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sexta-feira, 16 de novembro de 2018

ACABOU-SE GATO!


Por Joel Reis

Em 29 de outubro de 1936, após o ataque a cidade de Piranhas – AL, Gato foi levado ferido em uma rede para Fazenda Mogiana. Quando anoiteceu, os cangaceiros se certificaram de que não tinha mais perigo.

Gato: - Oh! Minha comadre, quanta dor eu tô passando!

Dadá: - Eu sei Gato! Não é pra menos.

Gato: - Oh! Minha comadre, minha neguinha como está? Quem sabe.... Talvez tenha morrido...

Gato: - Cadê Maria?

Gato: - Maria faz um cigarrinho bem fininho pra mim.

Maria de Pancada aprontava o cigarro, ele puxava aquelas tragadas.

Passaram-se três dias, Gato, não comia, além disso, tudo que bebia vomitava.

Gato: - Todo mundo foi embora?

Dadá: - inguém lhe deixa, Gato. Tá todo mundo aqui. Nós não lhe deixamos no meio de todo perigo, a gente vai deixar você aqui?

Gato: - Ah! Eu acredito em você, comadre.

Gato: - Chame Corisco aí.

Corisco: - O que é, Gato?

Gato: - Eu quero conversar um pouco com você. Fizemos essa viagem e não arranjamos nada.

Corisco: - Se acalme, você tem que arranjar o perdão de Deus. Vamos rezar.


Quando um cangaceiro era gravemente ferido, Corisco colocava os outros cangaceiros para rezar. Na hora da oração, ninguém era desprezado.

Corisco: - Compadre Gato, vamos rezar. Vamos se recomendar a Deus, pois o senhor já sabe qual é o seu caso.

Gato: - Eu sei que vou morrer, Corisco. Tomaram minha mulher. Como não está minha pretinha?... Quanta dor!

Gato olhava para o céu e dava risada.

Corisco puxou uma forte oração.

Corisco: - Perdoa, Senhor, o inimigo que me atingiu.

Gato: - O quê? Se eu pegasse, aí sim, ele ia ver o perdão como era. Dava um tiro! Pronto, perdoava.

Gato: - Ele me dava a Inacinha e eu o matava.

Corisco: - Gato, se arrepende das desgraças que praticou?

Gato: - Num me arrependo de nada.

Corisco: - Gato, perdoa seus inimigos?
Gato: - Que perdoo o quê, Corisco! Só quero pegá quem me fez isso.

Nos lampejos de lucidez do moribundo, Corisco chegava-se a ele.

Corisco: - Perdoa seus inimigos, se arrepende?

Gato: - Perdão a quem me atingiu, mas porque eu não peguei. Se eu pegar, já sabe.

Depois de muito tempo quase inaudível disse:

- Perdoo.

Maria de Pancada: - Gato está morrendo! Gato está morrendo!

Pendeu a cabeça sobre o ombro esquerdo e morreu. Em sua face ficou um sorriso.

Acenderam velas, todos rezaram em volta, logo após, o morto foi envolto nas cobertas. No meio de umas moitas enormes de macambira prepararam uma cova bem funda, em seguida, o corpo foi levado para cova. Acabou-se Gato.

BIBLIOGRAFIA CONSULTADA

ARAÚJO, Antônio Amaury Corrêa de. Gente de Lampião: Dadá e Corisco. 3. ed. Salvador: Assembleia Legislativa da Bahia, 2011.
DIAS, José Umberto. Dadá. Salvador: EGBA/Fundação Cultural do Estado da Bahia, 1988.

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