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quarta-feira, 29 de janeiro de 2020

COMPREENDER A VIDA

*Rangel Alves da Costa

Uma fotografia. Uma capelinha. Um pequeno cemitério ao redor. Eu sentado numa pedra. Túmulos ao redor. Então eu disse em seguida:
Um dia eu sentei aí, tão perto da morte, exatamente para pensar a vida. Eu não estava aí só para visitar ou fotografar, mas para compreender a vida ao redor da morte.
Um dia eu caminhei até o Poço de Cima e adentrei pelos arredores de sua igrejinha, onde túmulos foram sendo abertos desde os primórdios de Poço Redondo, exatamente para estar na presença daquelas partidas e daquelas saudades.


Certamente que eu não cheguei e nesta pedra sentei e logo pedi para ser fotografado. Calmamente caminhei entre as sepulturas, li os epitáfios, identifiquei os nomes e datas grafados nas cruzes, meditei naquele silêncio que era de voz e de grito.
Nada que ecoasse dos túmulos, mas dos meus próprios pensamentos. Um turbilhão de coisas chegando, como se não houvesse coisa mais instigante na vida do que a morte.
Perguntas e respostas, interrogações e espantos, lembranças e relembranças, diálogos com o estranho e desconhecido mundo, enfim.
Aquele silêncio de planície, aquela calma de afastamento da cidade, aquela paisagem bonita e triste. O que é a morte? Perguntei-me. Logo respondi: É a presença na inalcançável distância.
Ora, para grande parte dos humanos, a morte nunca é exatamente fim para o ente que partiu. A morte leva, distancia, mas grande parte fica no luto, na saudade, na contínua presença.
A dor pela perda de alguém é exatamente esta: o distanciamento forçado do ente amado. E quanto mais se quer a presença mais a saudade e a dor retomam o entrelaçamento.


Acaso o esquecimento fosse a consequência mais lógica, certamente não haveria saudade, tristeza, desejo de presença, o contínuo entrelaçamento.
E as cruzes, os epitáfios e as flores dos túmulos, dariam lugar ao reles esquecimento, e a voracidade do tempo logo encobriria os leitos do repouso último.
E perante os túmulos ali espalhados, a minha certeza de estar ainda diante de tantas vidas. Vidas silenciadas, mas vidas. Nomes, sobrenomes, datas, lembranças das feições em vida.
Que sono profundo, que paz no Senhor!

Escritor
blograngel-sertao.blogspot.com

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