Por Geziel Moura
Não raro, é
possível flagrar, em nossos dias, expressões do tipo: "Se Lampião tivesse
vivo, daria jeito no Congresso Nacional", "Políticos corruptos não se
criavam no tempo dos cangaceiros", "Só mesmo Lampião para acabar com
esses políticos ladrões" e por aí a fora.
Lampião e Maria Bonita
Diante desses
enunciados, cria-se perguntas, de seguintes naturezas: "Que relação havia
entre Virgolino Ferreira da Silva, o Lampião e os políticos de sua época? Havia
algum tipo de contestação, daquele chefe cangaceiro, para com as lideranças políticas
do sertão nordestino? Criou-se animosidades entre eles, durante o período do
cangaço lampiônico? Houve políticos que sentiram o peso da mão de Lampião? A
classe política daquele momento era mais ética, transparente e honesta em
relação a de hoje?. Afinal como era a relação Coronel X Lampião? Harmônica ou
desarmônica?
No período
histórico, em que ocorreu o cangaço de Lampião, o Brasil estava vivenciando
dois momentos, de sua república: República Velha (1889 - 1930) e Era Vargas
(1930 - 1945), momento em que o sertão e o agreste nordestino eram comandados,
do ponto de vista político, econômico e social pelos chamados coronéis do
açúcar, que eram pessoas possuidoras de grandes faixas de terra, e que
exploravam as atividades agropastoril, cujo títulos (coronel, major e tenente),
adquiriram ou compraram durante o fim do império e início da República Velha,
em decorrência da criação da GUARDA NACIONAL, cujas funções principais eram
auxiliar o exército formal, na defesa e organização do território nacional.
Assim, foi
este o cenário em que Lampião encontrou, quando palmilhou os sertões do
nordeste, sobre a ordenança de verdadeiros senhores feudais, donos da vida,
voto, e morte de seus comandados. Os coronéis nordestinos subsistiram até o fim
da Segunda Guerra, na Europa (1945), quando seus poderes começaram a arrefecer.
Diversos
coronéis tiveram relações com Lampião, direta ou indiretamente, podemos citar,
o chefe político de Água Branca (AL), Cel. Ulisses Luna que protegeu a família
Ferreira quando eles chegaram nas Alagoas, temos ainda, o Cel. Petronilo
Alcântara Reis, que era chefe político de Santo Antônio da Glória (BA), e o
primeiro que recebeu Lampião e seu reduzido grupo, quando ele atravessou o São
Francisco, seguindo para a Bahia em (1928).
Pode-se destacar,
ainda, os coronéis Chico Romão de Serrita, Veremundo Soares de Salgueiro, Zé
Abílio de Bom Conselho, Chico Heráclio de Limoeiro, todos de Pernambuco, que
amigos ou não de Lampião, nunca tiveram desfavor significativo do Rei do
Cangaço, viveram em suas "sesmaria" até suas mortes.
Considerando, caso único da saga lapiônica, em que este pesou a mão sobremaneira, num coronel, temos o caso do assassinato de Luiz Gonzaga Ferraz, de Belmonte, pelo bando de Lampião, cuja questão não era necessariamente dele, provavelmente, cumprindo promessa empenhada a seu ex-chefe Sinhô Pereira e/ou ao parente deste Ioiô Maroto.
Houve
interessante episódio em que Virgolino, "alivia" os coronéis, quando
o chefe político de Jeremoabo (BA), Coronel João Sá, fora preso pelo cangaceiro
em 1928, sem que nada de nefasto tenha feito com o preso.
Nesse sentido,
é razoável pensar que a relação de Lampião com os chefes políticos e coronéis
do sertão, era harmoniosa, salvo, raríssimas exceções e pontuais, não creio que
seria diferente em nossos dias, em que os antigos coronéis perderam a
nomenclatura, mas estão espraiados em nossa política nacional, com novas
roupagens.
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