O primeiro da direita não é Zeppelin e sim, o cangaceiro Pavão
O tenente José
Rufino tido por muitos pesquisadores como o maior perseguidor de Lampião,
partindo do Raso da Catarina, em terras baianas, segue à pé com sua tropa em
longa caminhada, até o Estado de Sergipe, mais precisamente entre os municípios
de Porto da Folha, e Gararu, sempre em busca de alguma evidência que pudesse
levá-los ao encontro dos bandoleiros. Nessa região, havia um grande coiteiro de
Lampião, chamado vulgarmente de "Mané Véio", que aliás, já estaria na
mira de alguns comandantes, por ter o costume de indicar às volantes, caminhos
opostos onde os facínoras verdadeiramente encontravam-se. Foi isso que ele fez
com o Sargento Odon Mathias, quando indicou ao mesmo, que o bando estava
acampado na Fazenda Barriguda, quando na verdade, eles estavam na Fazenda
Cangaleixo.
Leiamos agora,
um trecho do diálogo entre o Tenente José Rufino e Mané Véio (não confundir
com o Mané Veio, que participou do combate do Angico, trata-se apenas de uma
coincidência de nomes):
- Mané, não
minta, eu já sei de sua fama de mentir pra gente quando perguntamos sobre os
bandidos. Por que, você indicou a Barriguda pro Sargento Odon, sabendo que eles
não estavam lá? (Zé Rufino).
- Porque o
senhor sabe que eles matam a gente, seu tenente. Foi por isso que não pude
falar, mas pro senhor eu falo, mesmo sabendo que vou morrer. Eles estão no
Cangaleixo; e eu vou botar o senhor em "riba" deles. (Mané Véio)
- Lampião está lá também? (Zé Rufino)
- Tá não
senhor, quem tá é Mariano, com uma parte do bando (Mané Véio)
- Tá certo,
mas você não virá com a gente, preciso de você vivo, basta me indicar onde fica
essa fazenda. Mas não minta, senão você morre. (Zé Rufino)
- Daqui à dois
quilômetros, o senhor vai encontrar uma casa, chegando lá pergunte onde fica o
Cangaleixo, que o morador irá informar o local exato, depois é só seguir o
rastro dos bandidos (Mané Véio).
Partiu o
incansável tenente junto à sua tropa caatinga à dentro, seguindo as informações
(dessa vez pertinente) do velho coiteiro, adentram às terras da fazenda, e de
modo até surpreendente, encontram perto de uma "mina d'agua" o rastro
dos cangaceiros, porém, inexplicavelmente as "pegadas" só haviam à
beira da "pia", já ao seu redor, parecia que ninguém havia pisado
ali. Foi quando um dos soldados disse:
- Tenente,
será que os bandidos estão lá no fundo da água?
- Vamos
continuar procurando, eu sinto que eles estão por perto (Zé Rufino).
O comandante
segue a jornada. Foi quando seu fiel e velho rastejador de nome Gervásio, pede
para que todos se escondam e fiquem atentos, pois vinha chegando alguém. Era
uma criança; um menino de aproximadamente doze anos de idade, que logo foi
detido pela tropa, mas antes viram que o mesmo trazia em mãos um pacote de café
moído, envolto em um lenço vermelho cheirando à perfume barato. As pistas eram
evidentes, a volante sabia que dentro de instantes haveria tiroteio.
Interrogaram:
- Menino, cadê
os bandidos? (Zé Rufino)
- Não sei de
nada (Criança)
- Sabe sim,
esse café aqui você ia levar pra lá, onde eles estão? (Zé Rufino)
- Já disse que
não sei (Criança)
O tenente
enfurecido dá ordens a um de seus soldados:
- Sangre esse
peste na goela, pra ele aprender a ser gente (Zé Rufino)
- Fala logo
seu filho da puta, onde estão os bandidos? (soldado)
- Pode me
matar, mas eu não vou falar nada (Criança)
Abrimos aqui
um parêntese, o menino indefeso, tinha razão em omitir a verdade, pois o seu
pai encontrava-se no coito junto aos cangaceiros.
O tenente
sabendo que não ia conseguir arrancar nenhum tipo de informação da criança, o
mantem detido, e segue novamente o rastro dos bandoleiros.
Todos em
silêncio, como se fossem felinos espreitando a presa; foi quando de repente, o
soldado Gervásio, joga sutilmente uma pedra nas costas de Zé Rufino... era o
sinal... quando o mesmo olha pro lado, o soldado aponta o dedo indicador em
direção onde estavam os cangaceiros.
O tenente
acabara de achar aquilo que tanto procurava. Sabiamente, deu sinal para que a
tropa fosse avançando devagar, pois os cangaceiros estavam jogando cartas
despreocupadamente. Entretanto, haviam deixado um dos "cabras" de
sentinela, e a volante não havia percebido isso. Foi quando o cangaceiro que
estava de prontidão, avistou a volante, e gritou; ja atirando:
-
Macaco...macaco...macaco
Aí começou o
inferno
Atentemos para
o relato do soldado Bem-Te-Vi, que havia entrado para a polícia, com o intuito
de vingar a morte de seu pai, morto por um grupo de cangaceiros, supostamente
pelo facínora Mariano:
"O
tiroteio cerrou-se por pouco tempo, nós pegamos eles de surpresa, coisa de meia
hora já tava acabado. Aí fomos tentar pegar alguma pista dos outros que
fugiram, pra ver se tinha algum baleado. Mas não achamos. Voltamos pro coito de
onde saímos e vimos que havia três "cabras" caídos. O coiteiro (pai
da criança) que tava jogando com eles, foi baleado e morreu, dois cangaceiros
estavam feridos, um já quase morrendo, e o outro que estava mais distante
também agonizando, foi o primeiro a ter a cabeça cortada e levada pra junto dos
outros que estavam feridos".
O tenente Zé
Rufino, percebe que um dos baleados, é Mariano, o possível assassino do pai do
soldado Bem-Te-Vi, e diz:
- Bem Te Vi,
esse é Mariano, o bandido que matou seu pai. Chegou a hora de se vingar. Ele
ainda está vivo, mas não estrague a cabeça, pois eu vou precisar dela.
O soldado às
lagrimas e como um louco, saca de seu punhal, e desfere inúmeros golpes no já
quase morto cangaceiro. Porém, pasmem os senhores, ele não conseguia matá-lo. A
única e última opção seria literalmente o tiro de misericórdia. E assim o fez.
Com arma curta, pôs fim à um dos grandes sequazes de Lampião, ainda, desde a
fase pernambucana (década de vinte).
Explicamos aos
leitores, que o cangaceiro Mariano, não fora o autor da morte do pai do soldado
Bem-Te-Vi. Muito embora saibamos que esse fato não faria com que o bandoleiro
tivesse sua vida poupada pela volante.
Analisemos
agora as três fotos:
1 - O desfecho
trágico do combate, as cabeças de Mariano, "Pai Veio" (pai da
criança), e fazemos aqui uma observação, o terceiro que está grafado como
Zepellin, na verdade é Pavão, houve um equívoco na hora das escritas sobre a
fotografia à época. Entretanto, o verdadeiro Zepellin, também teve uma morte
tenebrosa, sendo decapitado da mesma forma.
2 - Volante de
Zé Rufino, que é indicado pela seta vermelha. Fotografia tirada
coincidentemente um dia antes do combate. E sabe quem a bateu? Ele mesmo, o
incansável Benjamim Abrahão, que com isso, prova que tinha livre acesso
caatinga à dentro, principalmente pela chancela do Padre Cícero, o que o fazia
ser respeitado.
3 - O local
exato do combate, a fazenda Cangaleixo. Percebam pela imagem, que não há nenhum
sinal de que aí, foi palco de mais uma parte importante do tema cangaço,
denotando mais uma vez, o quão é difícil o trabalho de pesquisar em campo. Chegar
a um lugar como esse, é sacrificante sobretudo. E essa imagem, é do arquivo
pessoal do Sr. Sérgio Dantas, um estudioso do assunto, com várias publicações.
Indubitavelmente um grande pesquisador.
Fonte: Charles
Garrido
Pesquisador - Fortaleza-Ce
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