Por Rangel Alves
da Costa*
Voar no
pensamento significa uma louvável esperança de alcançar objetivos, uma
tentativa de, ao menos ilusoriamente, estar diante de algo tão desejado. Todo
voo mental vai além de uma possibilidade terrena momentânea para se situar numa
realidade ilusória, mas com plena validade se satisfaz os anseios do sonhador.
E os voos
tomam rumo por diversos motivos. Como as realidades negam a concretização de
planos e objetivos, como as dificuldades da vida impossibilitam o alcance
daquilo que tanto se deseja, então só resta ao indivíduo tentar alcançar tais
realidades de outra maneira, que é através do pensamento, da mente que alça voo
em direção ao desejado.
E o voo no
pensamento, desimpedido e sem barreiras, sem pessoas atrapalhando a viagem e
sem aquelas invejas tão próprias na caminhada sobre o chão, não só leva a
pessoa aonde ela bem desejar como lhe causa sensações indescritíveis, e todas
boas, positivas, alvissareiras. Daí que muitos alçam voo a qualquer instante e
outros procuram suas plataformas para esvoaçar as asas mentais.
E que viagem
intensa, profunda, maravilhosa. Na mente, como uma realidade em perfeição,
aquilo que foi buscado. E assim ser possível a imediata presença num lugar
distante, o encontro com o ser amado, o sorriso da vitória, o reencontro com
aquilo que seria impossível fisicamente. Contudo, como todo voo tem ponto de
partida, momentos de estadia e instante de retorno, eis que uma nova realidade
será encontrada quando do pouso forçado.
Pouso forçado
porque ninguém quer descer da nuvem, do etéreo imaginário, da galáxia mental.
Voou exatamente para fugir da realidade terrena, e eis que novamente os pés têm
de enfrentar a mesma realidade. E dessa não pode fugir, não pode omitir-se nem
fingir que as coisas não acontecem ou simplesmente negligenciar as situações.
Chega-se, assim, ao que é tão conhecido, seja florido ou temerosamente
espinhento.
Da maravilha
do voo ao enfrentamento da realidade. Tal rompimento é que torna o voo, o sonho
de olhos abertos ou idílio imaginativo, em algo tão doloroso para muitos. Mas
impossível permanecer lá em cima, viajando, sonhando. É na terra, pois, rente
ao chão, que a vida caminha e tem de prosseguir. É na caminhada, mesmo que por
cima de pedras e com mãos lanhadas das marcas da luta, que a vida se perfaz.
Mas nem tudo
está acabado quando a pessoa desce do voo para o enfrentamento da realidade.
Sonhar é bom, mas é preciso aprender a se relacionar com as situações de vida
com as mesmas asas do voo mais distante. Como isso pode ser feito? Ora, basta ter
em mente que o sonhado pode ser concretizado na realidade presente, de olhos
abertos e plena consciência de tudo o que acontece ao redor.
É preciso,
pois, aprender a voar no limite do chão; aprender a sonhar sem sair da
realidade; aprender a ir além sem fugir do momento presente. Se há na mente uma
imperiosa vontade de conseguir realizar algo, o primeiro passo é a luta para
concretizar tal sonho; se o pensamento insiste em querer alcançar algo até
mesmo impossível para muitos, o primeiro passo é torná-lo possível diante da
persistência, da certeza que irá conseguir. Assim, é a luta que traz asas, que
torna possível o sonho. E faz o indivíduo alcançar aquilo que desejar.
Eis a lição de
um sábio diante de um discípulo sonhador: Vai que a ti pertence aquela nuvem.
Alça teu voo e vai. Mas antes tenha certeza de ter aprendido a caminhar o
suficiente para conseguir levitar. Se tua vontade é conseguir chegar até lá,
então que vá caminhando. Mas faça de cada passo uma certeza que logo adiante
conseguirá levitar. E depois voar. Assim acontece com os grandes desejos.
Nenhum homem consegue voar sem primeiro aprender a caminhar. É pela
persistência na caminhada que se alcança o mundo, o céu, a nuvem...
Então vai.
Suas asas são belas e grandiosas, o céu é imenso é esperançoso. Então vai. Sua
nuvem é rente ao chão, o horizonte está abaixo dos seus pés, mas vai. Sabe o
que quer e se reconhece como pássaro, então vai. Se há luta tudo será possível,
tudo será conseguido. Então vai. E sempre atento ao que disse Nietzsche: Quanto
mais me elevo, menor fico aos olhos de quem não sabe voar.
Poeta e
cronista
blograngel-sertao.blogspot.com
Postado por
Adryanna Karlla Paiva Pereira Freitas
http://blogdomendesemendes.blogspot.com
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