Seguidores

terça-feira, 7 de janeiro de 2020

OS ‘CABRAS’ DO “GUERREIRO TOGADO”


Por Sálvio Siqueira

Augusto Santa Cruz personagem maior do livro “Guerreiro Tocado” do saudoso Pedro Nunes Filho, 1ª edição 1997, pela Editora Universitária da UFPE – Universidade Federal de Pernambuco – nos presenteia com Fatos Históricos de Alagoa do Monteiro, numa biografia altamente meticulosa, nos idos do ocaso do século XIX e aurora do século XX.

Por motivos políticos o latifundiário, ‘coronel’ e advogado Augusto Santa Cruz rebela-se contra autoridades da, hoje, cidade de Monteiro – PB, no cariri paraibano, que se junta ao Dr° Franklin Dantas, da cidade do Teixeira – PB, pai de João Dantas que seria o assassino de João Pessoa e em seguida assassinado, sangrado, mais o cunhado dentro da Casa de Detenção da Cidade do Recife, e, com seus jagunços partem, da cidade de Patos - PB em direção a capital do Estado deixando um rastro de sangue pelo caminho. Suas jornadas foram até São João do Cariri – PB, aonde cientes de que o Governo Federal havia enviado tropas de Campina Grande – PB para combatê-los, encerram as agressividades, dispersão alguns de seus chefiados e, aquele, segue para a ‘Meca’ nordestina a fim de proteger-se pelo sacerdote de Juazeiro do Norte – CE, o que lhe rendeu grande resultado, e este retorna ao seu centro de comando no Teixeira – PB.

Alguns dos homens que Santa Cruz tinha como jagunços foram cangaceiros, pistoleiros, assassinos e outras profissões da espingarda. A família, não só o advogado Santa Cruz, seus dois irmãos também eram formados em Direito, era dona de vasto território divido em distintas propriedades, aonde esse ‘cabras’ eram distribuídos. Mas, bastava um recado, um chamado, que todos vinham correndo.

Abaixo, tendo como fonte a obra do amigo e saudoso “Pedrinho Nunes” (Pedro Nunes Filho), procuraremos descrever quem era cada jagunço que lutou ao lado do Guerreiro de Toga.

Depois de um de seus ‘homens’ ter sido preso e sua prisão ter sido decretada, Augusto Santa Cruz sente-se desmoralizado e passa a planejar uma maneira de dar uma resposta a altura em seus adversários políticos. “- Tenho que encontrar uma forma de me vingar dessa traição! Isso não pode fincar assim. Essa gente tem que me pagar caro – remoía solitário, sem perder de vista a idéia de vindita.” (PN. Pg 130, 1997)

Na manhã do dia seguinte, já com as ideias claras e um plano bolado, Santa Cruz chama o seu mais chegado capanga: Vicente Preto, que também era conhecido por “Vicente do Areal”. Areal é o nome da fazenda de Augusto.

Além daqueles que moravam nas fazendas dos familiares, havia aqueles que faziam parte, porém, moravam em outras localidades como nos municípios de Prata e de São Tomé, hoje Sumé, ambas na Paraíba. O patrão dá a seguinte ordem a Vicente do Areal: “Reúna os meus rapazes que eu quero dar ordens para um serviço que pretendo executar.” (PN. Pg 130, 1997)

O comandante de toda ‘operação’ que veio em seguida foi exatamente o negro Vinte Preto. Vicente possuía o dom, coisa nata, naturalmente a natureza lhe doou a concepção de guerrilheiro, portanto, era um mestre em ‘Guerra de Movimentos’.

Vicente Preto: natural de Sumé, chamada antigamente de São Thomé, PB. Depois da refrega toda e os ânimos acalmarem-se, por volta de 1912, Vicente ainda permaneceu escondido até o ano seguinte, 1913, ano em que seu patrão e chefe, o advogado augusto Santa Cruz foi submetido a júri popular e ter saído livre e solto. Depois Vicente segue para outra terras. Fica seus pés e passa a fornecer seus serviços para o coronel Francisco Martins de Albuquerque, pai do coronel e coiteiro de Lampião Audálio Tenório.

Vicente era dono de ‘um porte atlético, tinha uma maneira firme de apoioar-se no rifle e traços psicológicos indecifrávei, era racatado e sempre espreitava os visitantes de longe’. Talvez por isso que, aa década de 1920, o famoso chefe cangaceiros, Virgolino Ferreira, vulgo Lampião, ao fazer uma ‘visita’ ao coronel Audálio, conheceu e agradou-se de Vicente Preto. O chefe cangaceiro filho de Vila Bela, PE, avaliou Vicente dos pés a cabeça e, agradou-se tanto, que convidou ele para que fizesse parte de seu bando. “Gostei daquele cabra, Coronel... quem é ele? Perguntou Lampião interessado no porte de guerreiro do mais famoso cabra de Santa Cruz.” (PN. Pg 131, 1997)

O coronel Audálio chama Vicente e o apresenta ao cangaceiro mor. Lampião conhecia a história de Augusto Santa Cruz através do boca – a – boca e dos versos nos folhetos de cordéis, e não deixou de elogiá-lo diante de seu comandante. Vicente Preto não aceitou o convite e não passou a fazer parte do bando de Lampião.

“Antônio Garcez: negro muito valente e perverso (...). Em 1913, quando o Dr. Augusto levou os cabras a júri, Antônio Garces recebeu dinheiro para ganhar o mundo porque pesavam trinta e tantas homicídios em sua cacunda era um dos que não tinha condições de se livrar.”

Augusto Santa Cruz, depois que foi inocentado de seus crimes, juntou seus homens e, aqueles que tinham condições de serem julgados, segundo sua avaliação, e solto, ele defendeu um por um. No entanto, aqueles que ele sabia não haver possibilidade de inocentá-los, livra-los da prisão, dava uma boa soma em dinheiro e mandava que fosse embora da região.

Mestre Felizardo Garcez: irmão de Antônio Garcez, foi cangaceiro e mestre-escola- ‘professor’, no povoado da Prata.

Manoel Garcez: era irmão de Antônio e Felizardo. O trio de irmão sempre andavam juntos aos irmãos cangaceiros “Manoel e Antônio Rodrigues”.

“Vicente Padre: Era um homenzinho alvo e baixo. Morava no Juá. Veio das bandas de Livramento esconder-se por causa de mal feitos que lá fizera.”

“Antônio Virício, sujeito perigoso e bem mandado, tinha como principal característica cantar toadas com provocações na hora dos tiroteios, o que era um costume trazido do cangaço”.

João Cicero: fez uma morte no Pajeú, micro região pernambucana, e migrou para esconder-se no Cariri paraibano.

Manoel Chapeuzinho: outro que havia praticado crime sabe-se lá onde e vindo pedir proteção teve na fazenda Areal. Sobre esse jagunço, há outro detalhe, ele tinha uma filha e essa se torna uma amante do Dr Augusto. ”Tinha uma filha chamada Hosana (...). Hosana era a rapariga mais bonita do doutor.” (PN. Pg 136, 1997)

Manoel do Mato: “(...) dizia-se com o corpo fechado, razão por que andava sempre com um rosário de contas azuis pendurado ao pescoço, expunha-se aos maiores perigos, sendo merecedor de uma admiração especial do chefe que não lhe poupava elogios, por ser um homem religioso, valente e dotado de um excelente caráter.”

Hymno de Tal: “...acudia pela alcunha simplificada de Sei Hino, sujeito alto, de pele clara, olhos azuis e muito ligeiro no gatilho, era natura do sítio do Melo, localidade situada nas proximidades do povoado da Prata. Depois de Vicente Preto, era o cabra mais destacado do bando.”

Horácio Patriota: “Era primo de Zezé Patriota, comparsa de Manuel Rodrigues, cangaceiros atuantes na região de São José do Egito, PE, Teixeira, PB e outras localidades limítrofes, bem adequadas à ação de bandidos que se protegiam simplesmente cruzando (os limites) entre Pernambuco e Paraíba, para fugir da volantes que só atuavam no Estado onde destacavam.

“Horácio nasceu para ser cangaceiro sem nunca ter resvalado para o banditismo. Valente, corajoso, perverso, costumava encarar as pessoas olhando de baixo para cima. Ara alto, corpulento, pele clara, olhos azuis, um homem disposto tanto para trabalhar quanto para brigar. Ele e os Ribinga ficaram frustrados quando souberam que Lampião havia mudado de rota e desistido de atacar a Fazenda boa vista, onde s encontravam entrincheirados em serrotes estratégicos ao longo dos caminhos, doidos para um confronto com o famoso bandido. Além de homem afeito às armas, Horácio era também mestre de fornalha em engenhos de rapadura.”

“Moço, esquentado, um dia desentendeu-se com um soldado de nome Luiz Ferreira no meio da feira de Boi Velho (Ouro Velho – PB), matando-o a golpes de faca.”

“Orgulhava-se de haver participado dos incidentes do Bacharel Santa Cruz.”

“Uma das características de Horácio era a solidariedade com o grupo familiar. Ninguém podei tocar num parente seu que tomava as dores. Mesmo se não gostasse de algum familiar, respeitava-o como membro do grupo, pessoa do mesmo sangue. Costumava dizer: “Parente se assa, mas não se come!”

Germano: “o cabra Germano era pessoa destacada no grupo de Santa Cruz, chegando a comandar o bando algumas vezes. Quando esteve no Juazeiro (do Norte – CE), fez amizades por lá, para onde se mudou e constituiu família, depois da derrota do bando em 1912.”

Manoel Nunes: “O mais perigoso dos cabras de Santa cruz, era um executor.”

Júlio Salgado: “Parente de Santa Cruz, era outro cabra de sua confiança.”

Francisco Félix da silva: “16 anos de idade, analfabeto, natural de Garanhuns, Pernambuco, contou em depoimento dado num processo-crime que se achava no Juazeiro, Estado do Ceará, quando ali chegou Dr Augusto Santa Cruz , com uma força de cabras entre os quais fez amizade com um tal de Severininho e Epaminondas. Vulgo Mindô. Incorporou-se as grupo, tendo acompanhado os amigos quando retornaram à Paraíba, arranjando serviço na Fazenda Lapa, pertencente a Manoel Ramos.

José Gabriel: “Fazia parte do corpo de guarda aos reféns aprisionados na Fazenda Areal. Segundo relato da própria vítima, ele pegava na artéria do pescoço do Promotor Inojosa Varejão com uma mão e segurando o punhal com a outra dizia: -Veia boa para se sangrar. Sangue azul de doutor branco(...)”

Cabo Severiano Benício: “Desertou da Polícia paraibana e incorporou-se às forças de Santa Cruz.” Seu valor para Santa Cruz era por saber e passar táticas e estratégias usadas pela PMPB.

Antônio Sabiá e Manoel Rouxinol: “Eram dois cabras de muita confiança de Dr Augusto. Eles faziam parte do corpo de guarda aos reféns durante o período de 12 dias que passaram na Fazenda areal.”

Lulu Conserva: “Morava em Acauã. Era chefe do piquete do Sitio do Melo, enquanto José Alves comandava o piquete da Lapa e José Bernardo, o piquete localizado por trás da casa-grande.”

João de Mello e José Clementino: “guarneciam as trincheiras protegidas pelos piquetes.”

Luiz Preto: “Irmão do negro Vicente Preto, não tinha a fama de seu irmão, mas era respeitado e admirado pelos comparsas por causa de seus requintes de perversidade.”

Quirino, o Borboleta: “Natural do sítio do Melo, gostava de brincadeiras, trejeitos e ginga, movimentava o corpo para dar golpes ofensivos e defensivos, iludir e desnortear o adversário; por isso recebeu o codinome Borboleta.”

João Sabino: “Morava no Sítio São Francisco. Foi trazido para o grupo por seu irmão Antônio Sabiá, profissional veterano no gatilho.”

Antônio Pereira: “Era um cabra idoso e dotado de grade experiência. Apesar de seus 68 anos de idade, vivia pelo mundo afora pintando miséria, armado de rifle e vestido de surrão de couro”.

Batista de Vitalino: “Como a maioria deles, não tinha profissão definida.”

José Clementino: “Tinha como missão vigiar os movimentos das tropas. A função era de alto risco, tanto que assim que lhe valeu a prisão pelas forças paraibanas que estavam vasculhando a área.”

Sinhozinho Quincas e Santino: “Integravam o grupo porque pertenciam à parentela de Santa Cruz e sentiam-se na obrigação de com ele serem solidários.”

Moleque Chico: “Ferido nas costas no fogo do Areal, era o mensageiro que levava comida, munição, ordens e recados do Estado Maior para os piquetes e trincheiras.”

Antônio Batista Gonçalves e João de Mello: “Receberam propina do Capitão Albino e de Victor Antunes. Na hora do tiroteio, facilitaram a fuga daqueles reféns.”

Sexta-Feira: “Incorporou-se ao grupo no Juazeiro. Participou da emboscada ao destacamento comandado pelo Capitão Augusto de Lima no boqueirão da serra que dava acesso ao povoado de São Thomé, fato ocorrido no dia 27 de dezembro de 1911. Foi ele que quis arrancar, de dentro da casa do Coronel Adolfo Mayer, um soldado ferido no incidente, a fim de sangrá-lo no meio do povoado.”

Segundo o autor, além dos escritos, fizeram parte do grupo comandado pelo Bacharel: “Epaminondas Cypriano, José da Banda, Manoel Rouxinol, José Bernardo, João de Melo, Godê, Mãezinha, João Cassimiro, Manoel Torto, Cobrinha, Capuxu, Pilão Deitado, João Trezena, Belmiro, Santo Catingueira, Manoelzão de Antonião, Zé de Zuza, Pelado de Umbulindo, João Coco, Cipriano, Antônio Rodrigues, Manoel Clementino, Morumba, José Bisaco, João Cabral, Manoel Salvino, Quinta Feira, do Olho d’Água do Neto, Cobra Preta, do Piancó, Caninana, Generino, João Viana, Zé Francisco, Raul da Lapa, Francisquinho, Xexéu, Manoel Mulatinho, Manoel Jordão, Zé Umbuzeiro, Manoel Galdino, Aristides Rodrigues, Severo, Chico Vidal, Capiba, João, Aprígio, Honório, Hermírio, Medalha, cobra-Verde, Chico severo, Sibino, Boca de Fogo, João guedes, Budim e um negro do Urubu chamado Suçuarana.”

Esse pessoal, ao serem “convocados”, fiaram perfilados, amontoados na caçada e no terreiro da casa-grande. Augusto Santa Cruz contou-lhes o que havia acontecido, a prisão do cabra Peba pelas autoridade que estavam mancomunadas com seus adversários políticos... Daí pra frente o mundo fechou-se. Mas, essa parte da história contarei em outra oportunidade.

Fonte “Guerreiro Togado – Fatos Históricos de Alagoa do Monteiro” – FILHO, Pedro Nunes. 1ª edição. Editora Universitária da UFPE. Recife, 1997

Fotos O.C.
R. E. Ofício das Espingardas

Para ver todas as fotos acesse o link: 



http://blogdomendesemendes.blogspot.com

Nenhum comentário:

Postar um comentário