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quarta-feira, 22 de maio de 2013

Rua Dr. Almeida Castro. Mossoró-RN.


A Rua Dr. Almeida Castro faz parte daquelas áreas que poderíamos definir como as Zonas Históricas de Mossoró, que remontam à época de sua fundação.  Situada na zona central, no distrito 600, integra,  pelo lado leste, o quadrilátero da Praça da Redenção, tem início na Rua Santos Dumont e término na Rua Almino Afonso.

Conforme as referências históricas desta rua, durante o Século XIX, sua denominação era a Rua Nova do Comércio, e seus limites iam do ponto norte da Praça da Redenção ao ponto sul da Praça dos Fernandes, atual Praça Rafael Fernandes. De acordo com Raimundo Nonato em Evolução Urbanística de Mossoró, em 1905, passou a denominar-se Rua Dr. Almeida Castro,   e incorporou o trecho da antiga Rua do Graf, cujos limites iam da Praça da Cadeia – atual Praça Antonio Gomes - até o grande armazém de Ulrich Graf, em destaque na imagem em destaque, no extremo norte da Praça da Redenção[1].

Foi uma artéria mista, havendo desde residências, cafés, tabacaria, fábrica de cigarros, alfaiatarias, boticas, tipografias, cartórios, redação de jornal, consultório do famoso médico Almeida Castro, prédios públicos, tais como o Peso Público,  escola noturna, sedes do Clube Ipiranga e da Sociedade Libertadora, e sempre prevalecendo a predominância da atividade comercial, nela fixando-se grandes negociantes locais e os estrangeiros Ulrich Graf, Conrado Meyer e outros.

Rua Dr. Almeida Castro, à direita, na Praça da Redenção, em 1937.
Ao longo dos anos a geografia da rua sofreu várias alterações. Havia quatro becos: o do Pau não Cessa, o do Coronel Filgueira, o do Monteiro ou o do Boticário e o do Irineu. Os dois primeiros faziam a comunicação da extinta Rua dos Libertos com a Praça da Redenção, e os dois últimos, com a Rua 30 de Setembro. Dos quatro becos os mais importantes nas comunicações eram o do Irineu e o do Monteiro.  O do Cel. Filgueira desapareceu com a edificação de uma casa, e, o do Pau Não Cessa, incorporou-se à Rua Almino Afonso. A residência e o consultório do Dr. Almeida Castro ficavam ao lado do Beco do Monteiro, também chamado por Beco do Boticário ou Beco da Farmácia do Monteiro, estava a farmácia, e lá se reuniam os homens influentes de Mossoró que discorriam sobre extensiva pauta, desde assuntos políticos a histórias de alcovas e falatórios em geral.  Segundo Nonato, em Ruas, Caminhos da Saudade, “muitos eram os amigos do boticário (...) e o banco da sua farmácia era uma espécie de pretório onde não escapavam nem assuntos da vida alheia”, portanto, é compreensível todos quererem ser amigos dele ..

Assim, como a Rua 30 de Setembro, por suas calçadas,  casarões e grandes armazéns comerciais, não só mercadorias, panos, miudezas, produtos refinados de Paris ou de Liverpool e ferramentas transitavam naquele espaço, mas juntamente com tudo isto, também, chegavam e desabrochavam as idéias libertárias que varriam o Novo e o Velho Mundo, na segunda metade do Século XIX. Foi o leito acolhedor para este colorário de novos ideiais que se consolidou, e, em 30 de setembro de 1883, resultou na Libertação dos Escravos na terra de Santa Luzia.

Câmara Cascudo, na obra referenciada, página 137, no tópico As Festas de 30 de Setembro de 1883[1], relaciona os abolicionistas que residiram nesta histórica rua: Alcebíades Dracon, no número 31 já na Praça dos Fernandes; o Presidente da Sociedade Libertadora Mossoroense, o cearense Joaquim Bezerra da Costa Mendes, no número 176; Antonio Filgueira Secundes genitor de Antonio Filgueira Filho, Romão Filgueira e do Desembargador João Dionísio Filgueira, no número 230. Neste local, na mansão de Secundes que se destacava com uma entrada no centro e duas janelas de cada lado, se reuniam, durante a noite, os homens mais influentes da cidade discutindo os problemas criados com o movimento abolicionista e ajustando os planos da campanha[2]. Para aqueles idealista era preciso elaborar o New Deal mossoroense que passava pelo corte umbilical com o berço colonial; Conrado Meyer, o comerciante suíço, no número 335; Romualdo Galvão no número 168, da Rua do Comércio, atual Cel. Vicente Sabóia. Enfim, a rua Almeida Castro poderia ter sido rebatizada como a Rua dos Abolicionistas, este título teria sido mais justo e apropriado para a mesma.

Sobre o atual patrono desta rua, Francisco Pinheiro de Almeida Castro, (28/08/1858-22/06/1922), natural de Maranguape-CE, irmão mais jovem de Padre Miguelinho, mártir da Revolução de 1817. Almeida Castro, em 1880, formou-se em medicina  pela Faculdade do Rio de Janeiro, e, em 1881 fixou residência em Mossoró, onde viveu até a sua morte. Segundo Vingt-un Rosado, em Mossoró, foi "figura destacada em todos os acontecimentos políticos e sociais de Mossoró e chefe de grande prestígio na zona oeste do Estado." Foi Presidente da Intendência, governou Mossoró no final de 1890 a 1892. Jornalista, Abolicionista e Deputado Federal. Cascudo completa o perfil do Dr. Almeida Castro, foi "médico de ação diária de caridade, dedicado, generoso, desinteressado, era realmente o oráculo ouvido e acatado pelo povo." Como já faz parte da cultura das terras da Ribeira do Mossoró, colocar a estátua de um na praça que leva o nome de outro é um fato ultra normal, em 22/02/1932, ergueram o busto Almeida Castro, em bronze, na Praça Rodolfo Fernandes, assim como a estátua do Governador Dix-sept Rosado na Praça Vigário Antonio Joaquim Rodrigues .... e assim segue esta cultura.

Citarmos as fontes é respeitar quem pesquisou e dar credibilidade ao que escrevemos.

[2] (Silva R. N.-1., 1973)

[1] (Silva R. N., Coleção Mossoroense, 1974). Origem da imagem: site Azougue. Provável autor da imagem: Manuelito Pereira (1910-1980)

Fonte: 

http://blogdetelescope.blogspot.com.br/2013/03/rua-dr-almeida-castro-mossoro-rn.html

Enviado pelo pesquisador:
José Edilson de Albuquerque Guimarães Segundo 

Um comentário:

  1. Anônimo09:55:00

    Senhor José Edilson,
    Grata pela transcrição e referência ao meu artigo em destaque.
    http://blogdetelescope.blogspot.com.br

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