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terça-feira, 7 de agosto de 2018

O CORONELATO E LAMPIÃO


Por Geziel Moura

Não raro, é possível flagrar, em nossos dias, expressões do tipo: "Se Lampião tivesse vivo, daria jeito no Congresso Nacional", "Políticos corruptos não se criavam no tempo dos cangaceiros", "Só mesmo Lampião para acabar com esses políticos ladrões" e por aí a fora.

Lampião e Maria Bonita

Diante desses enunciados, cria-se perguntas, de seguintes naturezas: "Que relação havia entre Virgolino Ferreira da Silva, o Lampião e os políticos de sua época? Havia algum tipo de contestação, daquele chefe cangaceiro, para com as lideranças políticas do sertão nordestino? Criou-se animosidades entre eles, durante o período do cangaço lampiônico? Houve políticos que sentiram o peso da mão de Lampião? A classe política daquele momento era mais ética, transparente e honesta em relação a de hoje?. Afinal como era a relação Coronel X Lampião? Harmônica ou desarmônica?


No período histórico, em que ocorreu o cangaço de Lampião, o Brasil estava vivenciando dois momentos, de sua república: República Velha (1889 - 1930) e Era Vargas (1930 - 1945), momento em que o sertão e o agreste nordestino eram comandados, do ponto de vista político, econômico e social pelos chamados coronéis do açúcar, que eram pessoas possuidoras de grandes faixas de terra, e que exploravam as atividades agropastoril, cujo títulos (coronel, major e tenente), adquiriram ou compraram durante o fim do império e início da República Velha, em decorrência da criação da GUARDA NACIONAL, cujas funções principais eram auxiliar o exército formal, na defesa e organização do território nacional.


Assim, foi este o cenário em que Lampião encontrou, quando palmilhou os sertões do nordeste, sobre a ordenança de verdadeiros senhores feudais, donos da vida, voto, e morte de seus comandados. Os coronéis nordestinos subsistiram até o fim da Segunda Guerra, na Europa (1945), quando seus poderes começaram a arrefecer.


Diversos coronéis tiveram relações com Lampião, direta ou indiretamente, podemos citar, o chefe político de Água Branca (AL), Cel. Ulisses Luna que protegeu a família Ferreira quando eles chegaram nas Alagoas, temos ainda, o Cel. Petronilo Alcântara Reis, que era chefe político de Santo Antônio da Glória (BA), e o primeiro que recebeu Lampião e seu reduzido grupo, quando ele atravessou o São Francisco, seguindo para a Bahia em (1928).


Pode-se destacar, ainda, os coronéis Chico Romão de Serrita, Veremundo Soares de Salgueiro, Zé Abílio de Bom Conselho, Chico Heráclio de Limoeiro, todos de Pernambuco, que amigos ou não de Lampião, nunca tiveram desfavor significativo do Rei do Cangaço, viveram em suas "sesmaria" até suas mortes.

Considerando, caso único da saga lapiônica, em que este pesou a mão sobremaneira, num coronel, temos o caso do assassinato de Luiz Gonzaga Ferraz, de Belmonte, pelo bando de Lampião, cuja questão não era necessariamente dele, provavelmente, cumprindo promessa empenhada a seu ex-chefe Sinhô Pereira e/ou ao parente deste Ioiô Maroto.


Houve interessante episódio em que Virgolino, "alivia" os coronéis, quando o chefe político de Jeremoabo (BA), Coronel João Sá, fora preso pelo cangaceiro em 1928, sem que nada de nefasto tenha feito com o preso.

Nesse sentido, é razoável pensar que a relação de Lampião com os chefes políticos e coronéis do sertão, era harmoniosa, salvo, raríssimas exceções e pontuais, não creio que seria diferente em nossos dias, em que os antigos coronéis perderam a nomenclatura, mas estão espraiados em nossa política nacional, com novas roupagens.

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