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sexta-feira, 11 de março de 2016

LUA LUANA

Por Rangel Alves da Costa*

A maioria das pessoas certamente não conhece a história da Lua Luana nem da pessoa Lua Luana. Eu também não conhecia, até que tudo me foi repassado através de um velho.

Encontrei este velho ao acaso. Não recordo bem se em sonho, nas minhas andanças ou nas páginas antigas e amareladas de qualquer livro esquecido pelos cantos.

É uma história muito antiga, nascida num tempo esquecido, mas que até hoje brilha na força de lua grande. E ganha contornos de lenda quando a noite está mais brilhosa.

Diz a história ou lenda que Lua Luana era filha única de um pobre casal de camponeses, moradores num lugar muito distante. Existem muitos lugares assim, distantes.

Pelos arredores da moradia não havia vizinhança, não havia estrada aberta para passagem de viajantes e comboieiros, somente um andarilho ou outro se arriscava pelo lugar.

Distante de gente e do mundo, tão longe das pessoas e multidões, mas ao lado da natureza, da mataria, dos bichos do mato, das pedras grandes e da ventania do entardecer.

Era este o mundo da menina que se tornou Lua Luana. Aliás, tal nome não foi pelos pais escolhido, mas surgido por um desses acasos que muitos chamam de destino ou sina.

A verdade é que a menina nasceu e seus pais sequer pensaram num nome. Mas era tão bonita, com olhos tão aureolados e brilhosos, que mais parecia com a mais bela lua cheia.

Sem nome para ser chamada, a mãe passou a chamá-la de lua. Ouvindo a esposa chamar, o pai também se dirigia à menina chamando por lua. Mas não por muito tempo.

Por ali passou um velho pastor de cajado e solidão e bateu à porta em busca de gole d’água. Avistou a menina e foi logo dizendo: mas que criança graciosa, assim como uma Ana.

Os pais ficaram sem entender, mas a curiosidade instigou a perguntar por que Ana, já que a menina, mesmo sem nome de batismo, vinha sendo chamada de Lua.


Então o velho pastor descansou seu cajado e se pôs em rápida explicação. E disse: Que o nome de sua filha seja Lua, então. Não há nome mais singelo e cheio de luz. Lua bonita!

Porém sua filha é mais que iluminada, é graciosa, é cheia de graça, como aquela que presenteia pelo bondoso dom do coração. Eis que sua filha nasceu para a dádiva, a bondade.

Assim bondosa era Ana, aquela que deu ao mundo o profeta Samuel. Assim também era Ana, a profetisa do templo que reconheceu em Jesus o verdadeiro Messias.

E se tens uma Lua, cuja luz do olhar é também a luminescência do coração, também possuis uma Ana, esta que amanhã terá a mão estendida a todos que necessitem de luz.

Sem compreender muito bem o significado das palavras do visitante, os pais da menina desejaram maior explicação. Porém não sabiam como pedir maior aprofundamento.

O velho pastor pressentiu o que desejavam, mas logo cuidou de partir e deixar que o próprio destino trouxesse a compreensão. Assim estava escrito, e assim haveria de ser.

Assim que o velho partiu, os pais da menina ficaram imaginando acerca daqueles dois nomes: Lua e Ana. A mãe chamava a filha de Lua, mas o pai passou a chamá-la de Ana.

A menina, contudo, acostumada ser chamada de Lua desde novinha, já crescida um dia resolveu que dali em diante teria o nome que queria, mas também acataria o desejo dos pais.

Chamou os pais e explicou que daquele momento em diante seu nome completo seria Lua Luana, pois o nome significava as duas luas nos olhos e a bondade no coração.

E disse ainda: Uma lua de Lua e outra lua de Luana. E na Luana também a Ana, um nome tão gracioso que me faz lembrar um tempo de colheita boa, dadivosa.

Não inventou nada disso, pois em sonho o velho lhe trouxe o entendimento. E disse mais: mas cuidado, pois a lua não estará sempre cheia e a maldade tentará seu coração.

Completou o velho: A lua também escurece e parece perdida em meio à escuridão. Quando assim acontece, só mesmo a força na chama do coração para reacender toda a luz.

Então Lua Luana assim teve o seu destino. Na sua solidão, como não tinha a quem servir senão aos pais já envelhecidos, se pôs a serviço do diálogo com a natureza.

Quando do último adeus do último familiar, abriu janelas e portas e deixou que os pássaros entrassem para os grãos que eram espalhados ao chão.

E nunca mais houve noite sem lua pelos arredores. Sempre lua cheia, bonita, e mesmo na noite os pássaros cantando ao redor de Lua Luana.

Poeta e cronista
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