Por Antônio Corrêa Sobrinho
Cangaceiros em
Sergipe, logo nos remete à figura de Virgulino Lampião e seus comandados, a
partir de março de 1929, quando, adentrando por Carira, fez do pequeno estado
nordestino seu principal refúgio. Todavia, podemos dizer que a atuação de
cangaceiros neste Estado, iniciou-se, pelo menos, em dois momentos, em 1906,
quando da chamada "Revolta de Fausto Cardoso", e, ainda antes de
Lampião, desta vez de forma mais efetiva, durante a Revolta de Augusto Maynard,
em 1924. Em ambos os casos de forma mercenária.
Em 1906,
cangaceiros foram contratados pelo movimento sedicioso liderado por Fausto
Cardoso. O jornal situacionista "O Estado de Sergipe”, na ocasião da
sublevação, declarou o seguinte: “Já muitos dias antes da revolta, os
adversários desta cidade, mais tarde progressistas, anunciavam francamente a
queda da situação. Os Aguiar rumorejavam que se faria, com assentimento do
chefe da nação, a deposição do governo do Estado, logo que no solo sergipano
pisasse o Dr. Fausto Cardoso. Não se guardava reserva.
As manifestações
de força eram feitas às escancaras e as encomendas de cangaceiros para os
municípios sertanejos faziam-se de maneira tal, tão francamente, que ninguém as
ignorava.”
É de se
registrar que o famoso militar Augusto Maynard, interventor federal em Sergipe
por duas vezes, na ditadura getulista, anos depois, foi um dos liderados por
Fausto Cardoso.
Não sabemos se
cangaceiros participaram efetivamente da tomada do governo de Guilherme de
Campos, na manhã de 10 de agosto de 1906, embora não haja dúvida de que civis
pegaram em armas naquela ocasião. Os filhos do deputado Fausto Cardoso, por
sinal, ao serem entrevistados, falando a respeito da morte do pai, chegaram a
afirmar que o pai podia contar com 4.000 homens dispostos a tudo.
Em 1924,
cangaceiros também atuaram contra os comandados de Augusto Maynard, os tenentes
do Exército brasileiro em Sergipe, e a favor do governo Graccho Cardoso.
Quanto à
participação de cangaceiros nas hostes dos revoltosos, os tenentes de Maynard,
é de se supor que, dentro de uma lógica, sim. O cangaceiro Corisco, que em 1924
andou servindo por aqui, esteve de um lado ou do outro, ou seja, da legalidade
ou da ilegalidade; é de se saber.
Vale mencionar
que, do lado do governo Graccho Cardoso esteve Eronides de Carvalho, que também
foi interventor em Sergipe, no tempo de Getúlio.
Sobre a
participação do "batalhão" de Porfírio Brito, de Propriá, assim
declarou o governador Graccho Cardoso, após vencida a revolta: “Porfírio Brito
e os seus destemerosos companheiros encarnaram o primeiro protesto armado em
Sergipe. Permitam os fados que não se perca dos nossos anais a beleza
republicana desse exemplo” (“Tenentismo em Sergipe”, de Ibarê Dantas).
Os nomes dos
destacados homens públicos sergipanos, Augusto Maynard e Eronides de Carvalho,
neste meu argumento, meu objetivo foi mostrar que ambos, em momentos da
história, contaram com a ajuda de homens proscritos, marginalizados, foras da
lei, criminosos, cangaceiros.
Talvez esteja
aí uma das razões do cangaço lampiônico em Sergipe ter sido tão tolerado,
afagado quase, por estes dois governantes.
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