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sexta-feira, 23 de março de 2018

COMPARTILHANDO TRECHO DO MEU ARTIGO SOBRE MATERNIDADE NO CANGAÇO

LIMA, Noádia da Costa. Gravidez e Maternidade no Cangaço Lampiônico ( 1929-1938).

Os bandos de cangaceiros se caracterizavam como grupos armados formados exclusivamente por homens, esses subsistiam da prática de roubos, extorsões e sequestros, faziam uso da tortura e assassinato para impor o medo. A presença de mulheres não era permitida em tais bandos, pois essas eram vistas como seres frágeis e que trariam problemas ao grupo.

A sociedade patriarcal e machista da época tratava a mulher de forma inferiorizada, e restringia o espaço feminino ao lar. As funções da mulher seriam: a prática de atividades domésticas, o cuidado com seu esposo e filhos, e no caso das mulheres pobres o trabalho na lavoura para ajudar no sustento da família.

Não se visualizava a mulher deixando a tranquilidade do seu lar, para acompanhar um grupo nômade de facínoras pelos sertões. Essa quebra de padrão ocorreu com Lampião, antes dele nenhum chefe de grupo permitiu a incorporação de mulheres nos bandos. Lampião modificou as regras e forjou nova forma de Cangaço ao permitir o ingresso de Maria Bonita em seu grupo.

Segundo (LIMA, 2017:10) Maria Bonita entrou para o Cangaço no finalzinho de 1929 ou princípio de 1930. Vale ressaltar que Maria não aderiu ao Cangaço apenas por vontade própria, ela precisou da autorização e aceitação de Lampião para segui-lo.

Os antecessores de Lampião nunca permitiram a presença permanente de mulheres no seio de seu grupo, considerando que elas representavam um perigo tanto no plano real como no plano simbólico. Foi depois da entrada de Maria Bonita para o Cangaço, como companheira de Lampião, que outras mulheres se juntaram ao grupo. O grupo de cangaceiros já não era organizado apenas como um pequeno exército ou como uma tropa de homens ligados por laços de compadrio: doravante ele passava a estruturar-se com base em laços familiares.

(JASMIN, 2016:121)

A entrada de Maria Bonita possibilitou que outras moças abandonassem o ambiente doméstico e ingressassem nos vários subgrupos de cangaceiros, passando a ocupar lugar que antes era exclusivamente masculino. Gradativamente os cangaceiros passaram a arranjar companheiras e trazê-las para o bando do qual faziam parte, tendo como consequência o aumento da quantidade de cangaceiras nos subgrupos.

Com a chegada das mulheres o cotidiano dos bandos se alterou significativamente, a presença feminina ao mesmo tempo que possibilitou uma vida sexual regular, diminuiu a ocorrência de estupros cometidos pelos cangaceiros. Esses além de escapar das perseguições da polícia, teriam nova incumbência: garantir a segurança de suas companheiras e impedir que fossem capturadas ou mortas.


A função da mulher cangaceira era essencialmente afetiva, ela apenas acompanhava seu par pelas andanças no sertão e não participava das batalhas, a exceção foi Dadá, companheira do cangaceiro Corisco, que participou de um único combate. Elas não possuíam função doméstica, pois antes da entrada dessas, tais tarefas já eram divididas e realizadas pelos homens.

Referências:
JASMIN, Elise Grunspan. Lampião –Senhor do Sertão. EDUSP, 2016.
LIMA, João de Sousa. Mulheres Cangaceiras “a essência feminina como questão de gênero. Paulo Afonso: Fonte Viva, 2017.
OLIVEIRA, Aglaê Lima de (1982). Lampião, Cangaço e Nordeste. Editora O Cruzeiro- 2aEdição. 1970.
Na foto abaixo o casal de cangaceiros Corisco e Dadá. 

Foto: Benjamin Abrahão

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