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terça-feira, 26 de janeiro de 2016

NA CIDADE

Por Rangel Alves da Costa*

A cidade grande já se mostra estranha demais, mesmo nela já tendo vivido desde muito tempo. A capital sergipana, mesmo ainda considerada pacata, já não me atrai como antigamente. Tornei-me quase como um estranho.

Consequência disso é a minha ausência em muitos aspectos de sua vida. É como se a cidade fosse um mundo diferente depois da porta da frente, e da porta pra dentro um distanciamento sem fim. E sempre prefiro estar no retraimento solitário dentro das quatro paredes.

Talvez eu esteja errado por considerar como distância aquilo que não conheço o percurso. Talvez eu esteja errado por resolver me afastar daquilo que costumeiramente nunca me aproximei. Assim, o mundo lá fora pode não ser aquilo que imagino.

Na verdade, sempre há um motivo para atrair. Tudo depende dos gostos, das predisposições, daquilo que se deseja encontrar. Há a noite para quem gosta da curtição, há diversas praias para quem gosta de banho de sol e de mar, há barzinho para quem gosta de bate-papo casual, há museus para quem gosta de reencontro com o passado, há diversas opções para quem gosta de arte, de folclore, de história.

Não significa que eu não goste de tais ambientações e suas possibilidades. Sou sempre adepto de tudo que diga respeito a manifestações culturais, a história, ao conhecimento útil. O que implica mesmo é o distanciamento dessa realidade, é a ausência onde tais aspectos se manifestam.

Possuo uma visão diferente do conhecimento da cidade. Entendo que visitas pontuais a museus, centros culturais e outros locais onde se manifestam as tradições populares (artesanato, dança, comida típica, música regional), não são suficientes para o enriquecimento cultural perante o que a cidade apresenta.

Creio existir outras formas importantes de compreender não só a cidade como sua história e suas feições sociológicas e culturais. Aprendi que olhar para o alto, acima dos andares térreos dos edifícios e construções antigas, possibilita encontrar, através das formas arquitetônicas, aspectos primordiais da história de sua história.


Igualmente aprendi que numa mesma fachada há dois momentos que devem ser compreendidos. No centro da cidade, a parte térrea sempre apresenta uma feição diferenciada daquela avistada mais acima. O que está embaixo, na linha da rua, apresenta a feição comercial urbana, com fachada descartável e bem diferente da estrutura do prédio em si.

Olhando um pouco mais acima será possível avistar uma arquitetura antiga, imponente, com linhas não mais utilizadas nas modernas construções. Desse modo, se abaixo há a representação da cidade moderna, acima há a representação da cidade histórica, de como ela foi evoluindo através de suas construções.

Por toda a cidade existem detalhes impressionantes. A maioria das construções antigas, principalmente nas residências senhoriais, palacetes e casarões, contém a data de sua construção inserida na própria arquitetura. Poucos são aqueles que observam e cotejam as datas com os marcos históricos. E também poucos os que procuram saber sobre a história das grandes edificações, sua serventia no passado e sua atual propriedade.

Também as ruas contam muito sobre a história da cidade. E neste aspecto ganha relevo a sociologia urbana. Em Aracaju, principalmente nos bairros que ficam no entorno de onde nasceu a cidade, o tradicionalismo das ruas ainda continua preservado em muitos aspectos. As fachadas antigas, bem adornadas, ainda estão presentes em bairros como o Industrial e o Santo Antônio.

Muitas dessas casas ainda possuem quintais, árvores e pomares, e também moradores que gostam de sentar nas suas calçadas. Significa dizer que são moradias e moradores que não perderam as feições passadas, que ainda preservam um jeito de ser e viver ao modo interiorano, no relacionamento com a vizinhança e na valorização de sua rua.

Desse modo, atualmente, nas poucas vezes que caminho pela cidade é objetivando observar seus pequenos detalhes, as pessoas que correm de lado a outro, o que se manifesta pelos mercados centrais, o antigo e o novo comércio, onde ainda está o velho e onde a modernidade se impõe. E, observando, compreender seu percurso.

Mas, como dito, apenas raramente saio por aí olhando para o alto, observando os pequenos detalhes por onde passo. O antigo é muito mais fácil de ser reencontrado que o novo. O moderno surge e já evapora. Por isso que vou atrás do passado.

Poeta e cronista
blograngel-sertao.blogspot.com

http://blogdomendesemendes.blogspot.com

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