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quarta-feira, 5 de maio de 2021

A PITORESCA HISTÓRIA DE UM POTIGUAR QUE VOOU EM COMBATE NOS CÉUS DA EUROPA DURANTE A SEGUNDA GUERRA MUNDIAL

 Por Rostand Medeiros

Rostand Medeiros – IHGRN

Durante a Segunda Guerra Mundial, até onde eu sei,  nenhum dos filhos do Rio Grande do Norte que atravessaram o Atlântico para combater em terras italianas foi piloto de combate do 1º Grupo de Aviação de Caça, o famoso “Senta a Pua”.

Mas na houve um ser vivo, oriundo das plagas potiguares, que foi membro da 15ª Air Force da USAAF – United States Army Air Force e chegou a ter 50 horas de combate em céus europeus.

Patch da Fifteenth Air Force (15th AF).

Tal como o “Senta a Pua”, coincidentemente este potiguar combateu nos céus da Itália. Mas a sua base ficava na cidade de Bari, na região da Puglia, sul daquele belo país. Já a sua unidade aérea de combate era designada como 154Th Weather Recon Squadron, sendo este o único esquadrão de reconhecimento da 15ª Air Force que utilizava o poderoso caça bimotor Lockheed P-38 Lightning.

Este potiguar era muito querido pelos seus companheiros estadunidenses, saiu da Cidade do Sol através de Parnamirim Field e já foi entrando na cabine de um P-38 e ganhando os céus italianos.

Até porque de céu este conterrâneo nosso entendia bastante, pois ele era um simpático papagaio.

O belo e poderoso Lockheed P-38 Lightning. Fonte – NARA

É sério!

Esta é a incrível história de “Jock”, um papagaio potiguar comprado por um dos milhares de aviadores militares americanos que passaram pelo Rio Grande do Norte durante a Segunda Guerra Mundial e que, por obra do destino, participou de missões de combate e ainda foi notícia em vários jornais americanos.

Para que os “doutores” em história da aviação potiguar não digam que o que eu escrevo é mentira, vejam a reprodução da matéria do jornal carioca  “A Noite”, edição de quarta-feira, 19 de janeiro de 1944.

Jornal “A Noite”, edição de quarta-feira, 19 de janeiro de 1944.

Não vou nem reproduzir o que está descrito na reportagem, ela fala por si.

Acredito que pelos dados que encontramos na matéria, informando que o louro tinha um tamanho de 10 polegadas (26 cm), hábito de repetir palavras e bico forte que quebrava lápis, deveria ser da espécie Papagaio Verdadeiro (Amazona aestiva), que é um bicho bem sociável.

Os mais velhos me narraram que este pássaro era fácil de encontrar no Rio Grande do Norte, principalmente no agreste. Mas isso em uma época quando a nossa natureza era muito mais preservada e não existia nem o IBAMA e o ICMBIO para controlar a venda de nossos emplumados psitacídeos aos aviadores gringos.

Seria “Jock” um Papagaio Verdadeiro cono o da foto? – Fonte – http://www.kakatoo.com.br/FotoAve1.html

Mas será que “Jock” era mesmo potiguar?

Bem, como não existe registro de nascimento lavrado em cartório e nem carteira de identidade para papagaio, vale o lugar onde ele foi comprado.

Procurei saber mais sobre os P-38 Lightning”da 15º Air Force e descobri que eles eram subordinados ao 305th Fighter Wing, com base em Salsola, Italia. A esta grande unidade estavam subordinados três grupos de caças P-38, com três esquadrões cada. Já o 154Th Weather Recon Squadron, pela espinhosa função de reconhecimento, era como uma unidade a parte no organograma da 15ª Air Force.

Matéria sobre “Jock” publicada no jornal Evening Leader, da cidade de Corning, Nova York.

Bom, fiz uma pesquisa rápida na internet sobre algum piloto chamado Clark, dono de um louro brasileiro, servindo na Itália, etc. Descobri que a notícia publicada no jornal carioca foi também reproduzida em vários jornais americanos. Pesquei a primeira página do jornal “Charlotte News”, de Charlotte, North Caroline e outro de um jornal nova-iorquino, onde a notícia é bem mais detalhada.

Soube que o dono do psitacídeo potiguar era o piloto Donald L. Clark, de 28 anos, natural de Oakland, Califórnia. Daí encontrei a foto do pessoal do 154Th Weather Recon Squadron e o Senhor. D. L. Clark está lá na segunda fila, mas nada do penoso.

Oficiais do 154Th Weather Recon Squadron. O piloto Clark está na segunda fila dos que estão sentados, sendo o terceiro da direita para a esquerda. Fonte – NARA

Já em relação à história transmitida ao repórter Hal Boyle, da Associated Press, pelo piloto Clark, eu posso entender que “Jock” dormisse durante muitos dos voos, pois eram missões de reconhecimento, onde o melhor é o piloto não chamar atenção e fazer suas fotos bem quietinho, que depois seriam enviadas para o alto comando da 15ª Air Force. Mas esta história que o penoso louro da terra “Papa Jerimum” dormia em missões de bombardeamento e não acordava nem com “artilharia antiaérea”, aí tenho minhas dúvidas.

Pode ser que as alterações de pressão e de temperatura devem ter ajudado o bicho a esticar as pernas e tirar um ronco após cada decolagem, mas só um biólogo, ou um ornitólogo, para definir se esta história tem fundamento.

P-38 em voo. Fonte – NARA

E o danado do “Jock” fez bonito no meio da gringalhada, pois aprendeu, além do português materno, mais quatro idiomas, até mesmo o árabe. Pena que só servia para repetir palavrões.

Agora os pilotos americanos erraram quando inventaram de dar brandy misturado com água ao danado do emplumado potiguar e ele não quis mais beber em uma colher. Tivesse sido cachaça ele beberia até em cálice de igreja. Afinal, quem já ouviu falar em um norte-rio-grandense bebendo brandy?

Apesar de saber que papagaios em geral vivem muito, acredito que no ritmo meio amalucado que o piloto Clark descreve como era a vida deste emplumado norte-rio-grandense e ainda mais com os pilotos baforando fumaça na cara do infeliz, ele não deve ter durado muito.

É uma pena não ter encontrado nada mais sobre este valoroso combatente potiguar que cumpriu tantas missões nos céus da Europa.

Pilotos e um P-38 do 154Th Weather Recon Squadron. Fonte – NARA

Com a história pitoresca de “Jock”, agora posso orgulhosamente afirmar que o Rio Grande do Norte teve um representante em uma cabine de pilotagem durante a Segunda Guerra Mundial.

Para aqueles que vivem nesta terra banhada de sol e admiram com enorme respeito à participação dos nossos conterrâneos no maior conflito da história mundial, podem agora se ufanar de ter um potiguar nesta listagem tão nobre e distinta.

Afinal, é melhor se orgulhar de “Jock” do que da maioria dos políticos desta minha bela terra.

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