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terça-feira, 20 de agosto de 2019

AS CUECAS DE LABIRINTO

Clerisvaldo B. Chagas, 20 de agosto de 2019
Escritor Símbolo do Sertão Alagoano
Crônica: 2.166

RIACHO DO NAVIO. (FOTO: BLOG ROBÉRIO SÁ).
A tradição teve início quando alguns pescadores de Santana do Ipanema foram pescar no alto sertão de Pernambuco, precisamente no riacho do Navio. Com o tempo e novos adeptos, foi formado um grupo de cerca de vinte pessoas que anualmente ia à pesca no Navio. Uma feira bem sortida para passar três dias e uma longa viagem que parecia não ter fim. Em um poço do riacho, cercado de pedras e árvores frondosas, a turma fazia acampamento e dormia em redes ou em barracas. Havia o cozinheiro, mas qualquer um podia comer o que quisesse a qualquer hora do dia ou da noite. As mantas de carne ficavam expostas no lajeiro à disposição e o restante da feira em engradados. As brincadeiras eram grosseiras desde cortar os punhos da rede alheia aos cabeludos palavrões.
Durante a noite alguns cantavam, outros ralavam lata para não deixarem o companheiro dormir. Algumas vezes o pescado ficava exposto no areal e no pedregulho por falta de tratadores. A força da cachaça não deixava.
Depois essa tradição foi arrefecendo, os enfrentantes foram rareando e parece que hoje não mais existe. A distância também contribuiu contra a adesão de novos adeptos.
Naquele fuzuê todo, encontrava-se o senhor Sebastião Gonçalo, apelido “Labirinto”. A sua idade avançada não se incomodava com as brincadeiras sobre si. Cidadão decente e querido, sempre estava presente nas viagens a Pernambuco. Em Santana, companheiros começaram a dizer que Sebastião Labirinto só possuía uma cueca. Bastião afirmava que não, possuía doze, mas que eram todas da mesma cor. As lorotas continuaram até que um dia Sebastião chegou à roda de amigos com um pacote debaixo do braço. Conversa vai, conversa vem, quando os companheiros voltaram a brincar com o mesmo assunto. Sebastião entregou o pacote a um deles, dizendo olhe aí. Aberto o pacote, para surpresa de todos, havia onze cuecas iguais.
Sim senhor, exatamente o estoque de cuecas de Sebastião Labirinto.
Matou a pau.


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