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sexta-feira, 30 de agosto de 2019

MARIA BONITA UM OLHAR PARA SEUS FAMILIARES

Por José Mendes Pereira

O capitão Alfredo Bonessi diz em seu artigo: “Um olhar sobre Angico - Parte I...” páginas do Cariri Cangaço, que Maria Bonita já vinha se queixando de Lampião, da vida que levava, pois queria ir embora para casa, largar a vida de cangaceiro, mas Lampião não queria. O casal estava brigado e havia discutido muito. Maria Bonita estava de astral novo, pois ela tinha cortado os cabelos. 

Em minha humilde opinião Maria Bonita não só estava cansada da vida que levava, como já havia adquirido o medo de viver embrenhada às matas, sabendo que a qualquer hora poderia ser morta pelas volantes policiais.

Ah, se eu me encontrasse com a minha família!

Maria Bonita quando se embrenhou às matas estava dominada pelo cupido, e depois de tantos sofrimentos, descobriu que havia se enganado, pois a sua loucura pelo o movimento do capitão Lampião era uma simples ilusão.  Por esta razão, exigia do seu companheiro a desistência daquela amaldiçoada vida.

Foram oito anos vividos e perdidos entre os serrados. A vida do cangaço era um verdadeiro inferno, sofrendo naquelas matas como se fosse um animal, e como saldo, apenas ganhara o sol forte, poeiras, chuvas, dormindo no chão, desprovida de um acomodado teto, passando sede, fome e muita fome, distante das festas decentes que aconteciam na sua terra querida, a solidão presente a todo instante, saudade dos pais, irmãos, familiares, amigos, parentes e aderentes.
                  
Viveu o inferno que ela mesma o desejou.  Queria voltar ao seu amado chão, abraçar os velhos e sofridos pais, irmãos e lhes dizer, que a partir daquele dia, passaria a ser a nova Maria Déia e não mais seria a Maria do Capitão Lampião.
                  
Mas Maria Bonita apenas imaginava a desistência do cangaço e não tinha coragem de fugir dali, da presença do seu companheiro. Não queria tomar esta atitude, pois a Rosinha de Mariano fora assassinada a mando de Lampião, mais outras e outras cangaceiras, e ela mesma sabia que sendo a verdadeira companheira do chefe do cangaço, e se fugisse em busca dos seus familiares, com certeza seria seguida pelos cangaceiros, todos ordenados por Lampião.

As caatingas são bem melhores do que a prisão

Mas Lampião como chefe de bando jamais imaginou sair daquela sofrida vida. Para ele, liberdade, somente entre os serrados, livrando-se de estilhaços de balas estava tudo bem, pois se assinasse a desistência do cangaço, com certeza iria passar pelas mãos vingativas de policiais. Não desistiria e nem autorizaria a saída de sua companheira do cangaço.

As conversas mantidas por Pedro e Lampião

Em relação às conversas mantidas por Pedro e Lampião dentro da mata eu suponho que o interesse de Pedro era para saber se o bando iria passar mais alguns dias na Grota, ou se já estava de bagagem pronta para partir para outro lugar, pois é quase certo que Pedro de Cândido já vinha sendo pressionado pela volante de João Bezerra, e, temendo ser executado, que na época um policial ditava as regras, foi obrigado a delatar o lugar onde os asseclas se encontravam. Lampião que não tinha maldade no seu coiteiro caiu na malha fina preparada por ele. 
   
Entrega de Balas a Lampião

Quanto ao suposto envio de balas pelo tenente João Bezerra a Lampião não há como eu acreditar, pois é muito difícil um perseguidor fazer venda de munições ao seu perseguido e em seguida ir atacá-lo.

O tenente João Bezerra - É o que está com mão sobre a coxa

O jornal de Fato - Revista exemplar - Edição 315/2008 “Domingo” publicou um artigo do escritor Paulo Gastão que entrevistou o Durval, Rosa. Diz o escritor: “Durval Rosa irmão de Pedro de Cândido, em depoimento a mim prestado e registrado em fita de vídeo, declara que na noite anterior ele desceu a serra e foi levar um saco de balas dividido em duas porções em cima de um jumento. “Era muito peso”, dizia o entrevistado. Para que tantas balas? Que desejaria o capitão fazer com o material? Existia a compra de armas e balas, porém, se quem servia de intermediário para que farto material chegasse às mãos dos bandidos? Um militar que atuou na volante que chegou a Angico foi curto e grosso. “-A polícia!”

Escritor Paulo Medeiros Gastão

Quando eu falo que não há como eu acreditar não me refiro às palavras do escritor Paulo Gastão, e sim, as de Durval Rosa, pois o escritor apenas diz o que o depoente disse. Não é Paulo Gastão que está confirmando a remessa de balas feita por João Bezerra ao capitão Lampião. E
                     
Eu não duvido que alguns policiais desprovidos de patentes e que não participavam das perseguições aos bandidos, tenham feito vendas de balas a Lampião, pois na época do cangaço não era necessário se apresentar documentos para tal compra, e também quem guardava as avantajadas caixas de balas eram os próprios policiais, que eles mesmos poderiam negociá-las, sem que as autoridades, como sargentos, tenentes e capitães soubessem o total de balas estocado.

O cão Guarani de Lampião em Piranhas  

Quanto ao cachorro de Lampião que fora pego em combate pela volante de Zé Rufino e posteriormente entregue ao Tenente João Bezerra lá em Piranhas, e sessenta dias depois o animal estava na companhia do seu dono, é possível que ao darem liberdade a ele, isto é, o soltado, achando que ele ficaria na residência de João Bezerra, o animal tomou rumo às caatingas à procura de Lampião, que não é coisa difícil para cão sair em busca do seu dono.

Corisco foi um traidor ou não?

Em relação a não presença de Corisco ao coito na madrugada de 28 de julho de 1938, lá na Grota de Angico, eu busco resposta para isso.  

Corisco e o cangaceiro Vinte e Cinco
                     
O escritor Alcino Alves Costa diz em seu livro (Lampião Além da Versão – Mentiras e Mistérios de Angico): 

“- Uma estranha versão conta que nos últimos dias que antecederam o cerco na Grota do Angico os famosos José Lucena e Aniceto Rodrigues foram até o coito, com a finalidade de acertarem algo que poderia mudar os caminhos do banditismo com o falado Diabo Loiro”. Continua: “- É esta visita misteriosa, um dos grandes segredos que cercam os fatos de Angico”.

Escritor Alcino Alves da Costa

Teria sido Corisco um dos traidores de Lampião entregando o rei aos famosos José Lucena e Aniceto Rodrigues, já que eles foram ao seu coito com a finalidade de acertarem algo que poderia mudar os caminhos do banditismo?

Quando aconteceu a chacina que levou o rei, Maria Bonita e mais nove cangaceiros, Corisco e seus asseclas se encontravam acoitados entre as fazendas de nomes: Coidado e Emendadas.  
                     
Será que Corisco não foi para o acampamento quando aconteceu o ataque aos bandidos porque sabia o dia em que seria feita a chacina, uma vez que a volante não iria ter tempo de escolher quem morreria e quem ficaria vivo? Cangaceiro era faca de dois gumes. 


E aí, leitor?

Esta é a minha humilde opinião e não tem nenhum valor para a literatura lampiônica. Discordar da minha opinião é um direito de cada um.

                 Fontes de Pesquisas:

                    Um olhar sobre Angico Parte I - Capitão Alfredo Bonessi.
                    Revista Jornal de Fato - Mossoró - Edição 315/2008.
                    Lampião Além da Versão - Mentiras e Mistérios de Angicos -
                    Alcino Alves da Costa.
                  
http://blogdomendesemendes.blogspot.com

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