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segunda-feira, 10 de janeiro de 2011

As quatro fases do bicho homem

Autor: José Mendes Pereira

 

Quando Deus criou o mundo
Pois logo a vida em ação
Distribuiu em espécies
Pra não haver confusão
Deu “FASE” pra cada ser
E o homem tinha ter
Na vida bom coração

O bicho homem é manchão
Mas só é até aos trinta
Novo, robusto e valente
Corajoso e boa pinta
Não tem medo do perigo
Canta até mulher de amigo
Mesmo que ela não consinta

Toda noite sai pras farras
Atrás de moça donzela
Arranja de qualquer jeito
Não importa o tipo dela
Não faz mal que seja pobre,
Bem melhor que seja nobre
Mas gosta de todas elas

Na balada dança muito
Não para nenhum instante
Grudado na cavalheira
Que a encontrou bem distante
Faz rodeio no salão
Mostrando que é machão
E se jazendo importante

Dinheiro tem de montão
Pra gastar na noite inteira
Vez por outra uma cerveja
Faz àquela bebedeira
A cavalheira ofegante
Com seu sorriso elegante
Gosta bem da brincadeira

Lá na festa se apresenta
Como se fosse um ricaço
A moça feliz na vida
Não pensa dele fracasso
Bebidas pra todo gosto
Quer mesmo mostrar o rosto
Dentro do pequeno espaço

Assim que termina a festa
Sai com ela passeando
No seu carro: “novo ou velho”
A vida assim vai levando
A sua linda dum lado
Faz-lhe esquecer o passado
E assim é que vai gostando

Antes de raiar o dia
Em casa chega sem planos
Vai ao quarto e lá se deita
No rosto, coloca um pano
A mãe lhe chama na porta
Ele houve e não importa
Pra não atrapalhar seu sono

Durante o dia trabalha
Sempre pensando enricar
Esquece que tem família
Pais, irmãos para ajudar
Quando chega o fim do dia
Se enche de alegria
Pois pras farras vai voltar

E no vai-e-vem da vida
Os anos vão se passando
Não se lembra que a velhice
Lentamente vai chegando
Doenças, dores e enfados
Vão o deixando mofado
Mas mesmo assim vai gostando

Assim que cai na real
Das mudanças em sua vida
Logo fica encabulado
Lembra da época vivida
Vai ao espelho se olha
Pega água e o rosto molha
E ver as rugas nascidas

Logo que completa os trinta
Pensa logo em se casar
Escolhe uma moça linda
Diz que feia dá azar
Prepara casa e comida
Compra um monte de bebidas
Pois festa vai ter no lar

Chega o dia do casório
Feliz na vida ele estar
Chamou um grupo de amigos
Pra festa participar
Bebidas têm de montão
Carne de boi e leitão
Não vão faltar no seu lar

Assim é que é a vida
De quem aos trinta chegou
Viveu momentos de glorias
E tudo que fez gostou
Admirou moças nobres
Namorou com moças pobres
E com uma se casou

Dos trinta aos cinqüenta anos
Entra na fase: “JUMENTO”
Trabalha pra se lascar
Vivendo num sofrimento
Dedicado sempre aos filhos
Colhendo feijão e milho
Pra garantir o alimento

Todo dia tem problemas
Em seu lar pra resolver
Falta tudo em sua casa
Pois nada tem pra comer
Arroz, farinha e feijão,
Açúcar, carne e o pão
E nem água pra beber

Durante o dia batalha
Pelo o pão da filharada
Pra não ver ela com fome
E nem pedindo na estrada
Faz bico pra qualquer um
Nunca rejeitou nenhum
Pois topa qualquer parada

Se cai doente um dos filhos
Logo tenta resolver
Tira a ficha e vai ao médico
Para não o ver morrer
Mas dinheiro ele não tem
No bolso nenhum vintém
Pro remédio ele trazer

Quando a mulher cai doente
Ele fica apavorado
Só lhe vem na mente coisas
Que o deixa desesperado
Faz oração todo dia
E pede a Deus que a Maria
Se recupere ao seu lado

Quando o seu pai adoece
Ele é quem vai resolver
Faz todas as diligências
Só pra não o ver sofrer
Leva logo ao hospital
Pro médico curar o mal
Antes de o ver morrer

Quando a filha perde a honra
Já sabe o que vai fazer
Aperta o seu namorado
Dizendo-lhe: - Pode crer,
Se não se casar com ela
Eu vou à sua goela
Pois sou homem até morrer

Mas o rapaz é valente
Diz: - Sou eu quem te ameaço
Eu não me caso com dona
Que já não tinha cabaço
Ela é mais do que galinha
Vive rodando a bolsinha
Eu provo sem embaraço

O homem fica sem jeito
Mais não pode dizer nada
Fica apenas resmungando
O que disse o camarada
Mas toda culpa é da filha
Que abriu sua virilha
Pra àquela peste tarada

É assim o sofrimento
De quem vai para os cinquenta
Mesmo sendo judiado
Quer ver se chega aos sessenta
Pede a Deus pra não morrer
Pois é nele que ele crê
Pra ver se chega aos setenta

Dos cinquenta aos setenta
Está na fase de: "CÃO”
Fica rodeando a casa
Tentando dar proteção
Se dá ordem, ninguém liga
E para não surgir briga
Aceita de coração

Se compra algum objeto
Para casa ninguém gosta
Um dos filhos lhe pergunta:
- Por que comprou essa bosta?
Ele fica encabulado
Perde até o rebolado
Mas fica sem dar resposta

Põe o chinelo num canto
A filha mais nova fala:
- Papai ponha essa porqueira
Ali, bem fora da sala
O velho fica sem jeito
Já sabe que está sujeito
Sair de casa com a mala

Quando quer entrar em casa
A filha não quer deixar
Diz que a casa está virada
E ela vai a estopar
Ele fica lá por fora
Já sabe que não tem hora
Em sua casa entrar

Se vai vestir uma roupa
Vem outra logo o reclama
Diz a ele: - A que estar suja
Não ponha em cima da cama
Pois eu fiz limpeza nela
Fiz no piso e na janela
E se sujar sobre pra dama

Se tenta tomar um banho
Vem outra e lhe diz: - Cuidado!
Não deixe água no piso
Pois eu já tinha o lavado.
Ele a olha, mas se cala
Resolve engolir a fala
Pra não ser desrespeitado

E pra não criar problemas
Ele se cala num canto
Aceita o que ela diz
Faz morada num recanto
Da boca dela só sai
Palavras más com seu pai
Mas não o chama de santo

Na hora que pede janta
Ninguém liga o que ele diz
As filhas se entreolham
Com gestos que não condiz
Ele percebe o desprezo
Deseja que fosse um preso
Talvez fosse mais feliz

É assim o que acontece
Com quem vai para os setenta
Voz ativa ele não tem
Imagine com oitenta
Vai ver o diabo de chifre
Apontando-lhe um rifle
Mais quer chegar aos noventa

Dos setenta aos noventa
Está na fase: “MACACO”
Todo mundo quer ri dele
Ainda o chama de saco
A pele toda enrugada
A cara toda amassada
E o velho parece um caco

Leva a vida quase só
Sem visitas de amigos
Rejeitado dos parentes
Evitam estar consigo
Uns lhe chamam de: “nojento”
Outros: “velho rabujento”
Ainda dizem: “é castigo”

Depois que ficou velhinho
Ninguém quer lhe respeitar
Diz que ele está caduco
Outro quer lhe humilhar
Sempre lhe passam no rosto
Isso só lhe dá desgosto
Por quererem o maltratar

Quando cai doente, sofre
Nas mãos dum filho malvado
Vem e lhe pega por trás
Deixando-o quase aleijado
Ele sente o sofrimento
Diz: - filho não sou jumento
Pra ser assim maltratado

Se cai doente da próstata
Diz: - Eu não tenho coragem
Em ver o médico fazer
No meu reto espionagem
Prefiro morrer sem jeito
Mais não quero que o sujeito
Em mim faça sacanagem

Quando quer comer, avisa
Diz pra velha: - Estou com fome
Ela faz e põe na mesa
Mas ele olha e não come
Em seguida quer café
Ela faz, ele não quer
E pra chatear se some

Na hora de se vestir
Pega a calça e dá um nó
Veste a camisa ao avesso
Diz que é um paletó
Põe o chinelo no pé
Na cabeça, um boné
E diz: - Eu vou ao forró

Mas devido à caduquice
Pensa ainda em namorar
Veste a roupa e sai de casa
Na intenção de arranjar
Uma morena novinha
Cheirosa e bem bonitinha
Só pras mãos ele passar

Mas lá na zona não sabe
O que ali foi fazer
Senta-se ao pé da mesa
Dizendo que tem prazer
Em ver àquelas meninas
Todas com roupas e botinas
Mas nada pode fazer

Quem não quiser sofrer muito
Peça a Deus pra perecer
Antes dos setenta anos
Só pra vida não sofrer
Pois se chegar aos oitenta
E descambar pros noventa
Vai sofrer até morrer

Se você leu e não gostou, não diga a ninguém, deixe-me pegar outro.

Biografia do autor: 

            José Mendes Pereira, filho de Pedro Nél Pereira e de Antonia Mendes Pereira. Nasceu no dia 23 de maio d 1950, no Sítio Barrinha, município de Mossoró. Os primeiros anos primários estudou na Escola Isolada de Barrinha. Concluiu o 5° ano na Casa de Menores Mário Negócio, hoje extinta.
            Em 1969, fez o exame de admissão na Escola Técnica de Comércio “União Caixeral”, e sendo aprovado, estudou o primeiro ano ginasial. E no ano seguinte, se transferiu para o Ginásio Municipal de Mossoró, onde concluiu o ginásio.
            Em 1973, matriculou-se na Escola Estadual Jerônimo Rosado, e em 1975 concluiu o 2° grau cientifico, nos dias de hoje, ensino médio.
            Em 1976, inscreveu-se no concurso vestibular da Fundação Universidade Regional do Rio Grande do Norte (FURRN), atual (UERN), em 1981, formou-se pelo Instituto de Letras e Artes da referida universidade.
            Funcionário público Estadual, Professor aposentado, tendo trabalhado nas escolas: Escola Estadual Professor Manoel João, Escola Estadual José Martins de Vasconcelos e na Escola Estadual Antonio de Souza Machado. Não é poeta.  Faz algumas estrofes por intuição.


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