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quarta-feira, 30 de julho de 2014

OS CRIMES DE LAMPIÃO - Parte I

Por Ranulfo Prata

Teria sido Lampião, realmente, um homem violento, cruel, frio, capaz de cometer os mais horrendos homicídios? Sim. A descrição de alguns dos seus crimes feita por Ranulfo Prata, não deixa dúvida alguma de que, antes de ser o Robin Hood descrito por alguns de seus historiadores, o cangaceiro-chefe, foi acima de tudo desapiedado para com suas vítimas.

"Vila Queimadas: é uma humílima estação da estrada de ferro que liga a capital baiana a Juazeiro, aquela mesma que nos tempos da campanha de Canudos fez-se conhecida por ser ponto de desembarque das tropas expedicionárias.

Euclydes da Cunha assim a ela se refere:

"O casario pobre, desajeitadamente arrumado pelos lados da praça irregular, fundamente arada pelos enxurros, um claro no matagal bravio que o rodeia e, principalmente, a monotonia das chapadas que se desatam em volta, salteadamente pontilhadas de morros desnudos, dão-lhe um ar tristonho, completando-lhe o aspecto de vilarejo morto, em franco descambar para tapera em ruínas"

Ainda hoje é assim.

Como todos os povoados da região parece sempre em "franco descambar para tapera em ruínas", mas não morre nunca, perdura num estado miserável de cachexia, animado de eterno sopro de vida.

Lampião uma manhã fez-lhe uma surpresa de bater-lhe as portas. Tomou de assalto o quartel e nele prendeu todo o destacamento, composto de sete soldados e um sargento. Deixando-o sob a guarda dos cabras, que assim transformaram os pobres policiais, de carcereiros que eram, em encarcerados, foi a uma pensão e pediu que lhe servissem lauto almoço, fazendo questão de que todos os hóspedes, viajantes e pessoas outras, sentassem também à mesa para comer em sua companhia.

Houve quase um banquete. O dono da casa apressou-se em servir o hóspede, matando galinhas, e preparando pratos especiais, atulhando a mesa de iguarias e bebidas várias.

O senhor dos sertões abancou-se à cabeceira e a refeição correu sem novidade, o anfitrião a sorrir amável para todos, principalmente aos viajantes que riam um tanto forçados, deglutindo mal, com espasmos no esôfago.

Ao findar, pagou largamente e encaminhou-se para o quartel onde os seus prisioneiros, lívidos e com o coração a bater forte, aguardavam a sentença, que não demorou muito.

Paga um deles e leva-o para o oitão da cadeia. Ordena que se ajoelhe. O homem dobra as pernas que mal sustém o corpo e finca os joelhos no chão. Tem um olhar intraduzível de pavor. E friamente, serenamente, o matador bárbaro saca do punhal de 78 centímetros de lâmina e crava, num golpe certeiro e veloz, na região preferida – a fossa supra clavicular. A arma, agudíssima, vara facilmente o mole dos tecidos, como um palito à manteiga.

A experiência ensinou-lhe ser ali ótima região, sem obstáculos ósseos que lhe resvalem o punhal. Ao introduzi-lo oblíqua à direita ou esquerda, conforme o lado ferido, transfixando, assim, o mediano. O homem, sangrado como uma rês dá um salto, lança nos ares um urro medonho e cai de borco, já cadáver.

Ele volta à prisão, retira o segundo condenado e repete a cena com a mesma indiferença e frieza. O mesmo golpe certeiro, o mesmo salto, o mesmo urro medonho que põe nos nervos mais equilibrados um tremor de angústia mal definida.

Sargento Evaristo que Lampião poupou a sua vida

Arrasta para fora o terceiro, o quarto, o quinto, o sexto e o sétimo. Quando chega a vez do sargento Evaristo muitas pessoas do lugar intercedem, pedem, imploram em favor do desgraçado. Que, o poupe, ao menos, que o poupe, anima-se a dizer alguns. Já correu muito sangue, deixe a vida ao pobre sargento que tem família numerosa e é homem bom, e querido. Lampião fita-o, nota-lhe os beiços alvacentos a tremerem, a brancura das feições transtornadas, as pernas mal firmes, e diz numa zombaria macabra:

“- Não sei pruque nunca vi homem corado na minha frente!”

E consente-lhe a esmola da vida, num gesto desdenhoso de vencedor terrível. Manda enfileirar os cadáveres:

" - Quando eu saí que enterre, ordena".

E virando as costas vai bebericar numa venda próxima.

Além desta mortandade ultraja o juiz e exige da população miserável mais de uma dezena de contos.

http://www.luizalberto.com.br/l03.html

Postado por Adryanna Karlla Paiva Pereira Freitas
http://blogdomendesemendes.blogspot.com

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