Por José
Mendes Pereira
Não adianta
duvidar do seu Galdino. É porque ele conversa um pouquinho a mais, então faz
com que algumas pessoas não acreditem nele.
Lá na vazante
seu Galdino e seu Leodoro faziam um plantio de milho, feijão..., e entre uma
carreira e outra plantavam Gergelim.
Seu Leodoro
não tinha ambição nenhuma pelo o plantio de gergelim. Dizia ele que era muito
trabalhoso, desde o plantio até a colheita, mas não contrariava o interesse do
seu compadre. E querendo saber o motivo dele tanto gostar do plantio do
gergelim, fez-lhe a seguinte pergunta:
- Compadre
Galdino, desde que nasceram as nossas amizades vejo seu interesse pelo o
plantio de gergelim. Por que o senhor sempre gostou de plantar gergelim?
- O meu
interesse pelo plantio de gergelim compadre Leodoro, é porque certa vez,
consultei um médico ortomolecular que trabalhava com envelhecimento saudável,
bem-estar e estética. Ele me reforçou que se deve comer bastante gergelim,
porque oferece uma série de benefícios, como por exemplos: Importante para a
saúde intestinal; controla bem o colesterol; faz diminuir peso; tem vitaminas
que é importante para a saúde dos nossos ossos, olhos e fígado; faz diminuir o
açúcar no sangue, e além disso, o médico me garantiu que é uma excelente fonte
de proteínas. O gergelim compadre Leodoro, segundo o médico, combinado a uma
alimentação saudável é um grande aliado para quem quer manter a forma com
refeições saborosas e que realmente saciam.
- Sim senhor,
compadre! – Fez seu Leodoro Gusmão. Muito obrigado pela sua explicação sobre o
valor medicinal que tem o gergelim. É por isso que o senhor tem desejo do
plantio deste legume. E eu acho que no próximo ano também estarei fazendo
plantio de gergelim.
https://www.youtube.com/watch?v=tanVpxmoG2E
Já eram mais
de 9:00 do dia e no gigantesco infinito o sol começava liberar fios solares
mais quentes. E de pressa, os dois resolveram fazer lanches sob uma antiga
quixabeira, possivelmente milenar, e ali, enquanto comiam, falaram sobre o que
estava acontecendo de possível envolvimento de pessoas fugidas de outros
Estados, alojaram-se aqui, e usavam desonestidades nas fazendas e em pequenos
municípios.
- O que está
acontecendo aqui em Mossoró compadre Galdino, até nos faz lembrar os velhos
tempos de Virgolino Ferreira da Silva o bandoleiro Lampião.
E assim que
seu Leodoro usou o nome “Lampião” seu Galdino de um pinote só, levantou-se do
lugar em que estava sentado, e resolveu falar sobre a tentativa de ataque de
Lampião e seu bando na tarde do dia 13 de junho de 1927 em Mossoró-RN, Inciou
dizendo:
- Compadre
Leodoro, eu até hoje sinto desgosto por ter sido excluído da história que
organizaram sobre a tentativa de assalto à Mossoró, feita pelo capitão Lampião
e seu honrado grupo.
- Oxente,
compadre Galdino! Tenho lhe acompanhado de muitos anos, mas eu não sabia que o
senhor entende um pouco da história de Mossoró sobre o falado capitão Lampião.
- E eu não te
contei ainda não, compadre Leodoro?
- Não senhor!
Até hoje não ouvi nada sobre Lampião contada pelo compadre.
- Eu não só
entendo como também fui o responsável pela fugida daqui de Lampião com o seu
bando.
- Verdade,
compadre Galdino? – Fez seu Leodoro em tom de admiração.
- Coompaadree
Leeoodooro, quantas vezes o senhor já me viu contando mentiras?!
- Nunca,
compadre! Nunca! – Confirmou seu Leodoro mesmo contra a sua vontade. Mas até
hoje o senhor nunca me falou nada sobre Lampião. Sobre onças, já me falou
muitas vezes, mas a fugida do capitão Lampião de Mossoró...
- Pois bem
compadre Galdino, atalhou seu Galdino, eu vou contar ao senhor tim-tim por tim-tim.
Quando o coronel Rodolfo Fernandes soube que Lampião estava caminhando em
direção à cidade de Mossoró ele que era prefeito iniciou uma espécie de
alistamento para quem quisesse combater o cangaceiro e seu grupo. Eu que sempre
fui corajoso, nunca temi a nada, isto o senhor sabe muito bem...
- Verdade,
compadre! Isto eu sei bastante, que o senhor é homem corajoso mesmo! Homem que
tem coragem de lutar com onça compadre, imagino...!
- E então, eu
ainda era muito jovem, mas com um bom porte físico. Fui tentar entrar nessa
lista para combater o cangaceiro com os seus comandados. Mas ao chegar à casa
do prefeito, bem lá na Avenida Alberto Maranhão, no centro da cidade de
Mossoró, ao lado da igreja do São Vicente, um dos seus empregados me encaminhou
até à sua presença, que naquele momento, ele se encontrava em reunião com um
amigo lá nos fundos da sua casa. Mas tive o desprazer de ouvir dele a palavra
não. Perguntei o motivo de não me aceitar na alista da empreitada. Ele me falou
que eu era ainda muito jovem, adolescente sem experiência na vida para
enfrentar bandoleiros...
- E o prefeito
disse isso na sua cara, compadre Galdino?
- Sim senhor!
Disse. Mas eu não insisti mais. Fiquei calado, e de lá, saí meio triste. E
quando foi no dia 13 de junho de 1927, Lampião entrou na cidade com gosto de
gás, e desejo de levar tudo que ele achava que tinha direito. Nesse tempo, eu
morava sob os olhares dos meus pais. Já bem próxima da sua entrada na cidade eu
me arrumei e fui tentar ver se conseguia falar com ele.
- Ele quem,
compadre Galdino?
- Falar com o
capitão Lampião, compadre Leodoro! Parece que o senhor não está acompanhando o
meu raciocínio?
- Estou,
comadre Galdino! – Disse seu Leodoro tentando não o contrariar.
- Mais ou
menos 4 horas da tarde o tiroteio começou. Os resistentes atiravam e os
bandidos respondiam. Haviam homens instalados por todos os lugares como: nas
torres das 3 maiores igrejas: Matriz de Santa Luzia, Na Coração de Jesus e na
Igreja de São Vicente. Também tinham defensores no Mercado Central, na Empresa
Companhia de Luz, No Ginásio Diocesano, na sede dos Correios e Telégrafos, na
Estação ferroviária, no Grande Hotel, na casa do prefeito Rodolfo Fernandes e
outros locais.
https://www.facebook.com/photo.php?fbid=1605944352850076&set=pcb.1605954912849020&type=3&theater
- Mossoró
estava muito bem preparada concorda comigo, compadre Galdino?
- E como
concordo, compadre! Pois bem, Lampião tinha ajuda de alguns bandidos que
conheciam muito bem a região do nosso Estado. Um destes bandidos era um tal de
Cecílio Batista o Trovão, que em anos remotos havia morado em Assu no Rio
Grande do Norte, e fora preso por malandragens e desordens. O José Cesário o
Coqueiro mais um outro bandido de nome Júlio Porto. Estes dois últimos haviam
trabalhado em Mossoró como motorista da empresa Algodoeira Alfredo Fernandes, e
outros mais. Esta empresa era uma que muito fez Mossoró crescer, dando empregos
aos mossoroenses. No início do tiroteio as balas voavam pelas ruas da cidade.
Tanto saíam das armas dos cangaceiros como das armas dos combatentes. A cidade
estava em pânico, mas quase sem ninguém, porque a maior parte da população
tinha sido advertida para deixar a cidade o quanto antes possível. Nesse tempo,
meus pais e eu morávamos nos alagadiços, hoje bairro Pereiros, não tão distante
do combate. E eu saí devagarinho de casa sem comunicar aos meus pais, que o meu
intuito era ver se conseguia falar com o capitão Lampião para ele desistir da
empreitada. E assim fiz. Fui me aproximando, sempre me escondendo e lá mais
adiante fui me defendendo dos estilhaços de balas, tentando me contactar com
Lampião. Ao longe, em uma rua bem no centro que ainda era apenas rua projetada,
por trás da igreja do São Vicente, avistei um homem magro, alto, que usava
óculos..., e percebi que só poderia ser ele, porque eu já havia visto a sua foto
no jornal "O Mossoroense" em uma reportagem que dizia que ele estava
chegando. Eu levava aquele meu facão que é do seu conhecimento, compadre
Leodoro, até hoje ainda o uso quando caço onças nos tabuleiros... Olhando ao
meu lado direito, vi uma moita muito bonita, bem enramadinha e arredondada.
Cortei-a, coloquei-a sobre mim, e fui andando bem abaixadinho na intenção de
não ser percebido por ninguém. E fui me aproximando do suposto Lampião, suposto
porque eu não tinha certeza que era ele. E na verdade, era o capitão Lampião.
- O senhor
estava dentro da moita, compadre Galdino?
- Sim senhor!
Eu pensei sair logo de dentro dela, mas esperei uma oportunidade...
- Tinha algum cangaceiro por perto, compadre Galdino?
- Vi alguns
deles com armas em punhos e atirando...
- E o senhor
ficou com medo quando os viu?
- De forma
alguma, compadre! Eu não sou homem de ter medo de nada..., e quando eu estava
bem pertinho dele, de dentro da moita eu disse: Seu Lampião!!! Aí Ele teve um
medo tão danado que em gritos exclamou fortemente, dizendo:
-
"Valha-me meu Padim Padim Ciço!!" Nunca tinha visto uma moita falar!
- E lá, ficou
rodeando a moita com o seu mosquetão em punho e o dedo no gatilho. E eu fui
saindo. E ao me ver, quis logo me sangrar com um punhal. Mas eu disse-lhe que
estava ali à sua presença somente para ajudá-lo e dizer a ele que desistisse do
ataque, porque a cidade estava muito bem preparada, com mais de 800
combatentes. Eu aumentei o total de combatentes compadre Leodoro, só para ele
desistir e não mexer com a minha cidade.
- E ele, o que
fez, meu compadre Galdino?
- O que o
capitão Lampião fez foi ir embora. Colocou um apito na boca, e fortemente,
ficou dando sinal para os seus cangaceiros para se mandarem de Mossoró. Com
pouco tempo, o local em que nós estávamos, ficou coalhado de facínoras. Exceto
o Colchete que ficara estirado ao chão já pronto para se fazer o enterro, em
frente à casa do prefeito. Um de nome Jararaca que saiu baleado quando foi
desequipar o seu companheiro morto, um dos combatentes acertou bem de cheio o
seu peito, e ele fugiu do combate, tendo sido capturado no dia seguinte, e dias
depois, foi executado.
- Já vi
compadre Galdino, que o senhor tem coragem até para enfrentar dragão..., teve
coragem de enfrentar até o capitão Lampião que não temia ninguém...
- E eu brinco,
compadre! Eu não nasci de 7 meses não senhor!
E assim que
terminaram este bate papo cada um foi para sua casa. Seu Leodoro nem imaginava
acreditar nesta conversa contada pelo seu compadre. Mas o que era de fazer?
http://blogdomendesemendes.blogspot.com
Nenhum comentário:
Postar um comentário