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terça-feira, 16 de junho de 2020

A VINGANÇA DE CORISCO E OS SOBREVIVENTES


Por Beto Rueda

Cristino Gomes da Silva Cleto nasceu na Serra da Jurema, Matinha de Água Branca, atual Água Branca - AL. em 10 de agosto de 1902. Seus pais, Manoel Gomes da Silva e Firmina Cleto. Era alto, feições finas, alvo, faces vermelhas, ativo e impetuoso.

Existem versões para a sua entrada no crime: Segundo Dadá, ele matou um rapaz em uma festa próximo à fazenda onde morava e fugiu para não morrer. Teve vida difícil, questões familiares e situação financeira fizeram que ele brigasse com a família. Fugiu para Aracaju - SE. Engajou-se no exército brasileiro, no Batalhão dos Caçadores de Sergipe, durante a revolta militar de 1924.

Com a derrota dos revoltosos, Cristino abandonou o quartel, foi considerado desertor e perseguido. Entra para o cangaço em 24 de agosto de 1926, quatro dias antes do ataque à Fazenda Tapera, na Vila de Santa Maria, às margens do Rio Pajeú. Foi recebido por Lampião, na casa do senhor José Bezerra.

Tempos depois, resolve deixar o cangaço e retorna para a sua Matinha de Água Branca, Alagoas. Trabalhou como ambulante de feira, negociador de carne de bode, entregador de leite e padeiro.

Foi preso quando um fiscal da prefeitura cobrou imposto indevido de 500 réis do chão da feira onde trabalhava por duas vezes. Ele pagou a primeira vez e se negou a pagar novamente. Maltratado e humilhado pelo delegado Herculano Borges, Corisco jurou vingança.

Vingou-se anos depois, em 1931, numa emboscada, na Fazenda Bom Despacho, município de Jaguarari, povoado de Santa Rosa de Lima - BA, esquartejando o corpo do delegado que o havia humilhado.

Por sua valentia e liderança, formou o seu próprio grupo, sempre ligado a Lampião. No início dos anos 30, a polícia não dava folga, Lampião divide o seu bando em vários subgrupos liderados por Corisco, Moita Brava, Mariano, Labareda, Zé Baiano e outros.

No cerco a Angico, em 28 de julho de 1938, seu grupo estava descansando do outro lado do rio, na Fazenda Emendada, do Bié, no Estado de Alagoas.

Boatos espalharam-se rapidamente, Lampião, Maria Bonita e mais nove cangaceiros estavam mortos.

Dadá sentencia ao grupo : Se vocês são homens, tem que vingar a morte de Lampião!

No domingo, dia 31 de julho de 1938, Corisco foi a casa de Joca Bernardo, seu coiteiro, para saber de alguma pista. Joca, que tinha sido o delator, temendo a sua própria vida, contou a Corisco que o delator era Domingos Ventura, da Fazenda Patos, distante duas léguas de Piranhas e pertencente a Antônio José de Britto, avô e pai adotivo de Cyra Britto, esposa do tenente João Bezerra.

No dia 2 de agosto de 1938, Corisco, Dadá, e mais nove cangaceiros chegaram à Fazenda Patos. 
Comeram com os Ventura amistosamente, falaram sobre o acontecido em Angico, todos lamentaram.

Corisco pediu papel e lápis e começou a escrever um bilhete. Enquanto Corisco escrevia o bilhete, um cangaceiro pediu para Domingos e seu filho Odom para irem ao curral, pois queria conversar com eles.

Vieram buscar mais dois rapazes, José e Manoel. Daí em instantes, também as mulheres, dona Guilhermina Nascimento Ventura, a filha Valdomira Ventura e a nora Maria da Glória, mulher de Odom Ventura, esta levando nos braços o filho Elias, recém nascido. E mais três crianças - Antônio, Silvino e Carmelita, de 12, 10 e 11 anos, filhos do vaqueiro.

As mulheres foram levadas para o outro lado do curral das pedras, todos foram mortos! Dadá salvou a criança de colo, Elias, interrompendo a matança.

Morreram seis. Escaparam da morte Maria da Glória e quatro crianças. Também escapou uma filha de Domingos que morava na cidade, com a família do coronel Antônio Britto.

Já era noite quando os cangaceiros foram embora.

Corisco enviou um bilhete a João Bezerra, dizendo que as cabeças deveriam ser divididas entre o tenente, o prefeito e o Interventor do Estado de Alagoas, para que eles as comessem.

As mulheres mortas foram para vingar Maria Bonita e Enedina.

No dia seguinte o sol esquentava os corpos decapitados e as poças de sangue na Fazenda Patos.

Triste fim de Domingos Ventura e sua família, morreram sem dever.

REFERÊNCIAS:

OLIVEIRA, Aglae Lima de. Lampião cangaço e nordeste. 2.ed.
Rio de Janeiro: Editora O Cruzeiro, 1970.

DIAS, José Umberto. Dadá.
Salvador: EGBA/Fundação Cultural do Estado da Bahia, 1988.

ARAÚJO, Antônio Amaury Corrêa de. Gente de Lampião: Dadá e Corisco. 3.
Salvador: Ed.Assembléia Legislativa da Bahia, 2011.

IRMÃO, José Bezerra Lima. Lampião a raposa das caatingas.
Salvador: JM Gráfica, 2014.


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