Por Museu Histórico de Portugal
Fez uma
pequena pausa, olhando os circunstantes. Estava no meio da casa, de mãos atrás
das costas, encostado levemente à mesa, onde a pálida luz da vela emprestava um
certo ambiente místico de cabala.
Ninguém ousou
contestar as palavras daquele que acabava de se consagrar como mestre
indiscutível e indiscutido.
O José do
Telhado prosseguiu:
- De hoje em
diante, eu só estou aqui como Repartidor Público. Tudo o que
tirarmos aos outros não será só para nós. Uma parte é para os pobres. Ali para
o Douro há muita gente rica, mas também se vê por lá muito pobre. Tenho visto
por aí muitos velhos, sem terras, nem nada, e mulheres com bandos de filhos. A
nossa comunidade tem de ajudar os que são esquecidos por todos. Também não
podemos esquecer-nos do senhor Custódio, e vamos ajudá-Io a curar-se do mal que
tem. Ele precisa de dinheiro.
Ia-se fazendo
ouvir um certo murmúrio. O José do Telhado suspendeu a sua fala, com ar
interrogador:
- Que dizeis?
- É que não
fica muito para nós - afoitou-se a adiantar o Veterano. - Quanto tempo vamos
ficar a pagar para o Custódio? Ele pode não arrebitar, e levar tempo a esticar.
E agora há também o mestre...
- Ao senhor
Custódio paga-se enquanto ele precisar - interrompeu o José do Telhado. - E eu
para mim só quero tanto como cada um de vós. Não quero mais nada.
- É de homem!
É de homem! - exclamaram algumas vozes em coro.
- Ah! Se é
assim... 'Tá bem! - concluiu o Veterano, tirando o chapéu da cabeça em sinal de
respeitosa concordância.
- Estou aqui
às tuas ordens, mestre! Ninguém cumpre mais que eu... - interveio o Avarento. -
Mas acho que cada um trata de si... Não tenho nada a ver com os pobres!
Houve alguns
murmúrios, uns concordantes outros não.
- O mestre é
que sabe! - replicou o Sancho Pacato.
- Mas eu
cumpro!... Mas eu cumpro!... - apressou-se a confirmar o Avarento.
Depois,
durante um minuto, nenhum dos circunstantes tomou a palavra. Então o José do
Telhado prosseguiu:
- Os ricos e
os políticos é que hão-de pagar para os pobres... Os políticos têm sido a
desgraça dos pobres. Prometem tudo, mas só protegem os que eles muito bem
querem . Aos pobres passam a vida a mentir-Ihes. De hoje em diante eu serei
repartidor público. Podeis dizê-Io a toda a gente. O povo há-de sabê-Io. E
também quero que as autoridades o saibam. Porque este encargo foi-me dado pelo
povo.
"Ele
mesmo se intitulava Repartidor Público.
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Enviado de Lisboa capital de Portugal pelo pesquisador Emídio Roberto
http://blogdomendesemendes.blogspot.com
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