*Rangel Alves da Costa
Eu escrevo, escrevo e escrevo mais, mas nunca com a pretensão de ter leitores cativos ou mesmo alguns que mais apreciem. Escrevo em sites, em jornais impressos, em páginas virtuais. Escrevo tanto que nem recordo onde este ou aquele texto foi publicado.
De vez em quando, contudo, eis que encontro os meus textos de forma mais surpreendente. Pesquiso no Google e logo percebo que o que escrevo foi transcrito ou utilizado em sites, em blogs, em programas radiofônicos, em textos acadêmicos, nos lugares mais inesperados.
Foi o que aconteceu, por exemplo, nesta segunda, quando soube que um texto de minha autoria havia servido de base para um pronunciamento da senadora Maria do Carmo, semana passada, no plenário do Senado Federal. Eis as palavras da parlamentar sergipana, em release distribuído por sua assessoria e intitulado “MARIA DO CARMO REVELA PREOCUPAÇÃO COM VAZÃO DO VELHO CHICO”:
“A senadora Maria do Carmo Alves (DEM) falou hoje da sua preocupação com a situação hídrica de Sergipe e dos demais Estados que se valem das águas do Rio São Francisco. Em pronunciamento no Senado da República, ela lembrou que o maior reservatório do Nordeste, o de Sobradinho, na Bahia, já está passando hoje por um controle rigoroso de vazão, procurando garantir, no mês de novembro, um nível de água acima do volume morto.
Maria destacou que “às margens do Velho Chico, a vida já mudou”. Ela citou que o acadêmico Rangel Alves da Costa, da Academia de Letras de Aracaju, em artigo recém-publicado sobre a angústia e vida no velho Chico, “a vida ribeira mudou e as piabas, os peixes miúdos, que eram fartura nas mesas, desapareceram”.
“As canoas e pequenas embarcações estão dormindo no cais, sem perspectiva de futuro, e as redes e tarrafas servem agora de enfeite nas varandas. Quando jogadas, voltam vazias de peixe e carregadas de desesperança”, disse Maria, ressaltando que “como bem observa Rangel, a única coisa que restou da vida ribeirinha foi a batida da roupa das lavadeiras nas pedras do rio, repetindo o gesto de suas antepassadas”.
De acordo com a senadora, os ribeirinhos estão vivendo à beira da angústia, pois as grandes embarcações foram embora e os peixes grandes já não aparecem mais. “E como bem disse o texto quase poético do acadêmico, ‘resta a tristeza e o silêncio’”. Para ela, esse cenário desolador pode ainda se acentuar se nada for feito para apressar a revitalização do Rio São Francisco. “Precisamos de vontade e ação política para estabelecer urgência em programas de recuperação vegetal, com plantios de espécies nativas, por exemplo”.
De acordo com a parlamentar democrata “só com um esforço concentrado, direcionado pelo Governo brasileiro e pelos Estados que se servem do Rio, poderemos evitar as terríveis perspectivas com as quais estaremos lidando nos próximos anos e que prometem esvaziar a torneira do povo sergipano”.
Maria ressaltou que apesar de muitos avisos, dados décadas atrás sobre a possibilidade de morte do Velho Chico, não conseguimos evitar que chegássemos onde chegamos, e agora, para desespero de todos os sergipanos, estamos beirando o colapso hídrico. Não só a vida ribeirinha, mas o consumo de água nas principais cidades sergipanas e o fornecimento de energia elétrica, colocarão em cheque nossas possibilidades de retomar o desenvolvimento econômico”.
Muitíssimo agradecido à senadora. Ao Senado federal cheguei ao menos através do que de repente escrevo.
Escritor
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