga
para Jeremoabo. Se recebesse indulto ainda em Paripiranga, quem sabe, poderia
ter passado algum tempo em liberdade em terras do antigo COITÉ e sua
biografia registraria este fato após a vida no Cangaço.
Dadá(à
direita) era uma excelente estilista do Cangaço.
fonte: http://www.bcc.org.br/fotos/galeria/018165
fonte: http://www.bcc.org.br/fotos/galeria/018165
Por
causa da necessidade de se retirarem os cangaceiros e as cangaceiras das áreas
de sua atuação na Bahia e Sergipe, alguns dos capturados ou vindos das entregas
feitas por essas bandas, passavam por Paripiranga, no intuito de serem
conduzidos para a estação ferroviária de Salgado, em Sergipe, para seguirem
viagem em direção a Salvador via trem da Leste Brasileira.
O
texto de João de Sousa Lima mostra fatos interessantes sobre as refregas entre
volantes e cangaceiros que resultaram numa das páginas mais doloridas do Brasil
e do Nordeste. Paripiranga também fez parte desse momento.
Gérson
Pionório: Vive em Paulo Afonso o último matador de Cangaceiros.
No dia 28 de
julho completará 75 anos da morte de Lampião, as pessoas envolvidas diretamente
na história do cangaço e que ainda se encontram vivas estão beirando os 100
anos de idade. É muito difícil encontrar remanescentes daquela época em se
tratando de cangaceiros ou os que lutaram em nome da ordem pública como
soldados efetivos ou contratados. Encontramos só três cangaceiros vivos e
soldados da volante em torno de doze. Coiteiros e pessoas que conheceram alguns
cangaceiros ainda existem uma grande quantidade.
Em Paulo
Afonso vive Gérson Pionório Freire, filho de João Miguel Freire e Isabel
Pionório Freire. O pai de Gérson nasceu nas barrancas do Riacho do Navio e sua
mãe em Chorrochó, Bahia. Gérson nasceu no dia 20 de janeiro de 1916, em Curaçá,
Bahia. Ele é um dos poucos militares que matou cangaceiros.
O Primeiro
contato de Gérson com os cangaceiros foi quando Lampião passou com seu grupo na
fazenda Guarani, em Curaçá. A fazenda pertencia ao pai de Gérson, o senhor João
Miguel. No momento estavam o pai, a mãe, Gérson, Abdias, Ulisses e Elza. Os
cangaceiros solicitaram dinheiro, ouro, sal e animais. O ouro estava em um
cupinzeiro que existia em uma das paredes e os cangaceiros não encontraram.
Pegaram cinco contos de réis que estavam no bolso de João Miguel, um cavalo, um
burro e sete jegues.
Lampião
olhou pra Gérson e disse:
- Menino venha
cá, pise aqui esse sal!
Gérson
pisou o sal e entregou a Lampião. O cangaceiro começou a colocar o sal com uma
colherinha de chá em um pequeno cumbuco de coco que o orifício de entrada era
apertado e o sal caia fora do recipiente em sua maior parte. Gérson pegou um
livro, arrancou uma página, fez um funil e colocou o sal no cumbuco. Lampião
observando a inteligência do rapaz falou:
- É morrendo e
aprendendo!
Desde
esse episódio do primeiro encontro de Lampião, alguns anos se passaram e Gérson
resolveu ser policial, sendo apadrinhado do capitão Menezes. No dia 04 de maio
de 1936, na cidade de Jeremoabo, Gérson e seus irmãos Abdias e Ulisses entraram
na volante de Antônio Inácio como contratado. Gérson passou a ser efetivo da
polícia no dia 10 de outubro de 1940.
Gérson
destacou como soldado nas cidades de Jeremoabo, Canindé, Canudos (foi
delegado), Pilão Arcado, Sento Sé, Remanso, Sobradinho, Casa Nova, Senhor do
Bonfim, Juazeiro, Napele, Tucano, Calda de Cipó, Urucé, Itabuna, Canavieiras,
Camacã, Jacareci (foi delegado), Euclides da Cunha (foi comandante), e Cocorobó
(foi delegado). Ele passou pelas volantes de Pedro Aprígio, Aníbal Vicente, Zé
Rufino e Odilon Flor.
Quando
serviu com Odilon Flor, participou do combate onde foram mortos os cangaceiros
Pé-de-Peba, Chofreu e Mariquinha. O combate aconteceu no Riacho do Negro, em
Sergipe.
A
volante de Odilon Flor seguiu os rastros dos cangaceiros e próximo a cidade de
Coité (hoje Paripiranga) chegaram na casa de um coiteiro. Os policiais cercaram
a casa, no curral tinha uma janela e avistaram umas perneiras, roupas e
garrafas de bebidas. Os policiais entraram na residência e perguntaram a mulher
sobre os cangaceiros. O marido da mulher foi chegando e os soldados deram voz
de prisão. Odilon Flor ordenou:
- Gérson vá
mais Luiz pra trás da roça e mate esse coiteiro!
O coiteiro pra
não morrer prometeu entregar os cangaceiros. A volante seguiu com o coiteiro
nos rastros dos cangaceiros indo encontrá-los às onze horas da noite. O combate
noturno travado entre 15 policiais e 08 cangaceiros foi ferrenho. Odilon Flor
foi baleado nas nádegas, os cangaceiros tiveram uma baixa de 03 componentes do
grupo. Os policiais cortaram as cabeças e ainda à noite as colocaram em um
carro de boi e levaram até Paripiranga. Na cidade, a população pôde ver as
cabeças de Pé-de-Peba, Chofreu e Mariquinha. Gérson passou a receber o soldo de
sargento depois da morte dos cangaceiros.
Quando Zé
Rufino matou Corisco e baleou Dadá, Gérson e seu irmão Abdias Pionório foram
buscar Dadá em Paripiranga e a trouxeram pra Jeremoabo. Dormiram no Sítio do
Quinto, revezando os dois irmãos a guarda da cangaceira baleada.
A
convivência de Gérson e Zé Rufino foi marcada por discussões. Zé Rufino
descontava do soldo dos soldados pra pagar o que eles consumiam dos sertanejos
e Zé Rufino ficava com o dinheiro.
O volante
participou também da prisão do matador Peixoto, assassino que aterrorizou
várias cidades baianas. O bandido Peixoto matou um rapaz em Santo Antônio da
Glória e foi preso depois de uma longa perseguição. Peixoto fugiu da cadeia de
Glória e foi se esconder em Sergipe, na cidade de Simão Dias, sob a proteção do
fazendeiro Dorinha.
Gérson,
João Ribeiro, Gervásio Grande e mais alguns soldados foram a Simão Dias e
prenderam Peixoto e o levaram para Paripiranga. De lá foram levar o preso pra
Salvador. No trajeto, quando passavam em Boquim, um juiz de Direito se
aproximou dos policiais e do detento e pediu aos soldados que soltassem o preso
que ele era um coitadinho. João Ribeiro pegou um mamão e jogou no juiz. O mamão
espatifou-se nos peitos do juiz sujando sua roupa de linho branco. O preso foi
entregue em Salvador.
Gérson
trabalhou um bom período para a família do político Nilo Coelho, vive há muito
tempo em Paulo Afonso e é sargento reformado da polícia baiana. Lúcido, conta
suas histórias e fala com saudades do tempo em que andava nas caatingas em
perseguição aos cangaceiros. Guarda junto aos documentos algumas orações e um
crucifixo que ele tem desde que entrou na polícia e acredita que só não morreu
nos tiroteios por força dessas orações.
João de Sousa
Lima é historiador, escritor e pesquisador do cangaço. Membro da
ALPA - Academia de Letras de Paulo Afonso Sócio do GECC
- Grupo de Estudos do Cangaço do Ceará
Paulo Afonso,
Bahia, 07 de março de 2013.
http:www.joaodesousalima.com
Artigo publicado no dia 10 de Março de 2013 em:
http://historiaparasecontar.blogspot.com.br/
http://blogdomendesemendes.blogspot.com
Pois é Mendes: Ótimas estas informações do texto do escritor João Sousa Lima.
ResponderExcluirAntonio Oliveira