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segunda-feira, 20 de julho de 2015

OS DOIS ÚLTIMOS COMBATES E A ÚLTIMA VIAGEM DE LAMPIÃO (I)

Por Clerisvaldo B. Chagas, 20 de julho de 2015 - Crônica Nº 1.453

O dia 18 de abril e o dia 19, deste ano, marcam os dois últimos combates de Lampião em sua vida de atropelos. O combate mais forte aconteceu no povoado Girau do Ponciano, agreste de Alagoas, no dia 18 de abril de 1938. O chefe cangaceiro encontrava-se com 17 cabras no povoado fazendo tropelias, quando foi surpreendido pelo sargento e delegado de Batalha, Waldemar, com dois soldados e alguns civis. O lugarejo estava sendo saqueado pelo bando, numa marcha de dez dias que Lampião havia empreendido desde o rio São Francisco rumo a Pernambuco, atravessando o estado de Alagoas.


“O tiroteio começou feroz e desordenado. Os bandidos talvez pensassem que estavam sendo atacados por grande número de atacantes. Waldemar rastejava em direção de uma casa onde supunha está o grosso do bando. O sargento foi ferido no terço médio do braço direito. A bala transfixou o braço alojando-se na região umbilical, mas sem atingir órgão vital”. O sargento passou a atirar com o outro braço cada vez mais animando os seus soldados. Um deles caiu ferido e o sargento recuou ao ponto de partida. “Restavam dois homens atirando. Um já ferido outro prostrado ao chão, esvaindo-se em sangue. O sargento brigava como um leão. Os bandidos foram amortecendo o fogo e fugiram”.

No dia seguinte, 19 de abril de 1938, continuando suas andanças sinistras, Virgolino invadiu e saqueou o povoado vizinho, Craíbas. Aí houve um combate menor, sendo o último de fato da vida de Lampião. A luta foi entre Lampião e seus 17 cangaceiros contra a volante alagoana do sargento Porfírio que marchava em busca do bandido, desde a serra da Brecha em Cacimbinhas. O único ferido nesse combate foi uma idosa, de bala perdida.

Lampião conseguiu escapar do cerco na sua marcha dos dez dias atravessando Alagoas e penetrando em Pernambuco pela fazenda Santo Antônio, município de Bom Conselho, em 27 de abril de 1938.

Portanto seus dois últimos combates estão dentro dos 77 anos e quase três meses.
  
A ÚLTIMA VIAGEM DE LAMPIÃO

20.07.1938. (Quarta-feira). Era a semana de aniversário de morte do padre Cícero. Lampião queria se recolher e rezar. Estava na fazenda São Francisco no município de Pão de Açúcar (AL) e havia estado em Pernambuco pela última vez. Sentia pressentimentos do fim. Daí parte para Angicos durante à tarde, fazendo a sua última viagem. Descendo, passa a uma légua e meia das fazendas ou por dentro delas, rumo ao rio São Francisco: São Francisco, Conceição, Bom Jardim, Bela Vista e Bardão. Para na fazenda de testa com o rio, chamada Bonito (uma légua abaixo do povoado Entremontes) município de Piranhas.

Em Bonito, houve muita comida, pirão com ovos moles, cozidos, peixe, tapioca e café.

Lampião e o bando atravessam o rio São Francisco à noite. Lua minguante, escuro, frio e vento. São 18 pessoas em três canoas arranjadas por Domingos Ventura (o Domingos de Patos). Os canoeiros são Né Correia, Erasmo Félix e Joca do Capim. O cachorro “Guarani”, de Lampião vai com eles. Lampião tem pressentimentos e Maria Bonita está nervosa. Passa uma zelação e eles lembram um vidente da serra Umã sobre o fim.

Em Sergipe desembarcam na fazenda Capoeira Nova, sob pé d’água passageiro com relâmpagos. Abrigam-se. A mãe da lua  surge com mau augúrio Guarani tremelica de medo com uivos de outros cachorros por perto que nem tiros conseguem espantar.

Passam a chuva e seguem para o coito de Angicos, disfarçando. Angicos era propriedade de Cândido Rodrigues (pai de Pedro de Cândido, Ozéas, Zezé e Durval). Nessa época Cândido Rodrigues já era falecido. Município de Poço Redondo. A fazenda é perto do rio, mas Lampião segue rodeando para não ser visto da outra margem, pretendendo entrar no coito por trás. Para isso passa pelas fazendas Macaba, Bebedouro, São João, Jacaré, Cajueiro, Lajeiro, Paraíso e Logradouro (esta do coiteiro Júlio Félix, vizinha ao coito) Aí é agasalhado e alimentado. Amanhece na grota da fazenda Angicos.

Essa foi a sua última viagem.

* Baseado no livro: CHAGAS, Clerisvaldo B. & FAUSTO, Marcello. Lampião em Alagoas. Maceió, Grafmarques, 2012.

http://clerisvaldobchagas.blogspot.com.br/2015/07/os-dois-ultimos-combates-e-ultima.html

Advertindo o leitor: Não deixe de ler amanhã neste mesmo blog: http://blogdomendesemendes.blogspot.com  outro artigo do autor sobre cangaço.

http://blogdomendesemendes.blogspot.com

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