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quinta-feira, 26 de julho de 2018

ESTADO NOVO EM POMBAL ...

Por José Tavares de Araujo Neto

Em 10 de novembro de 1937, às vésperas da eleição presidencial, prevista para o dia 03 de janeiro de 1938, o Presidente Getúlio Vargas instituiu o golpe denominado Estado Novo. O Congresso Nacional, as Câmaras Municipais e as Assembleias Legislativas foram fechadas e os partidos políticos extintos. Os governadores dos Estados foram substituídos pelos Interventores, nomeados pelo Presidente da República, e os Prefeitos, por sua vez, passaram a ser nomeados pelos Interventores Estaduais.


Na Paraíba, a política conciliatória implementada pelo governador Argemiro de Figueiredo havia reunidos as forças políticas em um único bloco. A candidatura de José Américo de Almeida a Presidente da República, que teoricamente deveria ter o apoio do Presidente Vargas, já se encontrava em processo de consolidação. O imediato apoio de Argemiro ao Estado Novo suscitou no rompimento entre José Américo e o Governador paraibano. Assim, neste contexto, Argemiro de Figueiredo, que havia sido eleito pela Assembleia Legislativa em 1935, foi escolhido por Vargas para assumir a Interventoria do Estado, e este por sua vez, manteve Sá Cavalcante como Prefeito de Pombal, cargo conquistado por via direta também em 1935.

Governador Argemiro de Figueiredo

Com a instituição do Estado Novo aumenta o prestígio de Epitácio Pessoa Cavalcante de Albuquerque (Epitacinho), filho do ex-presidente João Pessoa e amigo pessoal do Presidente Getúlio Vargas. Em 1938, o governo Argemiro começa a dar sinais de desgaste, motivado principalmente pela disputa inter-oligárquicas envolvendo os grupos políticos liderados por Argemiro e os alijados do Poder, representados principalmente pela família Pessoa. Para acalmar os ânimos, Argemiro de Figueiredo cria a Secretaria de Educação e convida Epitacinho para ocupar a pasta.

Empossado, o Secretário Epitacinho inicia uma campanha conspiratória, visando desestabilizar o governo do Interventor Argemiro, a fim de tomar o seu lugar. Em março de 1939, Argemiro extingue a Secretaria de Educação, deixando Epitacinho sem cargo. Em respostas, o ex-secretário de Educação entra com uma representação junto ao Ministério da Justiça, na qual relaciona uma série de desmandos administrativos supostamente praticados pelo Interventor. A partir de então, a administração de Argemiro Figueiredo entra em um profundo desgaste, que culminou com pedido de exoneração do cargo, prontamente aceito por Vargas.

Rui Carneiro

Entretanto, quando todos imaginavam que Epitacinho seria o substituto natural de Argemiro, principalmente por sua estreita relação com o Presidente Vargas, na manhã de 16 de agosto de 1940, a Paraíba despertou com a notícia de que o Presidente Vargas havia nomeado para o cargo o pombalense Rui Carneiro, que se encontrava alheio aos conflitos políticos da Paraíba, assumindo cargo de Secretário da Presidência do Banco do Brasil, na Capital Federal. O que mais causou estranhamento nas hostes paraibanas foi o fato do novo interventor nomeado ser um reconhecido adversário político de Argemiro e inimigo pessoal de Epitacinho. Rui Carneiro, ético, honesto e leal, não fazia segredo que abominava as atitudes nada republicanas do filho de João Pessoa. É oportuno registrar que no ano seguinte, 1941, Epitacinho também foi um dos responsáveis pela derrubada do Interventor de São Paulo Adhemar de Barros, ocorrida após a publicação do livro “A administração calamitosa do sr. Ademar de Barros em São Paulo”, o qual assinou sob o pseudônimo de João Ramalho.

Enquanto isso em Pombal, o Prefeito Sá Cavalcante, lutando contra o tempo, intensifica, a toque de caixa, a conclusão das obras referentes a implantação de audacioso conjunto arquitetônico no centro da cidade, que deveria marcar como o maior legado de sua administração. O Projeto era composto de duas praças, um imponente coreto inspirado no Pavilhão do Chá da Praça Venâncio Neiva, em Joao Pessoa, e uma réplica perfeita da coluna da hora da Praça do Ferreira, em Fortaleza. As praças deveriam receber o nome de Getúlio Vargas e Argemiro de Figueiredo, Presidente da República e Interventor da Paraíba, respectivamente. O Prefeito já até havia recebido a estátua do Interventor Argemiro de Figueiredo e o busto do Presidente Getúlio Vargas, que havia encomendadas para serem instaladas nas respectivas praças. Sob a coordenação do secretário Antonio José de Sousa, os serviços foram agilizados, faltando apenas a conclusão do Pedestal, para colocação do busto, e da base, destinada a estátua.

Estátuas de Argemiro e Getúlio

Rui Carneiro já tinha assumido a Interventoria da Paraíba. O Prefeito Sá Cavalcante permanecia no cargo, aguardando a nomeação do seu substituto, que poderia sair a qualquer momento. Já havia sido instalado o busto de Getúlio Vargas, enquanto que na outra praça os trabalhadores davam os últimos retoques para a aposição da Estátua de Argemiro Figueiredo, quando Antonio de Sousa foi surpreendido por um emissário que trazia um recado de Janduhy Carneiro, irmão do novo interventor, recomendando que os serviços fossem suspensos imediatamente, pois tinha outro plano para a referida obra. Indiferente, Antonio de Sousa continuou com os serviços, recebendo pela segunda vez o mesmo emissário, com o mesmo recado. No dia seguinte, 05 de setembro, Rui Carneiro destituiu o Sá Cavalcante, nomeando para substituí-lo o Agrônomo Paulo Alfeu de Miranda Henrique. O novo gestor municipal tomou posse no dia seguinte, 6 de setembro, quinta-feira, sem a presença de Sá Cavalcante, que incumbiu Antonio José de Sousa, seu fiel escudeiro, para repassar o cargo.

Na madrugado do sábado, dia da feira-livre, pessoas não identificadas, mas certamente ligadas politicamente aos Carneiro e com o consentimento do grupo, quebraram a estátua de Argemiro de Figueiredo, sendo seus fragmentos jogados no leito do Rio Piancó. A praça deveria ter nome de Argemiro de Figueiredo, foi batizada Praça José Américo de Almeida, seu adversário político. Em 1951, com a eleição do prefeito José Ferreira de Queiroga (Dr. Queiroga) recebe o nome de Praça Rio Branco, sendo renomeada Praça José Ferreira de Queiroga, em 1953, após a morte de Dr. Queiroga, em pleno exercício do cargo. Em 1962, ano das comemorações de aniversário de um centenário que Pombal ganhou o status de cidade, ela passou a ser conhecida também como Praça do Centenário, sem prejuízo para o nome oficial.Indiferente a polarização das disputas eleitorais e as consequentes alternâncias do Poder, o nome da Praça Getúlio Vargas e seu busto se mantiveram preservados desde o Estado Novo até os dias de hoje.

José Tavares de Araújo Neto, pesquisador
Pombal, Paraíba

 https://cariricangaco.blogspot.com/2018/07/estado-novo-em-pombal-porjose-tavares.html

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