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sexta-feira, 23 de março de 2012

27 de setembro de 1928, no “A Tarde”

Por: Rubens Antonio
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Coronel João Borges de Sá
A RAPOSA DAS CAATINGAS
Lampeão engana os seus perseguidores, fornecendo–lhes falsa pista
AS ASTUCIAS DO BANDOLEIRO
Isso mesmo. è a tactica delle para enganar. O coronel João Borges é um sertanejo de punhos solidos. O seu aspecto physico, a firmeza com que fala, embora a voz tenha fricções suaves, não enganam ao bom observador. se o bandoleiro lhe cae na unha pode estar certo do fim do seu romance de aventuras... Elle é uma testemunha preciosa das actividades do jagunço em territorio bahiano, senão de vista de visinhança, recolhendo depoimento de muitas pessoas que viram d eperto, embora temerosos da sua fama sanguinolenta. E é disso justamente que vamos tratar. O coronel João Borges de Sá, de Uauá, amigo da ordem e das autoridades, trouxe–lhes na sua viagem até a capital informações novas sobre Lampeão.
Entre tantas noiicias infundadas ou mesmo maldosas que correm mundo, apoiando–se num fundo de verdade remoto ou precario, esse depoimento tem o valor de pôr as coisas nos seus devidos logares. Já agora é o reporter quem se incumbe de fazer o homem falar:
– Esteve ou não esteve o homem em Barro vermelho?
– Esteve, sim senhor. Mas não o Barro Vermelho de Juazeiro, mas o de curaçá, distante da estação terminal da Estrada de Ferro, cerca de 20 leguas.
– E, dahi
para onde foi?
– Tocou para o Pica Pau, de automovel, pela estrada de rodagem. Ahi pernoitou. Caminhou a pé, no outro dia, para o “Esfomeado”, onde tomou as montadas para si e para os seus.
– Quantos ao todo?
– seis com elle. Foram para a Fazenda Abobora, dahi a 14 legoas, botando distancia entre o seu grupo e as forças da policia distribuidas em Chorrochó, Patamuté e Varzea da Ema. sei que no dia 14 elle ganhou a caatinga e desappareceu. Nos dias 15 e 16 não se soube noticias, mas no dia 17 reappareceu na fazenda Mary, do dr. Raymundo Gonçalves, nos confins de Joazeiro, depois de ter desandado 8 leguas.
– P’ra diante e para traz...
– Isso mesmo. é a tactica delle para enganar a força...
– Ma sporque não os prendem, se são tão poucos?
– Isso não é assim tão facil, moço! Ha muitos annos que elle anda abaixo e acima pelo interior de quatro ou cinco estados e nunca lhe rpenderam. Parece extraordinario, mas só quem conhece o sertão, a caatinga, é que pode calcular como isso é facil para um homem como Lampeão, quando não se quer brigar... Aquillo é uma rapoza velha. segue por um caminho com a sua gente e vae perguntando onde fica tal ponto assim, assim; recebe as informações e vae andando; depois que já espalhou bem qual é o seu destino, cheg num logar de pedra, onde os cavallos não deixam rastro e embrenha–se pela caatinga. Quem é que pode prender um homem deste? Toma café montado, para ganhar tempo; dorme vestido, com o animal arreiado junto e assim pode vencer grandes distancias, exigindo do que o perseguem grandes fadigas e poucos exitos.
– Que veiu elle fazer na Bahia?
– Descançar.
– ?
– Sim, senhor. trouxe poucos homens da sua maior confiança. Elle já disse “Venho corrido dos “macacos” de Pernambuco. agora a policia bahiana não me deixa viver, vou embora tambem”.
verdade é que as forças da Bahia, sob o commando do capitão Hercilio, têm feito muito. Obrigam Lampeão a não parar, a andar nesse corro corre, para não ser preso...
– E os pernambucanos teem feito horrores por ahi...
– Alguns soldados de Pernambuco andaram dando surras e commetendo desordens. mas não são todos.
O commandante da força é o tenente Arlindo Rocha, pessoa muito direita e não tem culpa no que houve.
É que os soldados pernambucanos estão espalhados em pequenos grupos commandados por inferiores; alguns delles é que tem feito esses desmandos.
E depois de uma pausa:
– Não creio que se pegue o homem... Mas se elle para, a policia bahiana que o acompanha como uma sobra, agarra elle bem agarrado.

Enviado pelo professor e pesquisador do cangaço:
Rubens Antonio, do blog Cangaço na Bahia

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