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terça-feira, 16 de fevereiro de 2021

O ASSASSINATO DO Dr. ULYSSES ELÍSIO DO NASCIMENTO WANDERLEY

 Por Antônio Corrêa Sobrinho

O assassinato do juiz de direito do município de Triunfo, em Pernambuco, em dezembro de 1923, Dr. ULYSSES ELÍSIO DO NASCIMENTO WANDERLEY, foi, à época, amplamente noticiado na imprensa nacional. Sobre o qual, nesta minha diletante pesquisa, trago, para conhecimento e satisfação dos que fazem este temático grupo, o que relataram os jornais pernambucanos: Jornal do Recife, Diário de Pernambuco, A Província, Pequeno Jornal; e os diários editados na Capital Federal, Rio de Janeiro: Jornal do Brasil, Correio da Manhã, O Jornal e A Noite.

Observo que formatei este trabalho, trazendo a íntegra da descrição do Jornal do Recife e, entre colchetes, de modo complementar e para fins confirmatório, os informes trazidos pelos sobreditos diários.

HECATOMBE EM TRIUNFO

Jornal do Recife

CONSEQUÊNCIAS DE UMA POLÍTICA DE ÓDIOS E PAIXÕES – TIROTEIO E MORTES – NOTAS

Para empanar o brilho das festividades que deveriam ser realizadas em Triunfo, em solenização à passagem do ano, festividades que se realizaram em todo o Estado e quiçá no Brasil, enchendo de satisfação o nosso povo, na noite de anteontem para ontem, irrompeu naquele município pernambucano uma sangrenta tragédia, que, pela raridade das comunicações telegráficas, não sabemos que origem teve.

No entretanto, há muito que se esperava tão lutuoso acontecimento, pelo aspecto terrível da política local, mais a mais intrincada pela dissidência e competições de seus prosélitos.

Desde que subiu à curul da prefeitura municipal de Triunfo o cônego Leal, várias correntes que não olhavam com bons olhos a política mantenedora de sua candidatura, desde logo se mostraram aguerridas à administração daquele candidato

Eleito, o cônego Leal assumiu o governo municipal, em meio às mais sérias apreensões, tendo o braço forte do Dr. Ulisses Wanderley, juiz de direito da aludida comarca.

Acirrados os ânimos nessa luta partidária, de paixões e ódios que foram sempre o apanágio dos políticos de Triunfo, dia a dia se condensava a odiosidade das partes beligerantes, esperando-se, a cada hora, o despacho, que, anteontem, teve o seu momento fatal.

Hostes levantinas lograram efetivar o encontro e, num intenso propagar de paixões baixas e soezes, investiram contra a ordem e a legalidade, ensanguentando o solo triunfense com o horror de uma hecatombe.

Ao que sabemos, nesse encontro morreu o Dr. Ulisses Wanderley, e foram gravemente feridos numerosas pessoas de responsabilidade, entre as quais o Sr. Temístocles Leal, irmão do cônego Leal, prefeito de Triunfo. Jornal do Recife

[Terminou bem tristemente o ano de 1923 com os sangrentos sucessos de Triunfo.

Ontem, logo às primeiras horas da manhã, entraram de circular boatos de graves ocorrências na próspera cidade sertaneja, em consequência das quais ter-se-ia verificado a morte de diversas pessoas, entre outras, do juiz de direito da comarca doutor Ulisses Wanderley.

A triste notícia teve infelizmente confirmação.

Anteontem, às 22 horas, aquele magistrado, em companhia de sua família e amigos, assistia uma sessão de cinema quando um grupo de indivíduos armados invadiu o estabelecimento onde se realizada o espetáculo, provocando sério conflito.

Findo este notou-se estar gravemente ferido, com diversas punhaladas, o doutor Ulisses Wanderley que faleceu poucos minutos após, tendo ainda recebido ferimentos o Sr. Temístocles Leal, irmão do cônego José Leal, prefeito daquele município, e outras pessoas.

Um indivíduo de nome Januário que fazia parte do grupo assaltante morreu também em consequência de tiros recebidos no conflito. Diário de Pernambuco].

[O destacamento daquele município, antes do desenrolar desses sucessos, compunha-se de 26 praças. A Província].

[RECIFE, 31 (A) – Telegrama aqui recebido de Triunfo diz que às 22 horas do dia 30, naquele município, houve uma calorosa discussão no cinema local, estabelecendo-se um grande conflito, do qual resultou a morte do Dr. Ulysses Wanderley, juiz de direito, e de Januário Ribeiro, saindo gravemente feridos Marcolino Filho, Temístocles Leal, chofer de Marcolino, e o comandante Isaias de Medeiros.

O governo, ao ter ciência dessa grave ocorrência, providenciou a fim de apurar as responsabilidades. O Jornal].

[Às 10 horas da noite de ontem, o Dr. Ulysses Wanderley, juiz de direito daquela comarca, achava-se em uma casa de diversões, quando chegou ao seu encontro um grupo armado, assassinando-o a punhal.

Travou-se então grande conflito, saindo gravemente ferido o cunhado do juiz, Temístocles Leal, irmão do cônego Leal, prefeito do município.

Também saíram feridos o indivíduo Marcolino de tal e outros do grupo assaltante. Reina grande pânico na cidade.

O Exmo. Dr. Governador, de posse dessas informações, teve longa e reservada conferência em seu gabinete com o desembargador chefe de polícia, comandante da Força Pública, procurador geral do Estado, tomando as necessárias providências.

Após acertadas as primeiras medidas, o governador exonerou o delegado de Triunfo, tenente-coronel Quintino de Lemos, nomeando para substitui-lo o tenente Pedro Malta, que se transportará para aquele município amanhã, pela madrugada, em trem especial.

O tenente Malta irá acompanhado de numerosa força, a fim de restabelecer a ordem.

O Dr. Sergio Loreto nomeou ainda o Dr. Agricio Brasil, juiz de direito de Quipapá, e o Dr. Euclides Ferraz, para procederem inquérito a respeito. – Pequeno Jornal].

[RECIFE, 31 (Serviço especial da A NOITE, pelo cabo submarino) – A cidade de Triunfo, onde, já, certa vez, houve gravíssima perturbação da ordem por motivos políticos, voltou, hoje, à evidência por uma verdadeira reedição daqueles acontecimentos.

Não se conhecem ainda os motivos principais, constando que se prendem ao partidarismo extremado os lutuosíssimos fatos ali, agora, desenrolados. Com segurança, porém, quanto à origem, nada é lícito afirmar.

As comunicações aqui renhidas adiantam que, depois de um conflito cuja extensão é igualmente ignorada, o juiz de direito da comarca, Dr. Ulysses Wanderley, caiu, assassinado. A Noite].

[“TRIUNFO, 31 (Transmitido às 10 e meia da manhã). Ontem dez horas noite tendo Marcolino Diniz vindo assistir festas aqui encontrou-se Dr. Ulisses Wanderley, que travou com Marcolino calorosa discussão tendo Dr. Ulysses vibrado forte bengalada Marcolino. Travada grade luta faleceram Ulysses Wanderley, Januário Ribeiro, companheiro de Marcolino, saindo gravemente feridos Marcolino Diniz, o chofer de Marcolino e Temístocles Leal, e levemente ferido Isaías Medeiros. Coronel Quintino de Lemos tomou necessárias providências. Laurindo Diniz ”. A Província].

[“TRIUNFO, 31 (Transmitido às 10 e meia da manhã). Ontem dez horas noite tendo Marcolino Diniz vindo assistir festas aqui encontrou-se Dr. Ulisses Wanderley, que travou com Marcolino calorosa discussão tendo Dr. Ulysses vibrado forte bengalada Marcolino. Travada grade luta faleceram Ulysses Wanderley, Januário Ribeiro, companheiro de Marcolino, saindo gravemente feridos Marcolino Diniz, o chofer de Marcolino e Temístocles Leal, e levemente ferido Isaías Medeiros. Saudações. – João Cordeiro, Carolino Campos”.

Eis aí mais um fruto dessa política rotulada de “paz e trabalho”, tão apregoada e que, de fato, só tem sido de desarmonia e sangue. A Província].

[... Agora, depois dessa série abominável de crimes, vem o caso de Triunfo – cidade pernambucana, onde se repetem as incursões dos cangaceiros do deputado José Pereira Lima. Aí, o prefeito de Princesa, Marcolino Diniz, cunhado do deputado Pereira Lima, acompanhado de vários celerados, assassinou a tiros e a faca o juiz de direito de Triunfo, Dr. Ulysses Wanderley. O fato prende-se a um caso anterior, ocorrido quando era governador de Pernambuco o doutor Borba: o chefe político de Triunfo, coronel Deodato, incorreu no desagrado dos Pessoa de Queiroz, sobrinhos do Sr. Epitácio, sendo logo dadas ordens ao deputado Pereira Lima para o assassínio do mesmo senhor, o que não tardou em ser cumprido. De Princesa saiu um numeroso grupo de cangaceiros, e Deodato, atacado a tiros, sucumbiu, juntamente com alguns amigos que o defenderam na ocasião.

Esses horripilantes crimes constituem, por assim dizer, o programa político da gente do Sr. Epitácio.

Basta ver o que a respeito desse hediondo crime de Triunfo diz a folha oficial do governo, A União, noticiando-o, em sua edição de 5 de janeiro presente:

“O fato desenrolou-se por ocasião de uma festividade pública, sendo de lamentar as suas consequências, PELA CIRCUNSTÂNCIA (só por isso!!!) DE SER O CORONEL MARCOLINO DINIZ UMA PESSOA DE RECONHECIDA ESTIMA E ESPÍRITO ORDEIRO, O QUAL DESFRUTA CONSIDERÁVEIS SIMPATIAS EM TODO O SERTÃO.” (Eis a moral política do epitacismo paraibano...). Correio da Manhã].

Avante na sua faina de morte e destruição, os assassinos tirotearam a granel o próspero município, implantando o terror, a viuvez e orfandade nos lares.

Ontem pela manhã, teve notícia telegráfica da triste ocorrência o Exmo. Sr. Dr. Sérgio Loreto, o governador do Estado, que logo conferenciou com o desembargador Silva Rego, chefe de polícia e coronel João Nunes, comandante da Força pública, iniciando as providências que o caso requeria.

Por ato de ontem o senhor governador nomeou o doutor Agricio Brasil, juiz de direito de Quipapá, para presidir o inquérito, e o doutor Euclides Ferraz, promotor público de Floresta, para, em comissão, acompanhar o processo e formação da culpa.

Ainda pelo excelentíssimo senhor, doutor governador do Estado foi exonerado do cargo de delegado de polícia de Triunfo o tenente coronel Antonio Quintino de Lemos é nomeado para delegado especial do governo em Triunfo o tenente Pedro Malta, delegado de Olinda.

Para aquele município seguiu ontem, em trem especial da Great Western, o tenente Pedro Malta, que se fez acompanhar de um pelotão da Força Pública composto de 70 praças.

Estivemos em a residência do Dr. Felinto Wanderley, [conhecido clínico aqui residente. Diário de Pernambuco] irmão do Dr. Ulisses Wanderley, S. S. mostrava-se profundamente abalado, sendo o seu estado bastante agitado.

Em sua companhia encontramos vários amigos que foram à sua residência apresentar os seus sentimentos pelo doloroso fato.

O doutor Felinto mostrou-nos os seguintes despachos, telegráficos que havia recebido de Triunfo, ontem, pela manhã: Triunfo, 31 – Marcolino acompanhado grupo, ontem, noite, assassinou barbaramente Ulisses. Temístocles e Marcolino gravemente feridos.

Já telegrafei governador pedindo providências.

(a) Cônego Leal.

Felinto Wanderley – Triunfo 31 – Criminosos, morto um feridos dois – Luiz.

O doutor Ulisses Wanderley era juiz de direito de Triunfo, desde o governo do Dr. Manoel Borba, quando se submetera a concurso, tendo conquistados o primeiro lugar.

Antes, porém, havia sido juiz municipal de Afogados de Ingazeiras e Triunfo, respectivamente.

Contava 40 anos, formou-se pela Faculdade de Direito do Recife em 1904.

Era filho do saudoso Sr. Olímpio Elísio Wanderley.

Casado com dona Elisa Leal Wanderley, irmã do cônego José Leal, atual prefeito de Triunfo, deixa o saudoso 5 filhos menores.

[O Dr. Ulisses Wanderley era um magistrado inteligente e estudioso, tendo uma obra publicada sobre assuntos forenses, e vários artigos na imprensa.

Formado em 1904 pela nossa Faculdade de Direito ocupara os cargos de juiz municipal de Afogados de Ingazeira e Triunfo, para cuja comarca, tendo feito brilhante concurso, fora nomeado juiz de direito no governo do Dr. Manoel Borba].

O fato covarde ocorreu anteontem às primeiras horas da noite na ocasião em que todos se entregavam ao festivo novenário que ali se realizava, momentos depois da chegada do cônego José Leal, que procedera de Recife, onde veio se entender com o governador e pedir providencias ao mesmo sobre as ameaças de morte que vinham sendo feitas pelos chefes da política em oposição, ali.

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O chefe do grupo que assassinou o doutor Ulisses Wanderley é ali conhecido; é filho do Sr. Marçal Florentino Diniz e sobrinho do Sr. Laurentino Luiz, ex-prefeito de Triunfo.

Marcolino vive em Cajazeira, fazendo constantemente a travessia de Princesa a Triunfo.

O assassino é ainda cunhado do coronel José Pereira, de Princesa.

A família do Dr. Felinto Wanderley é unânime em acreditar que o assassinato do Dr. Ulisses Wanderley foi motivado por dissidência política, pois há tempos a vítima vem sofrendo mesquinha oposição por não obedecer às ordens da corrente que queria a todo transe dominar Triunfo pelo terror.

O Dr. Ulisses era grandemente estimado pelo seu modo sereno de agir, procedendo sempre como um verdadeiro juiz.

Lamentando o fato, que veio enlutar uma grande família pernambucana, compungindo as almas daqueles que privavam da amizade do chorado extinto, levamos à família Wanderley os nossos pêsames pelo fatal acontecimento.

Que as providências tomadas ponham termo a essas lutas fratricidas são os votos que fazemos.

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Na palestra, embora ligeira, que tivemos com o Dr. Felinto Wanderley, S. S. não podendo esconder a sua grande dor de irmão, deixou-nos compreender que a sua família atribui a responsabilidade intelectual do bárbaro assassinato a uma pessoa de importância, residente nesta cidade, a qual, há muito tempo, não calava a sua animosidade contra o Dr. Ulisses Wanderley, por ter este reagido sempre contra absurdos e outros processos políticos agitados em Triunfo.

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Do Palácio do Governo recebemos a seguinte nota:

O Governador do Estado, tendo em vista o que dispõe o artigo 122 da Constituição do Estado e as informações recebidas da cidade de Triunfo após o assassinato do juiz de direito, bacharel Ulisses Elísio do Nascimento Wanderley, ali ocorrido ontem, resolve determinar que o juiz de direito da comarca de Quipapá, bacharel Agricio Gonçalves da Silva Brasil, se passa temporariamente para aquela comarca e ali proceda a rigoroso inquérito, formação da culpa até pronuncia inclusive dos responsáveis pelo referido crime, bem assim designa o promotor público da comarca de Floresta, bacharel Euclides Ferraz, para promover os termos da acusação penal, de acordo com o artigo segundo da Lei nº 1.098, de 30 de junho de 1911, e Ancilon Ferraz para servir como escrivão ao referido inquérito.

[A propósito dos lutuosos acontecimentos desenrolados em Triunfo, Pernambuco, e dos quais veio a resultar a morte do Dr. Ulisses Wanderley, juiz de direito daquela comarca, o Dr. Solidonio Leite, líder da bancada pernambucana na Câmara, recebeu do Dr. Sergio Loreto, Governador daquele Estado, o seguinte telegrama, datado de ontem:

“Dr. Solidonio Leite. Rio – Acabo de receber telegrama de Triunfo, comunicando grave perturbação da ordem ali, sendo assassinado o juiz de direito e feridas gravemente diversas pessoas que tomaram parte no conflito. Imediatamente fiz seguir para ali diversos contingentes da Força Policial e nomeei novo delegado militar, que seguiu hoje em trem especial, levando reforços. Nomeei, também, juiz de direito, promotor e escrivão em comissão, para fazerem o inquérito e a formação da culpa dos criminosos, nos termos da Constituição. Afetuosas saudações. (a) Sergio Loreto.” Jornal do Brasil].

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Imagens publicadas pelo Jornal do Recife, do infausto Dr. Ulysses Wanderley e dos seus cinco filhos, com as seguintes descrições:

*Juiz de direito da comarca de Triunfo, covardemente assassinado a punhaladas, anteontem, no município acima, quando assistia a uma festividade religiosa.

*Filhinhos do doutor Ulysses Wanderley, que foi, anteontem, vítima de covarde atentado, pagando com a vida a impretensidade de seu caráter de magistrado.

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