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domingo, 29 de julho de 2018

A MAIS VERDADEIRA E COMPLETA HISTÓRIA DO CASTELINHO DA RUA APA


Postado por Oscar Mendes Filho - no dia 30 de maio de 2018

Depois da lenda do Rougarou na última semana…

Existem muitos lugares na cidade de São Paulo que merecem ser mencionados quando se trata de locais assombrados e essa certamente não é a primeira matéria sobre o já famoso Castelo da Rua Apa. 

Mas por que então escrever sobre ele? 

Porque o texto a seguir é fruto das pesquisas que realizei para criar o livro Sombras do Castelo, que retrata um causo que me foi contado por meu tio, hoje já falecido, que dizia ser verdadeiro. 

Realizei a pesquisa para poder entender o que aconteceu no local e, assim, retratar com maior riqueza de detalhes essa história que me foi contada. 

Capa – Sombras do Castelo

Vamos então entender um pouco do que ocorreu no castelo.  

A História do Crime:

No dia 23 de julho de 1988 faleceu Maria Cândida Cunha Bueno a dona Baby, última pessoa a falar abertamente sobre o fatídico acontecimento ocorrido na Rua Apa nº 236, esquina com a Avenida São João, no bairro de Santa Cecília, em São Paulo, local onde ainda hoje está localizado o famoso Castelo da Rua Apa.

http://www.fiamfaam.br/momento/?pg=leitura&id=351&cat=1

Dias antes de sua partida ainda era possível vê-la, mesmo já com 97 anos, homenageando a memória do seu namorado, Álvaro, que para a polícia foi o autor do crime ocorrido naquele local, em 12 de maio de 1937, batizado pela imprensa como “O Crime do Castelinho da Rua Apa”.  

Mas a primeira pessoa a tomar ciência do crime foi Elza Lengfelder, cozinheira da rica família dona do castelinho, que morava em um anexo da residência junto com seu marido Rodolpho e outra empregada, de nome Maria Aparecida Martins (que não se encontravam no local na fatídica noite). Elza, ao ouvir tiros no interior da grandiosa residência, saiu às ruas para chamar um policial. Este, ao entrar no castelinho, viu os corpos dos irmãos Álvaro e Armando, e da mãe, Maria Cândida estendidos entre o escritório e a sala.  


Por serem pessoas muito importantes na cidade, no dia seguinte o caso ganhava as manchetes dos jornais, já sob o título pelo qual ainda hoje é conhecido.  

Mas quem eram essas pessoas cuja morte atraiu tanto a atenção da imprensa?  

Maria Cândida dos Reis (a primeira à esquerda), o pai (ao volante do automóvel), Armando (sem camisa, sentado no estribo do carro) e, ao lado dele, Álvaro (com trajes de banho e encostado no pára-lama).

Álvaro de 45 anos, era advogado e esportista e vivia cercado sempre de belas mulheres, o que hoje costumamos chamar de “playboy”. Já com um perfil mais discreto o irmão, Armando César dos Reis, também advogado, tinha 43 anos.  

Maria Cândida Guimarães dos Reis, então com 73 anos, era uma senhora dedicada à prática religiosa e viúva do médico Virgílio César dos Reis, que faleceu em 1934, três anos antes do crime, ao contrário do que se publica por aí.  

Após uma viagem feita à Europa, Álvaro estava empolgado com alguns novos e arriscados projetos, com os quais o irmão Armando não concordava e o assunto provocara o desentendimento entre eles, que segundo a polícia, culminou com o famoso crime. 

O curioso é que nenhum dos irmãos morava no castelinho, ali funcionava apenas o escritório de advocacia da família e, na noite do crime, Álvaro estava na casa de sua namorada, dona Baby. Ele fora até o local após receber um telefonema informando que havia um problema que tinha que ser solucionado urgentemente. O autor desse telefonema permanece um mistério até hoje.


Ali Álvaro encontraria a morte. Perto dos corpos, dispostos paralelamente, inclusive com Armando de olhos abertos, foi encontrada uma pistola alemã Mauser, calibre 9mm, registrada em nome de Álvaro, o que só veio a reforçar a hipótese da polícia.

Havia, entretanto, circunstâncias que atrapalhavam a tese das autoridades: Álvaro fora morto com dois tiros, fato bastante incomum em casos de suicídio, e mais, o calibre das balas encontradas nos corpos eram diferentes, sendo que a segunda arma, uma Magnum Parabellum, jamais foi encontrada.  

Com as investigações posteriores foram descobertas promissórias assinadas por Álvaro que o deixariam em situação financeira bastante delicada, mais um fato que levou a polícia, após um ano, a dar por concluído o caso, apontando-o definitivamente como o autor dos disparos.  

Descobriu-se, ainda posteriormente, que tais promissórias haviam sido adulteradas pelos credores, que lhes teriam acrescentado um zero para aumentar-lhes o valor, mas misteriosamente esses “sócios” de Álvaro jamais foram identificados.  

Os institutos que periciavam o caso tinham grandes divergências quanto às conclusões apresentadas, ainda quando se deu o arquivamento do caso, de forma que o que realmente aconteceu naquela noite no Castelinho da Rua Apa permanece como sendo um mistério até hoje.  


No intuito de preservar a imagem de Álvaro, amigos encarregaram-se de apresentar uma versão mais amena para os fatos: a de que ele apenas empunhara a arma, talvez, sem mesmo pretender usá-la contra Armando e que a mãe, apavorada, ao tentar separar os filhos, fizera-o acionar o gatilho, provocando também sua própria morte. Diante do acontecido Álvaro não teria cogitado outra alternativa, senão o suicídio.   

Para dona Baby, nenhuma das duas hipóteses eram verdadeiras. Ela tinha certeza de que Armando era o verdadeiro vilão da história e morreu defendendo a inocência do seu amado Álvaro.

O castelinho começou a ser construído por arquitetos franceses em 1912 a pedido do Sr. Virgílio e ficou pronto em 1917 sendo um presente do marido à esposa, Sra. Maria Cândida.
  
Até a data do terrível acontecimento a vida no local era normal, no entanto, após o ocorrido, várias pessoas passaram a relatar que ele apresentava fenômenos inexplicáveis. 

Um ano após o crime e o caso ser dado por encerrado foi realizado um leilão de todos os móveis da casa e a construção ficou para o Departamento do Patrimônio da União até 1951, quando a Receita Federal o ocupou, visto que na época parentes colaterais, como sobrinhos e primos, não tinham direito de receber heranças. 

Chegando à década de oitenta o castelinho ficou abandonado, transformando-se em um depósito de sucatas e ferro velho. Jornais de 1988 anunciavam o abandono do local e o filme “Fogo e Paixão” com Fernanda Montenegro, foi o último “momento de glória” da edificação. 

Maria Eulina dos Reis, na época uma moradora de rua e sonhadora, dizia: “Um dia esse castelinho vai ser meu” e vendo todo aquele prédio sendo destruído pelo tempo e esquecido pelas autoridades, começou a lutar pelo imóvel. 


No ano de 1990 ela decidiu entrar com processo de tombamento e pedido de restauração e em 1997 conseguiu o que tanto sonhava. O prédio continuava pertencendo à União, mas foi cedido a ela para que utilizasse o espaço, concretizando o seu sonho de ajudar moradores de rua continuar lutando para a reforma do seu tão sonhado castelo. Apenas em 2004 o castelinho foi tombado, mas pelas péssimas condições em que ele estava, foi comprado um imóvel ao lado do castelinho para que Maria Eulina pudesse dar vida ao seu projeto: o “Clube de Mães do Brasil”, que conta com a ajuda de empresas voluntárias.  

Maria Cândida dos Reis (a primeira à esquerda), o pai (ao volante do automóvel), Armando (sem camisa, sentado no estribo do carro) e, ao lado dele, Álvaro (com trajes de banho e encostado no pára-lama).

Desde o fatídico episódio todos os que se atreveram a passar a noite no castelinho relataram ter presenciado fenômenos assustadores. 
  
Presença Paranormal: 

O comediante Ankito (considerado um dos cinco maiores nomes das chanchadas) morou no castelinho em 1944 e relatou que era comum à noite ouvir pessoas andando nas escadas, as portas e janelas se abrirem e ao amanhecer encontrar as torneiras abertas. Ainda assim era um apaixonado pelo local e dizia não sentir medo diante de tais fenômenos. Logo após sua mudança outra família morou no castelinho por cerca de vinte anos, e também relatava a vizinhos o fato de escutarem passos e muitos barulhos misteriosos, sem que esses fenômenos os impedissem de permanecer no local. 

Maria Eulina (Fundadora do Clube de Mães do Brasil) também relatou ter presenciado eventos sobrenaturais, como a presença de um rapaz dentro do castelinho, além de sentir que o lugar possui uma energia negativa, que inclusive a impede de conseguir interessados em restaurá-lo.

Maria Eulina estranhamente não fala mais sobre o assunto hoje em dia.
Essa dificuldade em que se consiga restaurar a edificação poderia ser obra dos atormentados espíritos que insistem em permanecer no local? Difícil dizer.

José Mojica Marins (o famoso Zé do Caixão) ao filmar nas dependências do castelinho sofreu um princípio de acidente, o que levou os bombeiros a derrubarem todo o assoalho do andar superior da construção. 
  
Teria o temível Zé do Caixão sido vítima dos espíritos que ali se encontram? 

Pessoas que, durante a madrugada, atravessam defronte ao castelinho relatam ouvir choros e sons como os de correntes sendo arrastadas vindos do interior da construção. 
  
Até que ponto esses relatos podem ser verdadeiros?  

O relato que deu origem ao meu livro, Sombras do Castelo, nunca foi mencionado anteriormente em reportagens, provavelmente por seu protagonista já ser falecido e, quando vivo, não possuir qualquer vínculo com o local e morar em uma distante cidade no interior do Estado.

Se o Castelinho da Rua Apa já lhe imprime sensações ruins, acredite: ao conhecer o relato contido no livro seu temor aumentará ainda mais.

Há quem diga que o ato tresloucado de Álvaro tenha sido consequência de tormentos impostos por criaturas malignas que por ali permeiam, principalmente em virtude de o castelinho se encontrar em uma encruzilhada. Sim, há a possibilidade de Álvaro ter matado sua mãe e seu irmão, e em seguida se suicidado, devido à entidades obsessoras.

Mas seria mesmo Álvaro o autor das mortes? Se não foi ele, quem foi?

Seriam todos esses fenômenos relatados recentemente obra dos espíritos da família que ainda hoje permanecem ali encarcerados? Estariam eles ainda em busca da solução para o crime que lhes arrancou a vida?

Ainda hoje ninguém sabe, ou ao menos não deseja dizer, o que aconteceu na noite de 12 de maio de 1937 e a versão oficial aponta como sendo Álvaro o autor das mortes, ainda que diante de muitos fatos que colocam em xeque essa versão.

De qualquer forma o castelinho ainda resiste, entregue aos seus fantasmas e às suas lembranças, guardando em seu interior os mistérios que fazem dele um dos lugares mais assombrados da cidade de São Paulo. 

Arquivo do Horror, toda quarta-feira, às 20h, no BDI.
@oscarmendesf / Site oficial do autor
Mande e-mail para o colunista: oscarmendes@bastidoresdainformacao.com.br

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