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sexta-feira, 24 de dezembro de 2021

LUCAS DA FEIRA, A FERA DO JACUÍPE

Por Beto Rueda

Lucas Evangelista dos Santos, filho de Jejes Maria e Ignácio, nasceu no dia 18 de outubro 1807, na fazenda Saco do Limão, arredores da freguesia de Nossa Senhora dos Humildes, Bahia.

Escravizado, pertenceu a D. Anna Pereira do Lage. Após o falecimento dela, passou ao domínio do padre José Alves Franco. Cresceu em meio ao terrível drama da servidão e sofreu repetidas crueldades dos feitores. Era negro, forte e canhoto.

Devido a sua rebeldia, foi enviado pelo seu proprietário a sede do Arraial de Santana para aprender o ofício de carpinteiro pelo mestre criolo João Batista Pereira. Entretanto, não satisfeito, correu para as matas tornando-se um fugitivo. Em meados do ano de 1828, juntou-se a uma quadrilha formada por Flaviano, Nicolau, Bernardino, Januário, José e Joaquim.

Em pouco tempo passou a liderar o seu próprio bando formado por negros e mulatos, todos escravos fugidos e sedentos por vingança. Por quase vinte anos agiram nas estradas próximas e na região da fazenda Santana dos Olhos D'água. Atacavam tropeiros que iam e vinham das Feiras de Gado, roubavam e raptavam mulheres, inclusive filhas de comerciantes e fazendeiros, o que era considerado uma ousadia para a época.

Quando invadiu a as terras de Francisco Correia, desvirginou suas três filhas, além de matá-lo quando tentou defendê-las. Entre todos os membros da família, apenas o filho do fazendeiro de nome Joaquim Cordeiro, não foi molestado.

O bando de Lucas da Feira era muito temido, um assombro e pesadelo para os sertanejos da região. O Governador da Província estipulou um prêmio de quatro mil réis pela sua captura e morte. Segundo estudiosos, seus atos incitavam outros negros a se rebelarem contra os seus senhores, inspirando mais tarde os movimentos abolicionistas.

Com o passar do tempo e a constante atividade, depois de muitos combates com as forças policiais e a repressão dos fazendeiros, seu grupo foi diminuindo com a morte de alguns, prisões e deserções de outros e acabou por extinguir-se. Lucas acabou sozinho.

Um dia foi traído por seu amigo e compadre Cazumbá. Este, foragido depois de ter matado um homem na "Ladeira do Nage", com a promessa de perdão do crime e de olho no dinheiro do prêmio, o perseguiu. No combate, Lucas foi atingido por um tiro no braço esquerdo, mas conseguiu fugir para a localidade da Tapera, em uma gruta próxima de São Gonçalo. Depois de alguns dias foi feita uma nova emboscada no local chamado Poço Gurunga. Lucas, atingido novamente no mesmo braço, depois de muito resistir, foi capturado no dia 12 de janeiro de 1849 e conduzido a Vila do Arraial de Feira de Santana.

Considerado chefe quadrilha, permaneceu preso até o enfrentar o Tribunal do Juri, onde foi condenado à morte. Por medida de segurança foi levado para Salvador.

Na prisão em Salvador, devido ao agravamento dos ferimentos, seu braço esquerdo teve que ser amputado.

Enquanto aguardava a sua execução, o Imperador D.Pedro II ouviu falar de sua fama e manifestou o desejo de conhecê-lo. Em segredo foi enviado ao Rio de Janeiro para satisfazer a vontade do Regente do Brasil.

No dia 26 de setembro de 1849, Lucas da Feira foi executado em praça pública no Campo do Gado, na Vila do Arraial de Feira de Santana, aos 41 anos de idade. Seu carrasco foi Joaquim Cordeiro, o único sobrevivente da família de Francisco Correia.

Dizem que nesse dia, aliviados e em êxtase, os comerciantes locais deram uma grande festa, distribuíram bebidas e soltaram fogos.

REFERÊNCIAS:

AMARAL, Braz Hermenegildo do. História da Bahia do Império à República. Salvador: Imprensa Oficial do Estado, 1923.

MOTA, Leonardo. No Tempo de Lampião. 2.ed. Fortaleza: Imprensa Universitária do Ceará, 1967.

FERREIRA, Vera ; ARAÚJO, Antônio Amaury Corrêa de. De Virgolino a Lampião. São Paulo: Idéia Visual, 1999.

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