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sexta-feira, 16 de novembro de 2018

BOA LEITURA!


Por Antônio Corrêa Sobrinho


Amigos, não avistei nos Dicionários de Bismark e Renato Luís, o nome MANUEL DIAS como cangaceiro, como tal apresentado nesta reportagem sobre a sua prisão, do "Jornal de Recife", publicada em 06/08/1937. 

Com a palavra os especialistas em 'figuras cangaceiras'.
UM “CABRA” DE “LAMPIÃO”, FAZENDO PARTE DE UM GRUPO ESFACELADO, SOB A CHEFIA DO CÉLEBRE “JOSÉ SERENO”, CHEGOU ONTEM PRESO A ESTA CAPITAL.

Na ocasião em que chegávamos ontem, à Secretaria da Segurança Pública, deparamos com um indivíduo ainda imberbe, cor do verdadeiro caboclo, estatura regular, olhar cabisbaixo, trajando roupa de brim mescla, o qual estava sendo identificado no gabinete da polícia.

Esperamos que ele terminasse, e logo em seguida passamos a ouvi-lo impelidos pela curiosidade profissional.

Facilmente conseguimos qualificá-lo. Estávamos ouvindo de viva voz, as narrativas e aventuras de Manuel Dias, bandido já célebre, malgrado os seus 18 anos de idade. E ele nos disse que de ordem do célebre Lampião, desde o ano passado, vinha operando com mais 14 facínoras comandados pelo temível bandoleiro José Sereno, de ordem do mesmo Lampião com este dividindo joias e dinheiro que conseguiam dos assaltos praticados em fazendas e casas comerciais do alto Sertão.

Adiantou-nos que em setembro do ano passado, em Águas Belas, na fazenda Jacaré dos Homens, o seu grupo travou renhido combate com uma força comandada pelo major João Lucena da Brigada Alagoana.

Segundo nos disse o bandido, nesse fogo que foi prorrogado por muitas horas, tombaram mortos a tiros de fuzil os reféns do seu grupo, José e Antônio de tal.

O facínora Manoel Dias que nos falou com a maior naturalidade disse ter sido preso em São Paulo do Moleque, estado de Sergipe, quando só e completamente desarmado, procurava-se ocultar-se “na sombra” de um protetor, visto haver se desligado espontaneamente do grupo de malfeitores.

Procurando inocentar-se adiantou-nos ter entrado na vida do cangaço levado pela inexperiência de moço e seduções dos facínoras que só lhes falava de joias, boas montarias e dinheiro a correr sempre franco nos bolsos dos homens de bacamarte.

Alcançando a negra profissão o bandido receava deixar bruscamente o grupo de malfeitores, lembrando-se de uma possível vingança por parte do mesmo.

Ao nosso repórter ele contou uma série infinda de peripécias dizendo que os “cabras” do grupo a que pertenceu matavam friamente surrando por vezes as suas indefesas vítimas despojando-as de todos os objetos que elas conduziam.

De um velho criador, assassinado a tiros de rifle, certa vez, os bandidos cortaram a faca um dedo a fim de se apossarem de um anel de brilhante.

O bandido Manuel Dias de 18 anos apenas, foi preso como já dissemos anteriormente no estado de Sergipe e enviado ao Secretário da Segurança Pública daqui pelo seu colega daquele Estado.

Acompanhou-o a bordo o chefe da seção da Ordem Social de Sergipe, Sr. Fernando Sobral e um chefe da Inspetoria do Tráfego.

O bandoleiro que está recolhido ao xadrez do “Brasil Novo” será hoje recambiado para o Presídio Especial.

Durante o tempo em que conversamos o bandido pedia que garantissem sua vida e mandasse uma força com ele ao sertão que mostrava o roteiro de vários grupos de salteadores por conhece-los de perto.

JORNAL DE RECIFE (PE) – 06.08.1937

https://www.facebook.com/groups/lampiaocangacoenordeste/permalink/950641668478111/

http://bogdomendesemendes.blogspot.com

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