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quinta-feira, 26 de julho de 2018

FICTÍCIO - SEU GALDINO CONTA A SEU LEODORO GUSMÃO QUE QUEM FEZ LAMPIÃO CORRER DE MOSSORÓ FOI ELE.

Por José Mendes Pereira

Não adianta duvidar do seu Galdino. É porque ele conversa um pouquinho a mais, então faz com que algumas pessoas não acreditem nele.

Lá na vazante seu Galdino e seu Leodoro faziam um plantio de milho, feijão..., e entre uma carreira e outra plantavam Gergelim.

Seu Leodoro não tinha ambição nenhuma pelo o plantio de gergelim. Dizia ele que era muito trabalhoso, desde o plantio até a colheita, mas não contrariava o interesse do seu compadre. E querendo saber o motivo dele tanto gostar do plantio do gergelim, fez-lhe a seguinte pergunta:

- Compadre Galdino, desde que nasceram as nossas amizades vejo seu interesse pelo o plantio de gergelim. Por que o senhor sempre gostou de plantar gergelim?

- O meu interesse pelo plantio de gergelim compadre Leodoro, é porque certa vez, consultei um médico ortomolecular que trabalhava com envelhecimento saudável, bem-estar e estética. Ele me reforçou que se deve comer bastante gergelim, porque oferece uma série de benefícios, como por exemplos: Importante para a saúde intestinal; controla bem o colesterol; faz diminuir peso; tem vitaminas que é importante para a saúde dos nossos ossos, olhos e fígado; faz diminuir o açúcar no sangue, e além disso, o médico me garantiu que é uma excelente fonte de proteínas. O gergelim compadre Leodoro, segundo o médico, combinado a uma alimentação saudável é um grande aliado para quem quer manter a forma com refeições saborosas e que realmente saciam.

- Sim senhor, compadre! – Fez seu Leodoro Gusmão. Muito obrigado pela sua explicação sobre o valor medicinal que tem o gergelim. É por isso que o senhor tem desejo do plantio deste legume. E eu acho que no próximo ano também estarei fazendo plantio de gergelim.

https://www.youtube.com/watch?v=tanVpxmoG2E

Já eram mais de 9:00 do dia e no gigantesco infinito o sol começava liberar fios solares mais quentes. E de pressa, os dois resolveram fazer lanches sob uma antiga quixabeira, possivelmente milenar, e ali, enquanto comiam, falaram sobre o que estava acontecendo de possível envolvimento de pessoas fugidas de outros Estados, alojaram-se aqui, e usavam desonestidades nas fazendas e em pequenos municípios.

- O que está acontecendo aqui em Mossoró compadre Galdino, até nos faz lembrar os velhos tempos de Virgolino Ferreira da Silva o bandoleiro Lampião.

E assim que seu Leodoro usou o nome “Lampião” seu Galdino de um pinote só, levantou-se do lugar em que estava sentado, e resolveu falar sobre a tentativa de ataque de Lampião e seu bando na tarde do dia 13 de junho de 1927 em Mossoró-RN, Inciou dizendo:

- Compadre Leodoro, eu até hoje sinto desgosto por ter sido excluído da história que organizaram sobre a tentativa de assalto à Mossoró, feita pelo capitão Lampião e seu honrado grupo.

- Oxente, compadre Galdino! Tenho lhe acompanhado de muitos anos, mas eu não sabia que o senhor entende um pouco da história de Mossoró sobre o falado capitão Lampião.

- E eu não te contei ainda não, compadre Leodoro?

- Não senhor! Até hoje não ouvi nada sobre Lampião contada pelo compadre.

- Eu não só entendo como também fui o responsável pela fugida daqui de Lampião com o seu bando.

- Verdade, compadre Galdino? – Fez seu Leodoro em tom de admiração.
- Coompaadree Leeoodooro, quantas vezes o senhor já me viu contando mentiras?!

- Nunca, compadre! Nunca! – Confirmou seu Leodoro mesmo contra a sua vontade. Mas até hoje o senhor nunca me falou nada sobre Lampião. Sobre onças, já me falou muitas vezes, mas a fugida do capitão Lampião de Mossoró...

- Pois bem compadre Galdino, atalhou seu Galdino, eu vou contar ao senhor tim-tim por tim-tim. Quando o coronel Rodolfo Fernandes soube que Lampião estava caminhando em direção à cidade de Mossoró ele que era prefeito iniciou uma espécie de alistamento para quem quisesse combater o cangaceiro e seu grupo. Eu que sempre fui corajoso, nunca temi a nada, isto o senhor sabe muito bem...

- Verdade, compadre! Isto eu sei bastante, que o senhor é homem corajoso mesmo! Homem que tem coragem de lutar com onça compadre, imagino...!

- E então, eu ainda era muito jovem, mas com um bom porte físico. Fui tentar entrar nessa lista para combater o cangaceiro com os seus comandados. Mas ao chegar à casa do prefeito, bem lá na Avenida Alberto Maranhão, no centro da cidade de Mossoró, ao lado da igreja do São Vicente, um dos seus empregados me encaminhou até à sua presença, que naquele momento, ele se encontrava em reunião com um amigo lá nos fundos da sua casa. Mas tive o desprazer de ouvir dele a palavra não. Perguntei o motivo de não me aceitar na alista da empreitada. Ele me falou que eu era ainda muito jovem, adolescente sem experiência na vida para enfrentar bandoleiros...

- E o prefeito disse isso na sua cara, compadre Galdino?

- Sim senhor! Disse. Mas eu não insisti mais. Fiquei calado, e de lá, saí meio triste. E quando foi no dia 13 de junho de 1927, Lampião entrou na cidade com gosto de gás, e desejo de levar tudo que ele achava que tinha direito. Nesse tempo, eu morava sob os olhares dos meus pais. Já bem próxima da sua entrada na cidade eu me arrumei e fui tentar ver se conseguia falar com ele.

- Ele quem, compadre Galdino?

- Falar com o capitão Lampião, compadre Leodoro! Parece que o senhor não está acompanhando o meu raciocínio?

- Estou, comadre Galdino! – Disse seu Leodoro tentando não o contrariar.

- Mais ou menos 4 horas da tarde o tiroteio começou. Os resistentes atiravam e os bandidos respondiam. Haviam homens instalados por todos os lugares como: nas torres das 3 maiores igrejas: Matriz de Santa Luzia, Na Coração de Jesus e na Igreja de São Vicente. Também tinham defensores no Mercado Central, na Empresa Companhia de Luz, No Ginásio Diocesano, na sede dos Correios e Telégrafos, na Estação ferroviária, no Grande Hotel, na casa do prefeito Rodolfo Fernandes e outros locais.

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- Mossoró estava muito bem preparada concorda comigo, compadre Galdino?

- E como concordo, compadre! Pois bem, Lampião tinha ajuda de alguns bandidos que conheciam muito bem a região do nosso Estado. Um destes bandidos era um tal de Cecílio Batista o Trovão, que em anos remotos havia morado em Assu no Rio Grande do Norte, e fora preso por malandragens e desordens. O José Cesário o Coqueiro mais um outro bandido de nome Júlio Porto. Estes dois últimos haviam trabalhado em Mossoró como motorista da empresa Algodoeira Alfredo Fernandes, e outros mais. Esta empresa era uma que muito fez Mossoró crescer, dando empregos aos mossoroenses. No início do tiroteio as balas voavam pelas ruas da cidade. Tanto saíam das armas dos cangaceiros como das armas dos combatentes. A cidade estava em pânico, mas quase sem ninguém, porque a maior parte da população tinha sido advertida para deixar a cidade o quanto antes possível. Nesse tempo, meus pais e eu morávamos nos alagadiços, hoje bairro Pereiros, não tão distante do combate. E eu saí devagarinho de casa sem comunicar aos meus pais, que o meu intuito era ver se conseguia falar com o capitão Lampião para ele desistir da empreitada. E assim fiz. Fui me aproximando, sempre me escondendo e lá mais adiante fui me defendendo dos estilhaços de balas, tentando me contactar com Lampião. Ao longe, em uma rua bem no centro que ainda era apenas rua projetada, por trás da igreja do São Vicente, avistei um homem magro, alto, que usava óculos..., e percebi que só poderia ser ele, porque eu já havia visto a sua foto no jornal "O Mossoroense" em uma reportagem que dizia que ele estava chegando. Eu levava aquele meu facão que é do seu conhecimento, compadre Leodoro, até hoje ainda o uso quando caço onças nos tabuleiros... Olhando ao meu lado direito, vi uma moita muito bonita, bem enramadinha e arredondada. Cortei-a, coloquei-a sobre mim, e fui andando bem abaixadinho na intenção de não ser percebido por ninguém. E fui me aproximando do suposto Lampião, suposto porque eu não tinha certeza que era ele. E na verdade, era o capitão Lampião.

- O senhor estava dentro da moita, compadre Galdino?

- Sim senhor! Eu pensei sair logo de dentro dela, mas esperei uma oportunidade...

- Tinha algum cangaceiro por perto, compadre Galdino?

- Vi alguns deles com armas em punhos e atirando...

- E o senhor ficou com medo quando os viu?

- De forma alguma, compadre! Eu não sou homem de ter medo de nada..., e quando eu estava bem pertinho dele, de dentro da moita eu disse: Seu Lampião!!! Aí Ele teve um medo tão danado que em gritos exclamou fortemente, dizendo:

- "Valha-me meu Padim Padim Ciço!!" Nunca tinha visto uma moita falar!

- E lá, ficou rodeando a moita com o seu mosquetão em punho e o dedo no gatilho. E eu fui saindo. E ao me ver, quis logo me sangrar com um punhal. Mas eu disse-lhe que estava ali à sua presença somente para ajudá-lo e dizer a ele que desistisse do ataque, porque a cidade estava muito bem preparada, com mais de 800 combatentes. Eu aumentei o total de combatentes compadre Leodoro, só para ele desistir e não mexer com a minha cidade.

- E ele, o que fez, meu compadre Galdino?

- O que o capitão Lampião fez foi ir embora. Colocou um apito na boca, e fortemente, ficou dando sinal para os seus cangaceiros para se mandarem de Mossoró. Com pouco tempo, o local em que nós estávamos, ficou coalhado de facínoras. Exceto o Colchete que ficara estirado ao chão já pronto para se fazer o enterro, em frente à casa do prefeito. Um de nome Jararaca que saiu baleado quando foi desequipar o seu companheiro morto, um dos combatentes acertou bem de cheio o seu peito, e ele fugiu do combate, tendo sido capturado no dia seguinte, e dias depois, foi executado.

- Já vi compadre Galdino, que o senhor tem coragem até para enfrentar dragão..., teve coragem de enfrentar até o capitão Lampião que não temia ninguém...

- E eu brinco, compadre! Eu não nasci de 7 meses não senhor!

E assim que terminaram este bate papo cada um foi para sua casa. Seu Leodoro nem imaginava acreditar nesta conversa contada pelo seu compadre. Mas o que era de fazer?

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